São Paulo, Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 1999
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NETVOX

Grátis, mas nem tanto

MARIA ERCILIA

Editora de Internet

Reza a lenda que, na primeira reunião em que se sugeriu que o Internet Explorer devia ser distribuído de graça, Bill Gates disse: "Não sou comunista". Meses depois, o Internet Explorer passava mesmo a ser gratuito. Não porque a Microsoft tivesse se tornado comunista -era simplesmente uma tática de dumping contra uma empresa concorrente.
Mas "grátis" é a palavra mais abusada na Internet. Software de graça, ligações internacionais pelo preço de telefonemas locais, livros e discos mais baratos, correio eletrônico quase de graça etc.
Tanto que mesmo os sites mais populares da Internet ainda não resolveram o enigma: como ganhar dinheiro, se o consumidor está mais que mal-acostumado e não quer saber de pagar por nada?
Dois miniescândalos que aconteceram nos últimos dias mostram que as empresas estão procurando tirar dinheiro de onde podem.
O Yahoo está sendo processado pela empresa de produtos de beleza Elizabeth Arden, por "vender" o nome dela. Ao procurar "Elizabeth Arden" no Yahoo, o usuário recebia inevitavelmente anúncios de concorrentes, como Lancome, Clinique etc. Ou seja, os anunciantes compravam o direito de aparecer na tela cada vez que era procurado o nome do concorrente.
Faz tempo que o Yahoo vendia substantivos comuns. Ao procurar "golfe", vemos anúncios de tacos, ao digitar "livros", de livrarias, e assim por diante. A novidade é a venda de marcas, que parece totalmente injustificável.
Há outras variações: se você procurar "Amazon", encontra anúncios da própria livraria. Se digitar "AOL", porém, encontra uma promoção do Yahoo Online, concorrente da empresa. E por aí vai. Isso sugere uma vaga chantagem: se você não comprar anúncios vinculados ao nome de sua empresa, seu concorrente pode fazê-lo...

Resenhas vendidas
Já a Amazon enfrentou manifestações de desagrado de milhares de clientes depois que foi divulgado no "The New York Times" que ela vende suas recomendações de livros. Podia custar entre US$ 500 e US$ 12.500 a "recomendação" da livraria. Logo após a reportagem do jornal, a loja voltou atrás e afirmou que passaria a indicar quando as recomendações fossem pagas, a partir de 1º de março. Para tentar recompor a imagem, divulgou também que aceita a devolução de qualquer livro recomendado, mesmo que esteja lido e até rasgado.
A Amazon tentou sair da enrascada afirmando que "sempre ouvimos nossos consumidores e, ao que parece, eles esperam mais de nós que de outras livrarias". É comum as livrarias colocarem livros em suas vitrines mediante pagamento das editoras, prática que supostamente seria semelhante à da Amazon.
Não convenceu ninguém. Os compradores da Amazon, se não esperavam encontrar críticas negativas sobre livros, pelo menos acreditavam até agora que as recomendações fossem fruto da leitura de editores contratados, e não da venda de anúncios.
Nos dois casos, limites éticos foram ultrapassados. No Yahoo, ao menos, é muito clara a distinção entre o anúncio e a informação. As empresas cujos nomes foram vendidos são prejudicadas, os usuários, nem tanto. No caso de outro programa de busca, o GoTo, os sites que aparecem em primeiro lugar nas buscas pagam pela posição, e isso fica claro para o usuário.
No caso da Amazon, a confusão entre espaço editorial -mesmo que a empresa lembre que não é um jornal, mas uma loja- e de publicidade leva deliberadamente ao engano. Seria o mesmo que os funcionários de uma livraria recomendassem este livro e não aquele, mediante pagamento das editoras.

PCs de graça
Almoço de graça pode não existir, mas já tem site dando PC. O FreePC inaugurou oferecendo 10 mil computadores Compaq, que não deram nem para a saída -mais de 300 mil pessoas se inscreveram no site. O candidato tem que morar nos EUA e aceitar se submeter a uma coleção de anúncios que já vem pré-instalada no computador. Ganha acesso de graça à Internet -que vem recheado com ainda mais anúncios.

Slate fracassa
Por outro lado, quem tenta cobrar por informação quebra a cara. Os editores da "Slate", revista on line da Microsoft, desistiram.
Não foi divulgado o número de assinantes que a revista tinha, mas obviamente a experiência fracassou.
A "Slate" estreou em 96, mas só passou a ser paga no ano passado (custava US$ 19,95 por ano). Quem pagava tinha direito também a uma versão impressa.

Áudio A nova gravadora Atomic Pop não pretende lançar nenhum disco, somente vender música pela Internet. Sua estréia está marcada para amanhã, com um single do L7 e um elenco de ilustres desconhecidos. No dia 22, divulga "Blondie Live", com novas músicas e clássicos da banda. A Ultimate Band List (www.ubl.com), um site veterano de rock, começou há alguns dias a oferecer músicas em MP3 (formato de de arquivos de áudio).

Jovens lançam sistema gratuito
Um grupo de jovens programadores está desenvolvendo um sistema operacional (equivalente ao Windows) chamado Gnome, totalmente gratuito. Quem dirige o projeto, que envolve 256 pessoas, é o mexicano Miguel de Icaza. Uma versão de teste do Gnome vai estar disponível em março (www.gnome.org).


E-mail: netvox@uol.com.br


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