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Produção mostra cantor por inteiro
DE NOVA YORK
Problemas à parte, "Ray" tem
um mérito: mostrar o ícone da
soul music norte-americana com
todos os seus defeitos, adultérios e
vício em heroína incluídos e ainda
assim contar com a aprovação do
próprio. Vem daí e da atuação
magistral de Jamie Foxx a força
do filme.
O diretor Taylor Hackford, cujo
currículo inclui da pérola "Quando Éramos Reis" ao fraco "Prova
de Vida", carregou a mão no drama, o que faz metade da platéia se
levantar em meio a soluços e lágrimas. Não é para tanto. A última coisa que Ray Charles inspira
é piedade e tristeza. A pujança de
sua música move a atuação de
Foxx -ele também um músico- que parece ter encontrado
um meio de traduzir cada acorde
em uma nuance de personalidade
do mito.
Não espere, apesar da dosagem
de carga dramática, uma fábula
de sucesso. O cenário é árido -a
luta pelos direitos civis dos negros
americanos-, e o roteiro às vezes
escorrega ao compô-lo, simplificando mais do que o desejável alguns episódios.
O filme pega Ray da infância
paupérrima no sul dos EUA, marcada pela morte trágica do irmão
caçula e pelo glaucoma juvenil
que o levou à cegueira aos sete
anos, e o acompanha até os anos
70, quando já era um mito para a
música, mas ainda sofria para lidar com a sua vida pessoal. Sua
prisão por uso de heroína, o período que passou em uma clínica
de desintoxicação e os casos extraconjugais estão todos ali, presentes e atuantes, da mesma forma que estão em sua música.
"Eu vi como ele trabalha e
quantos problemas teve, a dificuldade de construir sua carreira nos
anos 60, a coragem que ele precisou ter e como precisou enfrentar
seus demônios", disse Foxx em
uma entrevista em outubro à Folha. "É um ponto de vista diferente se formos ver pelo que ele passou, de onde ele veio. Isso ajuda a
nos conectarmos com o homem."
Pois a conexão foi perfeita.
(LC)
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