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Simpático, porém anódino
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
Existem várias maneiras de
ver "Mens@gem para Você". A
primeira e mais evidente é como uma comédia romântica
em que Tom Hanks e Meg Ryan
se odeiam em tempo integral.
Não será trair o espectador
dizer que no fim os dois ficam
juntos: qualquer um que passe
perto da bilheteria é capaz de
adivinhar o final. Essa previsibilidade é um problema do filme, embora finais previsíveis
não sejam necessariamente indesejáveis.
Mas faltam a "Mens@gem"
esses lances de surpresa capazes de tornar encantadora a espera de um final desejado e
previsível.
Também se pode ver o filme
como uma série de imagens
que ilustram uma bela trilha
sonora. Não estaremos longe
da verdade.
A maneira mais cruel de observá-lo, porém, será comparando-o a "A Loja da Esquina",
magnífica comédia feita em
1940 por Ernst Lubitsch, da
qual este filme se pretende um
"remake". A diferença é que cada plano de Lubitsch era um
primor de leveza, sutileza, percepção inteligente das coisas,
enquanto cada plano de Nora
Ephron, na comparação, parece uma tijolo atirado na direção
da platéia.
Esse ponto de observação, no
entanto, nos leva longe. A intriga de "Mens@gem" diz respeito à dona de uma pequena livraria (Ryan) que, a horas tantas, se vê às voltas com a concorrência de uma grande loja,
tipo Ática Shopping, que, graças aos descontos imensos que
oferece, tenta liquidar a concorrente. Inútil dizer, o executivo da grande livraria é Hanks.
Ao longo do filme, Ephron
nos entope de banalidades do
tipo dinheiro não traz felicidade. Ou, ainda pior, por trás de
um executivo inflexível, existe
um ser humano sensível
-apesar das aparências.
Estamos a quilômetros de Lubitsch, como se vê, mas é preciso admitir que pelo menos o filme vislumbra a possibilidade
de tocar problemas contemporâneos, como a supremacia das
grandes corporações sobre o
aspecto propriamente humano
das coisas.
A questão que mais parece interessar a Ephron, no entanto, é
o da mudança radical das grandes cidades e das transformações que acarreta na vida cotidiana.
Nesse sentido, a concorrência
entre uma pequena e uma
grande livraria não se limita a
ser um aspecto do capitalismo
contemporâneo, nem de sua
tendência a favorecer coisas do
tipo fusões bombásticas, eficiência descomunal etc. O que
o filme permite entrever é o sutil deslocamento que essas
transformações muito evidentes operam em nossas vidas.
Ao tocar nesse problema,
Ephron trilha caminhos contraditórios. Por um lado, adota
um ponto de vista passadista e
nos leva a simpatizar com o pequeno comércio de Meg Ryan e
o tipo de intimidade que estabelece com seus clientes. Por
outro, faz da Internet (portanto, o presente tecnológico) lugar privilegiado da correspondência amorosa entre Ryan e
Hanks.
O que há de revoltante em
"Mens@gem para Você" não é
o fato de ser uma comédia romântica que envereda para o
melaço. É passar de maneira leviana por problemas que suscita.
A transformação acintosa da
paisagem e do modo de vida, a
impossibilidade de preservar a
aparência de lugares que dizem
algo, afetivamente, às pessoas,
o privilégio que se dá aos negócios em detrimento dos cidadãos são aspectos que atingem
o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.
Embora Ephron manifeste
preocupar-se com eles, seu filme opta pelo conforto burocrático: dá toda ênfase à historieta
amorosa.
Dito isso, "Mens@gem" pode
ser visto como uma simpática e
anódina matinê. Mas poderia
ser mais que isso.
Filme: Mens@gem para Você
Produção: EUA, 1998
Direção: Nora Ephron
Com: Tom Hanks, Meg Ryan, Parker Posey, Greg Kinnear
Quando: estréia hoje, em São Paulo, nos cines Center 3, Eldorado 1, Iguatemi
2 e circuito; estréia nacional na sexta
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