São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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Brasileiro terá verba do festival

MARIA CRISTINA ELIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM

"Rifa-Me", próximo filme do diretor e roteirista brasileiro Karim Aïnouz, é um dos projetos escolhidos para receber 25 mil do World Cinema Fund, programa de fomento à produção cinematográfica criado no ano passado pela Fundação Federal de Cultura Alemã e pela Berlinale (Festival Internacional do Filme de Berlim), que, até 2007, pretende investir cerca de 500 mil por ano em projetos da América Latina, da África, do Oriente Médio e da Ásia Central.
"Rifa-Me" e "El Otro", do diretor argentino Ariel Rotter, foram os únicos projetos latinos contemplados pelo programa.
Depois de ter recebido diversos prêmios pelo longa-metragem "Madame Satã", que conta a história de uma figura cult no Rio de Janeiro do começo do século passado, Aïnouz muda de estratégia e resolve, em "Rifa-Me", falar do Brasil contemporâneo por meio de uma história comum: para ir embora da cidadezinha onde mora, uma garota organiza uma rifa cujo prêmio é ela mesma.
Segundo o diretor, que encerrou uma viagem pelo sertão cearense para pesquisar locais de filmagem e personagens, a narrativa "quebra o discurso voltado para o eixo Nordeste-São Paulo". "O que move a protagonista não é a procura por trabalho, mas a necessidade de reimaginar a vida."

Inversão
O destino sonhado é Gramado, no sul do país, um lugar totalmente diferente de onde ela estava. "Rifa-Me" também busca um tratamento diferente da migração, que se dá de forma invertida. A problemática se concentra no retorno ao Nordeste e não na da ida à cidade.
Aïnouz e a equipe de produção vêem o World Cinema Fund como uma parceria ideal. Segundo o cineasta, um dos requisitos para a concessão de recursos para produções cinematográficas é, geralmente, que eles sejam gastos no país a que pertence a instituição que os concedeu. O World Cinema Fund é um dos poucos que não fazem esta imposição.
"Ter sido escolhido por esse programa é um marco que traz visibilidade à obra dentro mercado europeu, é também um capital simbólico para vida futura do filme. Além disso, é um interesse da própria Europa renovar sua cinematografia para além do eixo Europa-EUA, com formas inovadoras de narrar. Trata-se de uma troca saudável", afirma o diretor.

Trabalho em Berlim
A ligação de "Rifa-Me" com Berlim, no entanto, não acontece só no plano financeiro. Aïnouz e o co-roteirista Mauricio Zacharias passaram dois meses em Berlim trabalhando a estrutura narrativa do longa-metragem.
"Olhar o roteiro de um lugar totalmente diferente do Brasil e que induz à reflexão nos possibilitou tomar uma posição analítica em relação ao filme. Talvez no futuro faça um filme em Berlim, outro em um aeroporto na Alemanha. Adoro estar em trânsito, entre um lugar e outro", conta.
Aïnouz pretende compor em "Rifa-Me" um ensaio sobre a juventude no Brasil hoje, projeto visto com bons olhos por Berlim.


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