São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Evento mescla passado com produção contemporânea de 36 artistas plásticos, arquitetos e designers

Ousadia marca 50 anos da Bienal de SP

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ousadia e risco são as idéias que norteiam a exposição que irá celebrar os 50 anos da Bienal Internacional de São Paulo, em maio.
"Nós nos colocamos no lugar de Ciccillo Matarazzo, o fundador da Bienal, e planejamos como seria uma Bienal organizada por ele em 2001", conta Carlos Bratke, o presidente da Fundação Bienal. "Como Ciccillo era um homem de seu tempo, fizemos questão de inovar", completa o arquiteto.
A mostra será inaugurada no dia 23 de maio e já está com o projeto definido, agora em busca de patrocínio. A Folha teve acesso aos artistas contemporâneos já confirmados para o evento (leia quadro nesta página).
"Bienal: Os Primeiros 50 Anos" será dividida em três módulos. O núcleo Ciccillo Matarazzo, em homenagem ao criador da Bienal, irá conter uma retrospectiva de cada edição do evento com seus contextos político, econômico e cultural, vistos por meio de uma linha do tempo projetada por Chico Homem de Mello.
Já o núcleo Acervo do MAC, com curadoria de Heloise Costa, irá apresentar cerca de 40 obras do acervo do Museu de Arte Contemporânea, todas premiadas nas bienais, no período de 57 a 73, que foram doadas ao museu.
Entretanto a parte mais pulsante da comemoração será o núcleo Contemporâneo. Quatro curadores, das áreas de artes visuais (Daniela Bousso e Maria Alice Milliet), arquitetura (Pedro Cury) e design (Marili Brandão), preparam uma mostra que irá integrar todos esses meios. Eles analisaram cerca de 70 projetos e escolheram 36.
"Queremos romper com a idéia de salas isoladas e desenvolvemos um conceito em que tudo convive, como ocorre nas grandes metrópoles", diz Maria Alice.
Assim, as obras selecionadas são fruto de projetos desenvolvidos especialmente para a mostra. "É um trabalho de curadoria diferente, estamos nos adequando às sugestões dos artistas e trabalhando em conjunto para integrar os trabalhos", diz Daniela. "O importante nesta mostra é que não pensamos mais na contemplação da obra de arte, mas buscamos envolver o público, o que é a característica principal da produção contemporânea."
Por isso pode-se estranhar que não haverá pintura, por exemplo, entre as obras selecionadas. Isso ocorre porque o objetivo da mostra é explorar todos os sentidos humanos. Um exemplo: a instalação do fotógrafo Miguel Rio Branco, composta por seis projetores que apresentam imagens sobre sucatas. Assim, som, imagem e ambientação se fundem na obra, da mesma forma que a vida acontece nas metrópoles, a referência para os curadores.
Outra proposta é aproximar áreas, como o restaurante e a livraria, em geral, à parte em grandes mostras. Os designers Fernando Jaeger e Maria Teixeira Leal devem criar um bar integrado à exposição, que reflete a multiculturalidade paulista.
O arquiteto encarregado da montagem geral da exposição é o uruguaio Hector Vigliecca.
"Espero que a mostra seja também uma contribuição para o futuro; a colaboração entre artistas de vários meios é rara e pode ser incentivada a partir de agora, assim como as bienais influenciaram na história da arte brasileira", diz Bratke.
Além da exposição, a Fundação Bienal prepara três publicações. O livro "Bienal: Os Primeiros 50 Anos", um compêndio com o significado histórico da bienal, que será lançado junto com um CD-ROM contendo informações detalhadas sobre cada bienal. Esse projeto é coordenado pelo crítico Agnaldo Farias.
O livro, com cerca de 350 páginas, irá conter, segundo Farias, uma introdução em homenagem ao criador Ciccillo Matarazzo e também uma análise do percurso das bienais. "Nos anos 80 ela tinha um acesso restrito a especialistas e já nos anos 90 cresceu com a participação de um público leigo", conta o crítico. Outro tema do livro são os cartazes das bienais. "Eles traçam um panorama do desenvolvimento das artes gráficas no país."
Já o catálogo do núcleo Contemporâneo será preparado pelo webartista Jair de Souza e será lançado somente após a abertura da exposição para documentar toda a montagem da mostra.
Finalmente, também está planejado um caderno sobre o pavilhão Ciccillo Matarazzo, com detalhes sobre projeto de construção e imagens em várias épocas.
O orçamento do evento é de R$ 4 milhões. "Isso é o ideal, mas vamos realizá-lo com o que conseguirmos", diz Peter Tjabbes, o coordenador-geral do evento.


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