Tanto falaram que resolvi dar uma olhada nesse livro "Mulher Solteira Procura Homem Impotente para Relacionamento Sério". É a história de uma corretora de seguros, mulher independente e moderna, que se cansou dos homens que só pensavam em sexo e a importunavam todas as noites, correndo excitados atrás dela.
Colocou um anúncio no jornal buscando homens impotentes, pois assim teria chances de uma relação mais sensível, sem a pressão sexual.
Logo de cara, você vê que o livro não se preocupa muito com descrições nem em desenvolver aquelas linhas vitais que fazem a gente acreditar no personagem. O ritmo é de best seller, e o que interessa é a trama, o encontro de Carmen Legg -a corretora de seguros- com os homens impotentes que respondem ao seu anúncio.
Minha primeira dificuldade em aceitar a trama foi com a rapidez com que Carmen Legg chega à conclusão de que só há dois tipos de homens: os que correm excitados, todas as noites, atrás de suas mulheres, e o que são impotentes.
Todos sabemos que não é essa a realidade do norte da Europa ou mesmo dos países latinos. Há pessoas com diferentes frequências na busca das relações sexuais. Carmen poderia buscar homens que só fazem uma vez por semana, outros que fazem quinzenalmente ou, se quisesse radicalizar, poderia até encontrar um homem bissexto.
Se ela fizesse isso, diria a autora, a história não aconteceria. Tudo bem, mas, se ela chegasse aos homens impotentes por meio de uma longa caminhada, a coisa talvez ficasse mais verossímil -ainda não seria real, mas a vida pulsaria nas páginas do livro.
Aliás, a vida de Carmen Legg é um pouco desinteressante. Com exceção de uma vizinha octogenária, os outros personagens desfilam meio sem graça pelo livro. Nessa atmosfera tediosa, sem contato com o mundo real das pessoas que sofrem e lutam pelo pão de cada dia, é meio estranho pensar que todas as noites os homens correm de pau duro atrás de suas mulheres. A falta de contato humano e o desinteresse parecem ser uma decorrência mais lógica do cotidiano desses alemães da alta classe média.
A aposta de Carmen, se olhamos o livro com um certo distanciamento, é uma aposta errada. Aparecem vários homens impotentes querendo se relacionar com ela. Uns querem sair à noite, outros propõem viagens ao exterior, e ela gasta um tempo enorme para administrar tantas relações e suscetibilidades. De um ponto de vista de pura economia energética, seria mais fácil dar uma corridinha todas noites de um homem excitado, tomando o cuidado de tropeçar de vez em quando, porque ninguém é de ferro.
Isso fica claro no livro, porque Carmen, quando se interessa realmente por um homem impotente, começa a planejar uma inversão de seu estado, isto é, começa a sonhar em tê-lo na cama.
Não é correto reescrever um livro ao comentá-lo. No entanto, minha sugestão é que a realidade estivesse um pouco mais próxima. Se Carmen fosse, o que seria mais provável, uma mulher desapontada com o desinteresse de homens que tomam muita cerveja, trabalham muito e não querem fazer o amor, ficaria mais verossímil colocar um anúncio buscando homens impotentes. Isto daria a ela a ilusão de que é extremamente desejada e que agora precisa de umas férias. E seria também a base do plano: converter o homem impotente a uma atividade sexual daria a Carmen, pelo menos, o mérito de ter sido a autora do milagre, com possibilidades de controlar a frequência e velocidade com que ele correria atrás dela nas noites geladas.
No fundo, a autora sabia que a idéia traria interesse. E que os leitores devorariam o livro à espera do momento em que o homem impotente não resistisse aos encantos de Carmen e acontecesse o que acontece em quase todos os livros e filmes. Que acontecesse, como dizia Stanislaw Ponte Preta, o inevitável.
Em matéria de histórias que estimulam essa curiosidade sexual, prefiro títulos mais clássicos, como "Férias com Minha Tia", "Papai Noel das Arábias", "O Ladrão Que Invadiu Nossa Casa".
Mas existe uma grande maré de livros tratando homens e mulheres de uma forma genérica, "Homens São de Marte, Mulheres São de Vênus", "Como Enlouquecer um Homem na Cama"... "Mulher Solteira...", em meu entender, está inserido nessa onda, com uma idéia original. Assim como os homens e mulheres genéricos, ninguém tem uma existência real, são apenas símbolos toscos, tentativas apressadas de captar unilateralmente realidades que a arte (literatura, teatro e cinema) tratou com sensibilidade e talento.
Se o resultado do pavor de ver um homem excitado correndo atrás dela foi esse livro, minha tendência é torcer para que, na próxima, Carmen Legg quebre a perna. Bastaria um ligeiro ajuste no nome: Carmen Brokenlegg.


"Mulher Solteira Procura Homem Impotente para Relacionamento Sério", Gaby Hauptmann. Editora Rocco (tel. 0/ xx/21/ 507-2000). R$ 25 (303 págs.).


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