São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


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O peso-pesado do Oscar

Divulgação
Denzel Washington vive Rubin "Hurricane" Carter, no filme de Norman Jewison que estréia hoje e conta a história verídica do boxeador preso injustamente por quase 20 anos



Denzel Washington concorre a melhor ator por seu papel em "Hurricane", que estréia


CLÁUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles

Denzel Washington, 45, já está habituado a dar carne a heróis que marcaram a história negra. Já foi o ativista sul-africano Steve Biko, em "Um Grito de Liberdade" (87) -que lhe deu um Oscar de coadjuvante-, e Malcolm X, no filme homônimo de Spike Lee.
Washington reforça hoje sua presença em telas brasileiras -seu filme anterior, "O Colecionador de Ossos", está em cartaz no país- no papel do boxeador peso-médio americano Rubin "Hurricane" Carter.
"Hurricane - O Furacão", de Norman Jewison, conta a história verídica do lutador que enterrou uma promissora carreira ao passar quase 20 anos na cadeia por um crime que não cometera.
O filme chegou a ser visto como um dos mais fortes candidatos ao Oscar. Mas opositores reclamaram que a produção apresenta Carter como um homem quase santo e 100% vítima das injustiças que, ninguém contesta, sofreu.
Veracidade à parte, a controvérsia parece ter pesado no resultado das indicações ao prêmio. "Hurricane", o filme, foi praticamente ignorado pela Academia. Hurricane, o personagem, garantiu a única indicação.
Forte candidato a melhor ator, tendo ganho o Globo de Ouro, em janeiro, e o Urso de Ouro, em Berlim, no mês seguinte, Washington sofre pressão do protagonista de "Beleza Americana", Kevin Spacey. Leia a seguir trechos da entrevista que o ator deu à Folha sobre o boxeador que inspirou Bob Dylan a escrever a canção "Hurricane" e a preparação para vivê-lo nas telas.

Folha - Como se sente após viver Rubin Carter nas telas?
Denzel Washington -
Esse é um filme de que me orgulho. Se traz uma mensagem, é a de que devemos estar sempre abertos a ajudar o próximo.

Folha - O senhor crê que a espiritualidade o tirou da prisão?
Washington -
Foi crucial na transformação e autoconhecimento dele. Para mim, o ódio que Carter carregava consigo foi o que o levou mais uma vez para trás das grades. Mas foi o amor que acabou lhe trazendo a liberdade. O ódio só limita e encarcera.

Folha - Como ocorreu a transformação na vida de Carter?
Washington -
Divido essa transformação em duas fases: a revolução barulhenta e a chamada "revolução silenciosa", como o próprio Carter define.
A primeira foi quando ele foi preso e começou a protestar contra a injustiça sofrida por ele: leu livros de direito, fez contatos com celebridades, músicas foram criadas em sua homenagem... Até que acabou saindo da prisão.
Mas o ódio e a revolta continuavam no coração dele. Em consequência, foi preso novamente. E ele mesmo reconhece isso hoje. Teve de refletir sobre si próprio. E deu início à revolução silenciosa.

Folha - E o que mudou?
Washington -
Ele começou uma viagem ao interior de sua alma. Percebeu que era humano e que possuía defeitos a corrigir. Leu a Bíblia, estudou religião e encontrou a paz para que uma transformação positiva ocorresse.

Folha - O ex-boxeador o ajudou a desenvolver o papel?
Washington -
Conversamos bastante antes das filmagens. Minha intenção nunca foi imitar Carter, mas absorver a essência da sua história de vida, que era a de um verdadeiro lutador.

Folha - Como foi a preparação física para o papel?
Washington -
Começou quase um ano antes de filmar. Fui treinado pelo famoso especialista em boxe Terry Clayborne. O início foi torturante, mas tomei gosto pelo esporte. Eu sabia que não poderia fazer feio quando subisse no ringue para as filmagens. Até porque Carter também ia conferir.

Folha - Como vê a possibilidade de receber outro Oscar?
Washington -
Estaria mentindo se dissesse que não estou feliz. Confesso que estou, inclusive, torcendo para que isso aconteça (risos).



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