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CRÍTICA
R.R. tem estilo "bossa nova" de pregação
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
O missionário Romildo Ribeiro Soares, que assina apenas R.R. Soares, praticamente
mora na televisão. Ele está em
quase todos os canais, em todos
os turnos. Sua onipresença agora
chegou ao horário nobre da rede
Bandeirantes. Lá, mantém o
"Show da Fé", com horário comprado pelos fiéis evangélicos.
"O que são R$ 30 por mês, um
real por dia", clama, ao final, para
arrecadar fundos destinados, segundo R.R., ao pagamento das
despesas com a atração na TV. O
combate ao demônio não tem
preço, como prega.
O concorrente nunca foi desprezado nas pregações de R.R.: "O
diabo faz, mas cobra com juros e
correção monetária".
O "televangelista", como se tratam os pregoeiros da TV, ajudou
o cunhado Edir Macedo a fundar,
no final dos anos 70, a Universal
do Reino de Deus. No começo dos
80, rompeu com Macedo. O cisma
deu origem à Igreja Internacional
da Graça de Deus, que já tem
emissora própria, a RIT (Rede Internacional de TV) que funciona
em UHF e parabólicas com retransmissoras em quase todo o
país.
Mas para tentar manter a onipresença, R.R. tem alugado horários também na CNT, Gazeta e
outras emissoras estaduais.
Além do "milagre" diário - os
fiéis são convocados a levar as
mãos sobre dores que "desaparecem"- R.R. causou estrago nas
afiliadas da Band. Algumas teimam, sob alegação de baixa audiência, em não retransmitir o
"Show da Fé". O programa de
Marcos Mion, "Sobcontrole", arrastado para as 21h15, também
perdeu telespectadores por causa
da proximidade com a pregação.
O pior, para Mion, é que R.R.
não possui aquela histeria pentecostal própria do gênero. Não faz
exorcismos na linha "xô capeta".
Se assim agisse, poderia até esquentar a grade para a entrada
dos anões e do circo do "Sobcontrole". O missionário prega em
uma frequência "cool", tudo muito bossa nova, muito natural.
A aparente frieza, fuga da caricatura, talvez amplie a credibilidade. O tom sobe um pouco apenas nas dramatizações levadas ao
ar. Essa semana mostrou, com
atores, uma farra de jovens góticos - "tomados pelo demônio"- nos cemitérios.
Uma garota tatuada, ex-heavy
metal, ex-gótica, havia se convertido à graça de R.R. Esse foi o motivo da dramatização. "Era um
demônio e virou um anjinho", celebrou o missionário a chegada da
nova ovelha.
Show da Fé
Quando: ter. a sáb. às 20h30, na
Bandeirantes
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