São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2002

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'O Ébrio' reabilitado

Cópia restaurada do filme estrelado por Vicente Celestino e dirigido por Gilda de Abreu em 1946 tem exibições em SP e na França

Divulgação
Vicente Celestino interpreta o médico Silva, que se refugia no álcool depois da traição da mulher e vê a carreira desabar


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele tem nome Gilberto e sobrenome Silva, como o mais típico dos brasileiros. Mas é pela alcunha de "O Ébrio" que se notabilizou o personagem interpretado no cinema pelo cantor Vicente Celestino, que reencontra hoje o público brasileiro e se apresenta em março à platéia francesa.
Aqui, a cópia restaurada do filme dirigido em 1946 por Gilda de Abreu, mulher de Celestino, inaugura o projeto de exibição de clássicos brasileiros recuperados, no Sesc Ipiranga. Na França, o título participa do Festival Internacional do Cinema no Feminino, que ocorre na cidade de Bordeaux.
Produzido pela empresa cinematográfica Cinédia, de Adhemar Gonzaga, "O Ébrio" foi sucesso de público com sua "história simples, com começo, meio e fim", na definição de Alice Gonzaga, filha do fundador dos estúdios e sua atual diretora-superintendente.
A história é a de um rapaz (Celestino) que supera a pobreza pela via da instrução formal, ganha prestígio e dinheiro com a prática da medicina, para depois perder tudo e se entregar ao vício do álcool diante da traição da mulher.
Antes da projeção de hoje, Alice Gonzaga conversará com o público sobre os bastidores das filmagens. Pretende contar curiosidades como as determinadas pelas agruras do período de guerra mundial -"Não havia filme suficiente, e muitas cenas foram gravadas em negativos de som"- e ressaltar participações que a ausência de memória conduziu ao segundo plano -"Quem vive o empregado do padre é Luiz Soberano, um grande compositor".
A restauração de "O Ébrio" custou R$ 150 mil e foi concluída em 98. É a primeira vez que a nova cópia será exibida em São Paulo. Do total de 55 filmes do acervo da Cinédia, 23 necessitam de restauração. Uma -a de "Alô, Alô, Carnaval"- está em curso, ao custo de R$ 267 mil.
Para enfatizar a ameaça de perda das matrizes, Gonzaga sugere: "Essa iniciativa do Sesc é admirável, até porque ninguém mais quer exibir filmes em preto-e-branco, mas poderiam fazer também a mostra "Filmes que Você Verá pela Última Vez", com os títulos sem restauração garantida".
Lídia Tolaba, coordenadora de programação do Sesc, diz que a sessão de "O Ébrio" servirá como "experiência-piloto" ao projeto de exibir, uma vez por mês, um clássico brasileiro restaurado.
"Queremos ter a premissa da primeira exibição depois de concluído o restauro. Estamos pesquisando os trabalhos em andamento e por isso ainda não é possível anunciar a programação."
No departamento de restauração dos laboratórios Labocine, no Rio, a obra de Nelson Pereira dos Santos, expoente do cinema novo, começa a ser afastada do perigo a partir de abril. Antes, a equipe de profissionais comandada por Chico Moreira deve concluir a recuperação de "Alô, Alô, Carnaval", de Adhemar Gonzaga, e de "Menino de Engenho", de Walter Lima Jr.
A recuperação de 17 longas e dois médias de Nelson Pereira começará pelo antológico "Vidas Secas" (63), que ganhará de volta, pelas mãos do cineasta, a marcação de luz que o tempo e intervenções incorretas lhe haviam roubado. O orçamento total do projeto, que tem patrocínio da BR e do Labocine, é de R$ 1,2 milhão.
"Estou muito contente. É maravilhoso permitir que o filme continue vivendo", diz o cineasta.


O ÉBRIO - exibição do filme de Gilda de Abreu, antecedida de bate-papo com Alice Gonzaga e seguida de serestas com Edu Maia e o Bando da Macambira. Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo, tel. 0/xx/11/3340-2000). Quando: hoje, a partir das 19h. Quanto: entrada franca.


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