São Paulo, Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2000


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O pop melado, do Roxy Music ao Bryan Ferry 2000

Reprodução
O Roxy Music paramentado e equipado, em 1973, na formação Brian Eno, Phil Manzanera, Bryan Ferry, Andrew Mackay e Paul Thompson



Sai em CD obra da banda inglesa e de seu líder, que lança disco "As Time Goes by"


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Houve época na história do pop em que o romantismo era voga. No auge dessa era -entre 1972 e 1975- e no centro dessa intenção, houve a banda inglesa Roxy Music e houve seu líder, crooner do ultra-romantismo com glamour, Bryan Ferry, hoje 54.
Essa história está sendo honrada, apenas no mundo desenvolvido, com a reedição em CD das discografias completas do RM e de Ferry, mais um novo disco solo do cantor, chamado "As Time Goes by" (leia texto abaixo). A gravadora responsável pela escavação é a Virgin, mas a subsidiária brasileira se faz de morta, para variar.
Falta de romantismo à parte, seria tempo propício para a reeducação, agora que está em cartaz nos cinemas daqui -com estrondoso atraso- o filme inglês "Velvet Goldmine" (98), de Todd Haynes, que retrata justamente o grito do glam -ou glitter- rock.
Se plumas, purpurina, maquiagem, roupas escandalosas e pansexualismo caracterizaram o glam -David Bowie, Marc Bolan & T.Rex, Gary Glitter e Alice Cooper, entre outros, fizeram a história-, lado a lado com rock'n'roll com pretensões de elegância, Roxy Music integrou a cena quase como um apêndice.
Pois pansexualismo e revolução sexual, ainda que fizessem pano de fundo ali, não eram seu ponto G. Formada em 1971, de um núcleo de estudantes de arte que incluía, além de Ferry, o futuro multimúsico Brian Eno, hoje 51, a banda servia na bandeja a proposta -desde então muitas vezes negada e/ou caricaturizada- de esfregar arte na música pop.
O RM fazia-se, assim, versão à inglesa do ideário Velvet Underground, de Lou Reed e John Cale (mais o artista plástico e "papa pop" Andy Warhol atrás da cortina); Bryan e Brian tinham atrás de sua cortina o também artista pop Richard Hamilton e seguiam passos ideológicos do VU.
Como no Velvet, a química entre Ferry (um Elvis Presley de salto alto, mas sempre mantendo pose de macho) e Eno (o agente do desbunde, todo plumas e paetês) foi fundamental para a constituição de um estilo Roxy -capas programáticas quase sempre ornamentadas por belas e lânguidas modelos, exposição do glamour decadente do pop, romantismo cravejado de ironia, um formato combustivo -e até então inédito- de rock'n'roll jazzificado, cheio de circunvoluções e seções dentro de cada canção.
Do atrito viria a faísca, claro. Eno resistiu no grupo por apenas dois álbuns, à medida mesma em que Ferry, já obcecado por seu potencial de crooner, entremeava o trabalho Roxy de investidas solo fundadas na reinterpretação de clássicos da soul music.
Sem Eno na gangorra, Roxy Music foi cada vez mais tomando a cara de Ferry, a ponto de, em 80, aderir às releituras de clássicos soul, em detrimento do estilo e do som Roxy. Ainda houve "Avalon" (82), mas aí Bryan já abdicava da grandeza do "roxyismo", enquanto hordas de roqueiros góticos dos 80 faziam dele modelo máximo do que ficou conhecido como o gênero new romantic.
Dessa leva saíram Soft Cell, Duran Duran, Depeche Mode, Spandau Ballet, Simple Minds, Adam Ant, OMD, Gene Loves Jezebel, A-Ha, dúzias de outros.
Após o fim definitivo do RM, em 83, Ferry reengatou carreira solo, agora contaminado pelo espírito new romantic que ajudaria a corroer sua imagem. Aí -lá- está recontada, em 19 discos velhos e um novo, a história do velho e irrecuperável romântico.


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