São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

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ARTES CÊNICAS

Em "Contos Pequenos", os atores e mímicos Hugo Suarez e Ines Pasic exploram os pés, mãos e barrigas

Com o corpo, dupla peruana concede vida para bonecos

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A sociedade que dita o culto ao corpo é a mesma que o abandona. Desconhecemos aquele que nos "hospeda" em vida. São percepções, paradoxos que vêm da conversa com o ator e mímico peruano Hugo Suarez. Ele transforma partes do corpo (pés, mãos, barriga, cotovelo etc.) em bonecos de carne e osso.
"O corpo é o espaço da resistência cultural. É o que nos resta frente à tecnologia: voltar-se para o universo infinito do corpo, redescobri-lo", diz Suarez, 52.
Ele e a mulher, Ines Pasic, 41, estão em São Paulo para cinco apresentações gratuitas de "Contos Pequenos", de hoje a domingo, no Teatro Popular do Sesi, encerrando a programação dos 40 anos do espaço.
O espetáculo é costurado por 15 quadros, com cerca de três minutos cada um, nos quais brotam personagens dos corpos dos intérpretes. São micro-histórias que não encerram uma narrativa em si, mas versam sobre sonhos, frustrações, êxitos e fracassos da condição humana, quer dramática, cômica, tragicômica.
"E sempre expressada de forma poética", ressalta Suarez. O duo se autodirige e assume os demais elementos da cena (luz, figurino). O palco fica nu.
A montagem cria personagens pitorescos e divertidos, seres até então escondidos, à margem da vida cotidiana, projetados aqui em diversas situações.
Essa apropriação minimalista do corpo como suporte absoluto no trânsito entre as linguagens tradicionais do boneco e da mímica teve início em 1986, quando Suarez e Ines montaram "Regresso à Obscuridade", espetáculo no qual faziam uso apenas das mãos.
Anos depois, o duo se debruçou sobre outras partes do corpo e concebeu "Contos Pequenos", um mosaico que surpreende pela ressignificação de braços e joelhos, por exemplo. São poucos os recursos agregados, como um tecido e um traço colorido sobre a pele.
Já que a arte da mímica dá o tom, a palavra não tem vez. Ora a dupla está em cena, ora Suarez atua sozinho. Segundo ele, exige-se bastante fisicamente.
É preciso treinamento diário para atingir posições, flexões, enfim, dar conta do que se quer comunicar por meio do corpo.
Casados há 20 anos, pais de duas crianças com oito e cinco anos, Suarez e Ines (de ascendência bósnia) agradam aos públicos adulto e infantil.
Eles moram em Lima, capital do Peru, e já participaram de festivais no Brasil (Londrina, Belo Horizonte) e em outros países, sempre carregando o mínimo na mala e o máximo de teatro no corpo, esse veículo-mor. E amoroso.


CONTOS PEQUENOS. Com: Hugo Suarez e Ines Pasic. Onde: Teatro Popular do Sesi - sala Osmar Rodrigues Cruz (av. Paulista, 1.313, próximo ao metrô Trianon-Masp, tel. 0/xx/11/3146-7405). Quando: de hoje a sáb., às 20h; e dom., às 16h e às 19h; até domingo. Quanto: entrada franca (retirar ingresso com uma hora de antecedência no próprio local).


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