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Brasileiro terá verba do festival
MARIA CRISTINA ELIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM
"Rifa-Me", próximo filme do diretor e roteirista brasileiro Karim
Aïnouz, é um dos projetos escolhidos para receber 25 mil do
World Cinema Fund, programa
de fomento à produção cinematográfica criado no ano passado
pela Fundação Federal de Cultura
Alemã e pela Berlinale (Festival
Internacional do Filme de Berlim), que, até 2007, pretende investir cerca de 500 mil por ano
em projetos da América Latina,
da África, do Oriente Médio e da
Ásia Central.
"Rifa-Me" e "El Otro", do diretor argentino Ariel Rotter, foram
os únicos projetos latinos contemplados pelo programa.
Depois de ter recebido diversos
prêmios pelo longa-metragem
"Madame Satã", que conta a história de uma figura cult no Rio de
Janeiro do começo do século passado, Aïnouz muda de estratégia e
resolve, em "Rifa-Me", falar do
Brasil contemporâneo por meio
de uma história comum: para ir
embora da cidadezinha onde mora, uma garota organiza uma rifa
cujo prêmio é ela mesma.
Segundo o diretor, que encerrou uma viagem pelo sertão cearense para pesquisar locais de filmagem e personagens, a narrativa "quebra o discurso voltado para o eixo Nordeste-São Paulo". "O
que move a protagonista não é a
procura por trabalho, mas a necessidade de reimaginar a vida."
Inversão
O destino sonhado é Gramado,
no sul do país, um lugar totalmente diferente de onde ela estava.
"Rifa-Me" também busca um tratamento diferente da migração,
que se dá de forma invertida. A
problemática se concentra no retorno ao Nordeste e não na da ida
à cidade.
Aïnouz e a equipe de produção
vêem o World Cinema Fund como uma parceria ideal. Segundo o
cineasta, um dos requisitos para a
concessão de recursos para produções cinematográficas é, geralmente, que eles sejam gastos no
país a que pertence a instituição
que os concedeu. O World Cinema Fund é um dos poucos que
não fazem esta imposição.
"Ter sido escolhido por esse
programa é um marco que traz visibilidade à obra dentro mercado
europeu, é também um capital
simbólico para vida futura do filme. Além disso, é um interesse da
própria Europa renovar sua cinematografia para além do eixo Europa-EUA, com formas inovadoras de narrar. Trata-se de uma
troca saudável", afirma o diretor.
Trabalho em Berlim
A ligação de "Rifa-Me" com
Berlim, no entanto, não acontece
só no plano financeiro. Aïnouz e o
co-roteirista Mauricio Zacharias
passaram dois meses em Berlim
trabalhando a estrutura narrativa
do longa-metragem.
"Olhar o roteiro de um lugar totalmente diferente do Brasil e que
induz à reflexão nos possibilitou
tomar uma posição analítica em
relação ao filme. Talvez no futuro
faça um filme em Berlim, outro
em um aeroporto na Alemanha.
Adoro estar em trânsito, entre um
lugar e outro", conta.
Aïnouz pretende compor em
"Rifa-Me" um ensaio sobre a juventude no Brasil hoje, projeto
visto com bons olhos por Berlim.
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