São Paulo, Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mensagem é vender e vender

MARIA ERCILIA
Editora de Internet

A Internet chega à classe média em "Mens@gem para Você". Em filmes anteriores, era sempre um antro perigoso de hackers, povoado de gente solitária e esquisita.
Aqui, é um ponto de encontro seguro e respeitável, um meio legítimo de encontrar o amor da sua vida.
O avanço das grandes corporações e da tecnologia está no centro da trama, transformando a paisagem da cidade e as relações humanas.
A Fox, cadeia de lojas que arrasa os seus pequenos concorrentes, é motivo do ódio entre Meg Ryan e Tom Hanks, e a America Online os aproxima por meio de e-mails anônimos.
Por baixo do romantismo adocicado do enredo, porém, a mensagem é uma só: vender, vender, vender.
Cada passeio da câmera pelas ruas de Nova York é desculpa para o merchandising desta ou daquela loja. Cada conexão à Internet é pretexto para um comercial da America Online, provedor usado pelos dois personagens.
Café da manhã, todo mundo toma na Starbucks, uma rede de cafés. A cadeia de livrarias Fox é um clone inconfundível da Barnes and Noble, que já acabou com muita livraria de bairro nos Estados Unidos.
Tom Hanks é a personificação deste espírito: só pensa em expandir suas lojas, aniquilar a concorrência, dar descontos insuperáveis.
Ryan faz o papel da boa consciência do filme, preocupada com cultura, com a educação das crianças, com a qualidade do que vende etc.
"Mens@gem para Você" tem seus bons momentos. A diretora e roteirista Nora Ephron é uma excelente escritora de diálogos, apesar de seus enredos conservadores e românticos. Os personagens secundários aparecem pouco, mas são mais engraçados que o meloso par central.
Embora o filme ironize o império do comercialismo crasso, brutal e predatório, no final acaba por legitimá-lo.
A Internet passa de passatempo estranho e alienante a inofensivo veículo de mensagens românticas, e o empresário impiedoso é humanizado pelo amor à mocinha gentil.
À romântica e falida Meg Ryan só resta se render: ganha um namorado rico, mas perde seu negócio, que o mar está mais para tubarão que para peixinho louro de olhos azuis.


Texto Anterior: De novo Tom Hanks e Meg Ryan; de novo, só a Internet
Próximo Texto: Simpático, porém anódino
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.