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O peso-pesado do Oscar
Divulgação
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Denzel Washington vive Rubin "Hurricane" Carter, no filme de Norman Jewison que estréia hoje e conta a história verídica do boxeador preso injustamente por quase 20 anos |
Denzel Washington concorre a melhor ator por seu papel em "Hurricane", que estréia
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CLÁUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles
Denzel Washington, 45, já está
habituado a dar carne a heróis
que marcaram a história negra. Já
foi o ativista sul-africano Steve Biko, em "Um Grito de Liberdade"
(87) -que lhe deu um Oscar de
coadjuvante-, e Malcolm X, no
filme homônimo de Spike Lee.
Washington reforça hoje sua
presença em telas brasileiras
-seu filme anterior, "O Colecionador de Ossos", está em cartaz
no país- no papel do boxeador
peso-médio americano Rubin
"Hurricane" Carter.
"Hurricane - O Furacão", de
Norman Jewison, conta a história
verídica do lutador que enterrou
uma promissora carreira ao passar quase 20 anos na cadeia por
um crime que não cometera.
O filme chegou a ser visto como
um dos mais fortes candidatos ao
Oscar. Mas opositores reclamaram que a produção apresenta
Carter como um homem quase
santo e 100% vítima das injustiças
que, ninguém contesta, sofreu.
Veracidade à parte, a controvérsia parece ter pesado no resultado das indicações ao prêmio.
"Hurricane", o filme, foi praticamente ignorado pela Academia.
Hurricane, o personagem, garantiu a única indicação.
Forte candidato a melhor ator,
tendo ganho o Globo de Ouro,
em janeiro, e o Urso de Ouro, em
Berlim, no mês seguinte, Washington sofre pressão do protagonista de "Beleza Americana",
Kevin Spacey. Leia a seguir trechos da entrevista que o ator deu
à Folha sobre o boxeador que inspirou Bob Dylan a escrever a canção "Hurricane" e a preparação
para vivê-lo nas telas.
Folha - Como se sente após viver Rubin Carter nas telas?
Denzel Washington - Esse é um
filme de que me orgulho. Se traz
uma mensagem, é a de que devemos estar sempre abertos a ajudar
o próximo.
Folha - O senhor crê que a espiritualidade o tirou da prisão?
Washington - Foi crucial na
transformação e autoconhecimento dele. Para mim, o ódio que
Carter carregava consigo foi o que
o levou mais uma vez para trás
das grades. Mas foi o amor que
acabou lhe trazendo a liberdade.
O ódio só limita e encarcera.
Folha - Como ocorreu a transformação na vida de Carter?
Washington - Divido essa
transformação em duas fases: a
revolução barulhenta e a chamada "revolução silenciosa", como o
próprio Carter define.
A primeira foi quando ele foi
preso e começou a protestar contra a injustiça sofrida por ele: leu
livros de direito, fez contatos com
celebridades, músicas foram criadas em sua homenagem... Até que
acabou saindo da prisão.
Mas o ódio e a revolta continuavam no coração dele. Em consequência, foi preso novamente. E
ele mesmo reconhece isso hoje.
Teve de refletir sobre si próprio. E
deu início à revolução silenciosa.
Folha - E o que mudou?
Washington - Ele começou
uma viagem ao interior de sua alma. Percebeu que era humano e
que possuía defeitos a corrigir.
Leu a Bíblia, estudou religião e encontrou a paz para que uma
transformação positiva ocorresse.
Folha - O ex-boxeador o ajudou a desenvolver o papel?
Washington - Conversamos
bastante antes das filmagens. Minha intenção nunca foi imitar
Carter, mas absorver a essência da
sua história de vida, que era a de
um verdadeiro lutador.
Folha - Como foi a preparação
física para o papel?
Washington - Começou quase
um ano antes de filmar. Fui treinado pelo famoso especialista em
boxe Terry Clayborne. O início foi
torturante, mas tomei gosto pelo
esporte. Eu sabia que não poderia
fazer feio quando subisse no ringue para as filmagens. Até porque
Carter também ia conferir.
Folha - Como vê a possibilidade de receber outro Oscar?
Washington - Estaria mentindo
se dissesse que não estou feliz.
Confesso que estou, inclusive,
torcendo para que isso aconteça
(risos).
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