São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Marcelo Araujo assume direção do museu na Luz e quer enfocar produção nacional em 2003

Pinacoteca vai se voltar para o Brasil

ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o novo diretor da Pinacoteca do Estado, Marcelo Araujo, 45, tomar posse, no próximo domingo, deverá começar uma etapa diferente na evolução do mais antigo museu de arte de São Paulo. "O foco da Pinacoteca tem de ser a produção brasileira", afirma o museólogo.
Sem fazer críticas ao antecessor, Emanoel Araújo, a quem credita a conquista de respeitabilidade e de credibilidade para a instituição -"sem a qual não é possível funcionar"-, ele diz que gostaria que as exposições a partir de 2003 (as deste ano já estão programadas) se voltassem para a realidade nacional. "Mesmo quando trago um quadro de Picasso, preciso deixar clara a importância dele para o desenvolvimento da pintura no Brasil", explica.
A longa gestão que se encerra (começou em 1992) ficou conhecida pela realização de megaexposições estrangeiras e pela aquisição de obras centrais da arte ocidental, como as esculturas de Auguste Rodin (1840-1917).
Já as idéias que o segundo Araujo levará para a equipe da Pinacoteca -"o projeto deve ser definido pela instituição e não pelo diretor de modo isolado", insiste ele- têm como norte "construir a história da arte no Brasil".
"A primeira linha de atividades que pensei diz respeito a momentos importantes do processo cultural de São Paulo." Nessa vertente, ele sugere, entre outras, uma mostra sobre o Liceu de Artes e Ofícios, que foi a primeira escola de artes plásticas na cidade. Não por acaso, a própria Pinacoteca funcionou por muito tempo anexa ao Liceu.
Uma segunda linha de iniciativas se orientaria para a realização de retrospectivas de artistas brasileiros em atividade, porém com longa e importante trajetória no panorama nacional. Araujo cita, a título de exemplo, Eduardo Sued, Lygia Pape, Regina Silveira e Ana Maria Maiolino. "Essas exposições ajudam na construção da história da arte no Brasil."
A terceira fonte de cultura que Araujo gostaria de levar para a Pinacoteca é a que está escondida em coleções particulares. "Elas contêm obras quase nunca expostas e de grande valor."
Um desses acervos não abertos ao público, por exemplo, pertence à Fundação Ema Klabin, em São Paulo, e abriga quadros de monstros sagrados da pintura brasileira como Tarsila do Amaral (1886-1973), Emiliano di Cavalcanti (1897-1976) e Cândido Portinari (1903-1962), além de obras do renascimento italiano e arte holandesa do século 17 e 18, inclusive uma paisagem de Olinda (PE) pintada por Frans Post.
"Esse tipo de colecionismo é um dado importante do processo cultural brasileiro", afirma o museólogo para justificar também a apresentação de objetos, como os do renascimento italiano, que não tiveram relação direta com a evolução artística local.
Apesar da ênfase na formação histórica da arte brasileira, o novo diretor da Pinacoteca não descarta o diálogo com os produtores contemporâneos. "Se o museu não desenvolver uma reflexão sobre isso, vai se fossilizar", diz.
Mas expor e adquirir obras de artistas que começaram há pouco requer um cuidado adicional, uma vez que a proximidade no tempo dificulta o julgamento. "Quero criar uma equipe multidisciplinar, com gente de dentro e de fora da instituição, para pensar a respeito disso."
Mesmo com a existência de museus como o de Arte Contemporânea (MAC) e o de Arte Moderna (MAM) na cidade, ele pensa que a Pinacoteca não deve se afastar das manifestações recentes.
No entanto, uma das principais propostas de seu mandato é a de criar um fórum para discutir a articulação entre essas entidades, de modo que cada uma possa desenvolver melhor a própria vocação. Ele imagina chegar até mesmo a uma troca de acervos entre elas.
"A Pinacoteca é estratégica para articular as instituições, por ser a mais antiga, por estar em um lugar central da cidade e por pertencer à Secretaria de Estado da Cultura, onde já estão o Museu de Arte Sacra, o Museu da Imigração, o Museu da Casa Brasileira e o Museu da Imagem e do Som", afirma o novo diretor.


Texto Anterior: Artes visuais: Cartazes russos vendem de revolução a biscoitos
Próximo Texto: Novo diretor conclui tese sobre a instituição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.