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NETVOX
Grátis, mas nem tanto
MARIA ERCILIA
Editora de Internet
Reza a lenda que, na primeira reunião em que se sugeriu
que o Internet Explorer devia
ser distribuído de graça, Bill
Gates disse: "Não sou comunista". Meses depois, o Internet
Explorer passava mesmo a ser
gratuito. Não porque a Microsoft tivesse se tornado comunista -era simplesmente uma
tática de dumping contra uma
empresa concorrente.
Mas "grátis" é a palavra mais
abusada na Internet. Software
de graça, ligações internacionais pelo preço de telefonemas
locais, livros e discos mais baratos, correio eletrônico quase
de graça etc.
Tanto que mesmo os sites
mais populares da Internet
ainda não resolveram o enigma: como ganhar dinheiro, se o
consumidor está mais que mal-acostumado e não quer saber
de pagar por nada?
Dois miniescândalos que
aconteceram nos últimos dias
mostram que as empresas estão
procurando tirar dinheiro de
onde podem.
O Yahoo está sendo processado pela empresa de produtos de
beleza Elizabeth Arden, por
"vender" o nome dela. Ao procurar "Elizabeth Arden" no
Yahoo, o usuário recebia inevitavelmente anúncios de concorrentes, como Lancome, Clinique etc. Ou seja, os anunciantes compravam o direito de
aparecer na tela cada vez que
era procurado o nome do concorrente.
Faz tempo que o Yahoo vendia substantivos comuns. Ao
procurar "golfe", vemos anúncios de tacos, ao digitar "livros", de livrarias, e assim por
diante. A novidade é a venda
de marcas, que parece totalmente injustificável.
Há outras variações: se você
procurar "Amazon", encontra
anúncios da própria livraria.
Se digitar "AOL", porém, encontra uma promoção do Yahoo Online, concorrente da
empresa. E por aí vai. Isso sugere uma vaga chantagem: se você não comprar anúncios vinculados ao nome de sua empresa, seu concorrente pode fazê-lo...
Resenhas vendidas
Já a Amazon enfrentou manifestações de desagrado de
milhares de clientes depois que
foi divulgado no "The New
York Times" que ela vende suas
recomendações de livros. Podia
custar entre US$ 500 e US$
12.500 a "recomendação" da livraria. Logo após a reportagem
do jornal, a loja voltou atrás e
afirmou que passaria a indicar
quando as recomendações fossem pagas, a partir de 1º de
março. Para tentar recompor a
imagem, divulgou também que
aceita a devolução de qualquer
livro recomendado, mesmo que
esteja lido e até rasgado.
A Amazon tentou sair da
enrascada afirmando que
"sempre ouvimos nossos consumidores e, ao que parece, eles
esperam mais de nós que de outras livrarias". É comum as livrarias colocarem livros em
suas vitrines mediante pagamento das editoras, prática
que supostamente seria semelhante à da Amazon.
Não convenceu ninguém. Os
compradores da Amazon, se
não esperavam encontrar críticas negativas sobre livros, pelo
menos acreditavam até agora
que as recomendações fossem
fruto da leitura de editores
contratados, e não da venda de
anúncios.
Nos dois casos, limites éticos
foram ultrapassados. No Yahoo, ao menos, é muito clara a
distinção entre o anúncio e a
informação. As empresas cujos
nomes foram vendidos são prejudicadas, os usuários, nem
tanto. No caso de outro programa de busca, o GoTo, os sites
que aparecem em primeiro lugar nas buscas pagam pela posição, e isso fica claro para o
usuário.
No caso da Amazon, a confusão entre espaço editorial
-mesmo que a empresa lembre que não é um jornal, mas
uma loja- e de publicidade leva deliberadamente ao engano. Seria o mesmo que os funcionários de uma livraria recomendassem este livro e não
aquele, mediante pagamento
das editoras.
PCs de graça
Almoço de graça pode não existir, mas já tem site dando PC. O
FreePC inaugurou oferecendo 10
mil computadores Compaq, que
não deram nem para a saída
-mais de 300 mil pessoas se inscreveram no site. O candidato tem
que morar nos EUA e aceitar se
submeter a uma coleção de anúncios que já vem pré-instalada no
computador. Ganha acesso de graça à Internet -que vem recheado
com ainda mais anúncios.
Slate fracassa
Por outro lado, quem tenta cobrar por informação quebra a cara.
Os editores da "Slate", revista on line da Microsoft, desistiram.
Não foi divulgado o número de
assinantes que a revista tinha, mas
obviamente a experiência fracassou.
A "Slate" estreou em 96, mas só
passou a ser paga no ano passado
(custava US$ 19,95 por ano). Quem
pagava tinha direito também a
uma versão impressa.
Áudio
A nova gravadora Atomic Pop
não pretende lançar nenhum disco, somente vender música pela
Internet. Sua estréia está marcada
para amanhã, com um single do L7
e um elenco de ilustres desconhecidos. No dia 22, divulga "Blondie
Live", com novas músicas e clássicos da banda. A Ultimate Band List
(www.ubl.com), um site veterano
de rock, começou há alguns dias a
oferecer músicas em MP3 (formato de de arquivos de áudio).
Jovens lançam sistema gratuito
Um grupo de jovens programadores está desenvolvendo um
sistema operacional (equivalente ao Windows) chamado
Gnome, totalmente gratuito. Quem dirige o projeto, que
envolve 256 pessoas, é o mexicano Miguel de Icaza. Uma versão
de teste do Gnome vai estar disponível em março
(www.gnome.org).
E-mail: netvox@uol.com.br
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