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ARTES PLÁSTICAS
Marcelo Araujo assume direção do museu na Luz e quer enfocar produção nacional em 2003
Pinacoteca vai se voltar para o Brasil
ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o novo diretor da Pinacoteca do Estado, Marcelo Araujo, 45, tomar posse, no próximo
domingo, deverá começar uma
etapa diferente na evolução do
mais antigo museu de arte de São
Paulo. "O foco da Pinacoteca tem
de ser a produção brasileira", afirma o museólogo.
Sem fazer críticas ao antecessor,
Emanoel Araújo, a quem credita a
conquista de respeitabilidade e de
credibilidade para a instituição
-"sem a qual não é possível funcionar"-, ele diz que gostaria
que as exposições a partir de 2003
(as deste ano já estão programadas) se voltassem para a realidade
nacional. "Mesmo quando trago
um quadro de Picasso, preciso
deixar clara a importância dele
para o desenvolvimento da pintura no Brasil", explica.
A longa gestão que se encerra
(começou em 1992) ficou conhecida pela realização de megaexposições estrangeiras e pela aquisição de obras centrais da arte ocidental, como as esculturas de Auguste Rodin (1840-1917).
Já as idéias que o segundo Araujo levará para a equipe da Pinacoteca -"o projeto deve ser definido pela instituição e não pelo diretor de modo isolado", insiste
ele- têm como norte "construir
a história da arte no Brasil".
"A primeira linha de atividades
que pensei diz respeito a momentos importantes do processo cultural de São Paulo." Nessa vertente, ele sugere, entre outras, uma
mostra sobre o Liceu de Artes e
Ofícios, que foi a primeira escola
de artes plásticas na cidade. Não
por acaso, a própria Pinacoteca
funcionou por muito tempo anexa ao Liceu.
Uma segunda linha de iniciativas se orientaria para a realização
de retrospectivas de artistas brasileiros em atividade, porém com
longa e importante trajetória no
panorama nacional. Araujo cita, a
título de exemplo, Eduardo Sued,
Lygia Pape, Regina Silveira e Ana
Maria Maiolino. "Essas exposições ajudam na construção da
história da arte no Brasil."
A terceira fonte de cultura que
Araujo gostaria de levar para a Pinacoteca é a que está escondida
em coleções particulares. "Elas
contêm obras quase nunca expostas e de grande valor."
Um desses acervos não abertos
ao público, por exemplo, pertence
à Fundação Ema Klabin, em São
Paulo, e abriga quadros de monstros sagrados da pintura brasileira
como Tarsila do Amaral (1886-1973), Emiliano di Cavalcanti
(1897-1976) e Cândido Portinari
(1903-1962), além de obras do renascimento italiano e arte holandesa do século 17 e 18, inclusive
uma paisagem de Olinda (PE)
pintada por Frans Post.
"Esse tipo de colecionismo é um
dado importante do processo cultural brasileiro", afirma o museólogo para justificar também a
apresentação de objetos, como os
do renascimento italiano, que não
tiveram relação direta com a evolução artística local.
Apesar da ênfase na formação
histórica da arte brasileira, o novo
diretor da Pinacoteca não descarta o diálogo com os produtores
contemporâneos. "Se o museu
não desenvolver uma reflexão sobre isso, vai se fossilizar", diz.
Mas expor e adquirir obras de
artistas que começaram há pouco
requer um cuidado adicional,
uma vez que a proximidade no
tempo dificulta o julgamento.
"Quero criar uma equipe multidisciplinar, com gente de dentro e
de fora da instituição, para pensar
a respeito disso."
Mesmo com a existência de museus como o de Arte Contemporânea (MAC) e o de Arte Moderna (MAM) na cidade, ele pensa
que a Pinacoteca não deve se afastar das manifestações recentes.
No entanto, uma das principais
propostas de seu mandato é a de
criar um fórum para discutir a articulação entre essas entidades, de
modo que cada uma possa desenvolver melhor a própria vocação.
Ele imagina chegar até mesmo a
uma troca de acervos entre elas.
"A Pinacoteca é estratégica para
articular as instituições, por ser a
mais antiga, por estar em um lugar central da cidade e por pertencer à Secretaria de Estado da Cultura, onde já estão o Museu de Arte Sacra, o Museu da Imigração, o
Museu da Casa Brasileira e o Museu da Imagem e do Som", afirma
o novo diretor.
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