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Artista criou suas próprias regras musicais
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Morreu Severino Dias de
Oliveira, paraibano, 76 anos,
albino e estrábico. Morreu
Sivuca, gênio da música brasileira, maior que definições
ou explicações. Sivuca sempre foi muitos, desde que, aos
nove anos, embalava festas
de casamento em sua Itabaiana natal. Fazia aulas sérias de música, mas fugia para cantar em serenatas. Sanfoneiro, era mestre do forró e
animava qualquer baile.
Acordeonista, era artista sofisticado que tocava com
qualquer músico do mundo.
Sivuca fazia sua própria
música, com suas próprias
regras. Baião, bossa nova,
jazz, samba, funk, choro, música africana, música européia. Com genialidade musical, carisma, senso de humor
e simplicidade, conquistou o
mundo: morou em Lisboa e
Nova York, tocou com africanos, franceses, americanos e
suecos. Nordestino, era cidadão do mundo.
Arranjador, orquestrador,
compositor, pianista, violonista, guitarrista, aprendeu
tudo de ouvido e de paixão
pela música. Estudou para se
aprimorar, sem perder o
frescor da música da alma.
Ultimamente, dedicava-se à
música erudita, injetando o
suingue da música das ruas
nas câmaras de concerto.
Músico impressionante,
pessoa discreta, Sivuca esteve por trás de músicas que fazem parte de nosso inconsciente, mesmo que não estivéssemos conscientes da figura dele. Além de suas próprias músicas e discos, foi o
responsável por sucessos
mundiais de Miriam Makeba, cantora de "Pata Pata".
Sem ter ouvido direito o resultado, emprestou aos Mutantes música que eles retrabalharam, mantendo o lirismo: "Adeus, Maria Fulô".
Filho de sapateiros, músico que começou tocando nas
rádios quando nem tinha rádio em casa, impressionava
quem o ouvisse pela velocidade de seus dedos e de seu
pensamento musical.
Adulto, virou músico de
espetáculos americanos,
acompanhante de cantores e
instrumentistas. Nunca precisou se impor sobre quem
acompanhava: sabia de suas
qualidades e que podia mostrá-las assim, só com a música e o espaço que os colegas
lhe concedessem.
Ser albino ajudou
Figura ímpar, simpática,
cheia de senso de humor,
certa feita disse, rindo, em
entrevista ao site Gafieiras:
"Duas coisas me ajudaram
bastante. Uma: o nome. Outra: o fato de ser albino. Porque tem gente que toca muito bem, mas não é albina."
Impossível de classificar e
categorizar em algumas palavras, Sivuca fazia mais que
música nordestina ou brasileira: fazia música sua, do
mundo, para o mundo. Sempre foi muitos, sempre com a
simplicidade.
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