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MÚSICA
Cantor e compositor lança amanhã seu novo CD no Sesc Vila Mariana; show terá projeção animada de poesias
Palavra "nutre" arranjos de Cid Campos
JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO
Combinadas, as palavras vão
além do valor semântico. Passam
pelo visual e chegam aos ouvidos
da maneira como são ditas, mas
acrescidas de acordes numa celebração à força que têm. Assim, o
músico Cid Campos, 46, cria uma
linha de comunicação com o público, nem sempre habituado à
poesia concreta, e lança amanhã
seu novo CD, "Fala da Palavra",
com um show no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.
"As pessoas estranham um
pouco quando vêem um poema
sem ouvi-lo. Mas quando ouvem,
relaxam. É um caminho de trabalhar com textos mais difíceis, com
poucas palavras, e extrair um refrão do meio de um poema", diz
Campos. "Tem muita gente que
pode se surpreender no show.
Chega lá, e é um som de banda.
Sempre há algum experimentalismo, mas o diferente é justamente
a aproximação da poesia concreta
com a possibilidade sonora."
Por conta da proximidade com
os poetas concretos -o pai Augusto de Campos, o tio Haroldo e
Décio Pignatari-, desde pequeno Cid convive com a questão da
palavra, tema que não apenas dá
nome ao CD mas que também
permeia a maioria das canções.
"[A palavra] sempre esteve no
entorno. Neste trabalho foram
surgindo, coincidentemente,
composições com esse conteúdo.
Saiu um disco que no final é o falar bem da palavra", diz.
Contudo, a influência da poesia
concreta, até então encubada,
brotou no início dos anos 90, com
a maturidade musical e o entendimento da musicalização da poesia. "Dali para cá as coisas foram
se desenvolvendo. Gosto muito
de fazer música em cima de poesia, sobretudo com a poesia que
não foi feita para ser musicada."
O melhor exemplo é a tradução
de um trecho do bilhete deixado
pelo russo Vladimir Maiakóvski
(1893-1930) antes de se suicidar,
em Moscou. No disco de Campos,
as derradeiras palavras do poeta
estão em "O Pulso da Palavra".
Da literatura barroca vem "Beijo de Amor Celeste", tradução do
trecho de um soneto do poeta alemão Quirinus Kuhlmann (1651-89), queimado vivo na Rússia
após ser denunciado como herege
pelo patriarca da Igreja Ortodoxa.
"Fala da Palavra" traz ainda
parcerias com Arnaldo Antunes,
Lenora de Barros, Walter Silveira,
Ronaldo Azeredo e João Bandeira. Em relação ao CD anterior,
"No Lado do Olho", o novo álbum é mais autoral. "Os poetas vinham e liam. Neste, eu quis fazer
uma coisa mais sozinho, a minha
leitura dos poemas. Por outro lado, ele dá continuidade à mesma
linha de trabalho pop experimental poética. São textos difíceis de
serem musicados. Só faço o que
sinto que sai com espontaneidade. Não fico quebrando a cabeça."
Mas há algum poema que "resiste" à música? "Vários... [risos].
Tem um poema do Augusto, o
"Greve" [de 1962], que eu queria
ter musicado, mas não consegui
achar uma solução", diz.
No show de lançamento do CD,
Campos incluiu três músicas do
CD anterior ("Etc...", "Máximo
Fim" e "Crisantempo"). Dez das
16 canções do repertório mostradas por Felipe Ávila (guitarra e
violão), Moisés Alves (teclado),
Jorge Marciano (percussão) e Zé
Eduardo Nazário (bateria) serão
acompanhadas por leituras visuais dos poemas, com projeções
de Grima Grimaldi. "Dá uma vida, é um outro olhar sobre a poesia", conclui.
CID CAMPOS. Lançamento de "Fala da
Palavra". Quando: amanhã, às 20h30.
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141,
tel. 0/xx/11/ 5080-3000). Quanto: R$ 5.
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