São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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MÚSICA

Cantor e compositor lança amanhã seu novo CD no Sesc Vila Mariana; show terá projeção animada de poesias

Palavra "nutre" arranjos de Cid Campos

JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

Combinadas, as palavras vão além do valor semântico. Passam pelo visual e chegam aos ouvidos da maneira como são ditas, mas acrescidas de acordes numa celebração à força que têm. Assim, o músico Cid Campos, 46, cria uma linha de comunicação com o público, nem sempre habituado à poesia concreta, e lança amanhã seu novo CD, "Fala da Palavra", com um show no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.
"As pessoas estranham um pouco quando vêem um poema sem ouvi-lo. Mas quando ouvem, relaxam. É um caminho de trabalhar com textos mais difíceis, com poucas palavras, e extrair um refrão do meio de um poema", diz Campos. "Tem muita gente que pode se surpreender no show. Chega lá, e é um som de banda. Sempre há algum experimentalismo, mas o diferente é justamente a aproximação da poesia concreta com a possibilidade sonora."
Por conta da proximidade com os poetas concretos -o pai Augusto de Campos, o tio Haroldo e Décio Pignatari-, desde pequeno Cid convive com a questão da palavra, tema que não apenas dá nome ao CD mas que também permeia a maioria das canções.
"[A palavra] sempre esteve no entorno. Neste trabalho foram surgindo, coincidentemente, composições com esse conteúdo. Saiu um disco que no final é o falar bem da palavra", diz.
Contudo, a influência da poesia concreta, até então encubada, brotou no início dos anos 90, com a maturidade musical e o entendimento da musicalização da poesia. "Dali para cá as coisas foram se desenvolvendo. Gosto muito de fazer música em cima de poesia, sobretudo com a poesia que não foi feita para ser musicada."
O melhor exemplo é a tradução de um trecho do bilhete deixado pelo russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930) antes de se suicidar, em Moscou. No disco de Campos, as derradeiras palavras do poeta estão em "O Pulso da Palavra".
Da literatura barroca vem "Beijo de Amor Celeste", tradução do trecho de um soneto do poeta alemão Quirinus Kuhlmann (1651-89), queimado vivo na Rússia após ser denunciado como herege pelo patriarca da Igreja Ortodoxa.
"Fala da Palavra" traz ainda parcerias com Arnaldo Antunes, Lenora de Barros, Walter Silveira, Ronaldo Azeredo e João Bandeira. Em relação ao CD anterior, "No Lado do Olho", o novo álbum é mais autoral. "Os poetas vinham e liam. Neste, eu quis fazer uma coisa mais sozinho, a minha leitura dos poemas. Por outro lado, ele dá continuidade à mesma linha de trabalho pop experimental poética. São textos difíceis de serem musicados. Só faço o que sinto que sai com espontaneidade. Não fico quebrando a cabeça."
Mas há algum poema que "resiste" à música? "Vários... [risos]. Tem um poema do Augusto, o "Greve" [de 1962], que eu queria ter musicado, mas não consegui achar uma solução", diz.
No show de lançamento do CD, Campos incluiu três músicas do CD anterior ("Etc...", "Máximo Fim" e "Crisantempo"). Dez das 16 canções do repertório mostradas por Felipe Ávila (guitarra e violão), Moisés Alves (teclado), Jorge Marciano (percussão) e Zé Eduardo Nazário (bateria) serão acompanhadas por leituras visuais dos poemas, com projeções de Grima Grimaldi. "Dá uma vida, é um outro olhar sobre a poesia", conclui.


CID CAMPOS. Lançamento de "Fala da Palavra". Quando: amanhã, às 20h30. Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 0/xx/11/ 5080-3000). Quanto: R$ 5.

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