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ARTES CÊNICAS
Em "Contos Pequenos", os atores e mímicos Hugo Suarez e Ines Pasic exploram os pés, mãos e barrigas
Com o corpo, dupla peruana concede vida para bonecos
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A sociedade que dita o culto ao
corpo é a mesma que o abandona.
Desconhecemos aquele que nos
"hospeda" em vida. São percepções, paradoxos que vêm da conversa com o ator e mímico peruano Hugo Suarez. Ele transforma
partes do corpo (pés, mãos, barriga, cotovelo etc.) em bonecos de
carne e osso.
"O corpo é o espaço da resistência cultural. É o que nos resta frente à tecnologia: voltar-se para o
universo infinito do corpo, redescobri-lo", diz Suarez, 52.
Ele e a mulher, Ines Pasic, 41, estão em São Paulo para cinco apresentações gratuitas de "Contos
Pequenos", de hoje a domingo,
no Teatro Popular do Sesi, encerrando a programação dos 40 anos
do espaço.
O espetáculo é costurado por 15
quadros, com cerca de três minutos cada um, nos quais brotam
personagens dos corpos dos intérpretes. São micro-histórias que
não encerram uma narrativa em
si, mas versam sobre sonhos, frustrações, êxitos e fracassos da condição humana, quer dramática,
cômica, tragicômica.
"E sempre expressada de forma
poética", ressalta Suarez. O duo se
autodirige e assume os demais
elementos da cena (luz, figurino).
O palco fica nu.
A montagem cria personagens
pitorescos e divertidos, seres até
então escondidos, à margem da
vida cotidiana, projetados aqui
em diversas situações.
Essa apropriação minimalista
do corpo como suporte absoluto
no trânsito entre as linguagens
tradicionais do boneco e da mímica teve início em 1986, quando
Suarez e Ines montaram "Regresso à Obscuridade", espetáculo no
qual faziam uso apenas das mãos.
Anos depois, o duo se debruçou
sobre outras partes do corpo e
concebeu "Contos Pequenos",
um mosaico que surpreende pela
ressignificação de braços e joelhos, por exemplo. São poucos os
recursos agregados, como um tecido e um traço colorido sobre a
pele.
Já que a arte da mímica dá o
tom, a palavra não tem vez. Ora a
dupla está em cena, ora Suarez
atua sozinho. Segundo ele, exige-se bastante fisicamente.
É preciso treinamento diário
para atingir posições, flexões, enfim, dar conta do que se quer comunicar por meio do corpo.
Casados há 20 anos, pais de
duas crianças com oito e cinco
anos, Suarez e Ines (de ascendência bósnia) agradam aos públicos
adulto e infantil.
Eles moram em Lima, capital do
Peru, e já participaram de festivais
no Brasil (Londrina, Belo Horizonte) e em outros países, sempre
carregando o mínimo na mala e o
máximo de teatro no corpo, esse
veículo-mor. E amoroso.
CONTOS PEQUENOS. Com: Hugo
Suarez e Ines Pasic. Onde: Teatro Popular
do Sesi - sala Osmar Rodrigues Cruz (av.
Paulista, 1.313, próximo ao metrô
Trianon-Masp, tel. 0/xx/11/3146-7405).
Quando: de hoje a sáb., às 20h; e dom., às
16h e às 19h; até domingo. Quanto:
entrada franca (retirar ingresso com uma
hora de antecedência no próprio local).
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