|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
A atriz Isabel Sarli estréia dia 18, no teatro Atlas, em Mar del Plata, musical humorístico intitulado "Tetanic"
Dama do erotismo argentino está de volta
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
Senhora de uma exuberância
corporal e de um "à vontade" frente às câmeras que a censura argentina do ciclo militar reputava como
explosivas -e que proibiu como
pôde-, Isabel Sarli, nascida em
"algum momento dos anos 30",
encena um novo retorno, desta vez
no teatro.
Pela primeira vez ao vivo, a grande dama do cinema erótico latino-americano dos anos 60 e 70 e seu
generoso par de seios, celebrado à
exaustão em filmes distribuídos
pela Columbia em todo o mundo,
estarão flutuando mais uma vez na
linha dos olhos das platéias.
Sarli está em "Tetanic", musical
humorístico que estréia em Mal
del Plata dia 18 (teatro Atlas), onde
fica até março, para depois cumprir carreira em Buenos Aires (teatro Astral, abril a outubro de 99).
Na entrevista a seguir, concedida
à Folha, Sarli explica sua ausência
das telas, entre 81 e 96, e recorda fatos de sua carreira. Apesar de ajudar a dar título à paródia musical,
com seus vastos seios, ela afirma
não ter visto "Titanic", o filme.
"Não vi, porque morre muita gente, e isso não me atrai."
Folha - O que é "Tetanic"?
Isabel Sarli - É uma paródia do
filme. Colocaram esse título porque eu e a vedete argentina Moria
Casan temos muito busto. Nós somos as "tetanics". O cenário traz
um grande navio, e eu interpreto e
danço um pouco. Há uma expectativa da imprensa, e teremos às vezes três récitas num dia.
Folha - O que recorda do Brasil?
Sarli - Sempre tive muito público
no seu país, desde o início. Com
"Favela", me tornaram cidadã honorária carioca. Tudo era baseado
na música "Conceição". Na ilha de
Paquetá filmei "La Leona", com
uma canção muito bonita de Monsueto: "Se você não me queria..."
(canta). Depois veio "Êxtase Tropical", no Guarujá e em Santos, e
me fizeram cidadã paulista.
Estive também na Mostra de Cinema de São Paulo de 96, com o filme "A Dama Regressa". Em 97, no
Festival de Gramado, deram-me o
Kikito de Ouro pela carreira. No
mesmo ano, em Madri, me homenagearam, junto a Maria Félix e
Marcello Mastroianni, e o mesmo
aconteceu no Paraguai.
Folha - Como começou tudo isso?
Sarli - Acho que fui a primeira
atriz da América do Sul que se despiu totalmente em frente à câmera.
Saí na "Time", "Life", "Playboy",
todo lugar. Foi no filme "El Trueno
entre Las Hojas" (57), versão de
um livro do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos.
Não deixavam o filme estrear,
alegando que mostrava coisas que
não havia no país, a exploração do
homem pelo homem no meio da
selva. Interpretei a mulher de um
fazendeiro. Ela se apaixonava por
um peão e terminava morta pelo
marido. Era muito lindo.
Folha - A censura prejudicava
muito?
Sarli - Sim. Até trocaram o título
de "Intimidades de uma Prostituta" (71), um sucesso brutal no Japão, para "Intimidades de uma
Qualquer". Armando (Bo) sempre
lutou muito com a censura, e na
década de 70 aparecemos numa
lista de morte da Aliança Anticomunista Argentina, por "nefasta
influência sobre o povo argentino
e comportamento obsceno".
Certa vez, fomos convidados a
uma festa das três armas, e um tal
padre Zafaroni ofendeu-me, por
causa de meu decote. Dei-lhe uma
cacetada, e ele caiu de costas, sobre
uma mesa de sanduíches. Declarei
a todos que a culpa era minha, e
não de Armando. Por sorte o comodoro que mandava no Instituto
de Cinema me deu perdão.
Folha - Isso durou até quando?
Sarli - Em 80, ficou pronto "Insaciável", e o general-presidente
Leopoldo Galtieri, o mesmo da
Guerra das Malvinas, disse que o
filme tinha de ser "cortado na vertical". Só estreou em 83.
Folha - Por que a preferência por
cenários naturais?
Sarli - Eu e Armando amávamos
a natureza. Filmamos nas praias
desertas da Venezuela, Cataratas
do Iguaçu, em Ushuaia, cidade
caindo do mapa na Patagônia. Em
minha casa, com jardim de 1.200
m2, tenho dez cães, 50 gatos castrados, quatro papagaios, uma arara,
sete tartarugas. Convidaram-me
para filmar em Londres e em
Hollywood, mas nunca quis. O diretor Robert Aldrich ("Os Doze
Condenados") queria contratar-me por oito anos, o gordinho.
Folha - Por que se ausentou tanto tempo das telas?
Sarli - Com a morte de Armando
Bo, em 81, e também de mamãe,
tudo acabou. Antes de voltar, com
o diretor Jorge Polaco ("A Dama
Regressa", 96), quase morri. Em
92, estive em coma por três dias e
me operaram, tirando um tumor
da cabeça. Agora estou perfeita.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|