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CINEMA - ESTRÉIA
"Neve sobre os Cedros" confronta EUA e Japão
FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris
O ugandense Scott Hicks conseguiu a proeza de ser indicado ao
Oscar de filme e direção com sua
segunda produção, "Shine - Brilhante". Volta à direção com "Neve sobre os Cedros" -mas, desta
vez, o resultado atraiu só a indicação pela fotografia.
Baseado no romance de David
Guterson, "que me seduziu pela
beleza da história e pela intensidade visual da narrativa", "Neve
sobre os Cedros" é ambientado
na ilha de São Pedro, situada no
Pacífico Norte. O julgamento de
um oriental, acusado do assassinato de um americano, seu melhor amigo, acorda o ressentimento e o preconceito entre as comunidades americana e japonesa.
O ano é 1950. Mas a verdadeira
história do filme, o primeiro amor
entre um ocidental (Ethan Hawke) e uma japonesa (Yuki Kudoh), brutalmente separados pela
guerra, acontece no passado. Para
Hicks, o livro e o filme são um
grande ensaio sobre a memória.
"O tribunal é o lugar no qual os
personagens são forçados a acertar contas com o passado, o ponto
de partida. Por isso eu uso muitos
"flashbacks" e preto-e-branco."
O diretor confessa ser obsessivo. "Eu reconheço esse sentimento, por isso gosto de histórias de
obsessões, como a do Ishmael
(Hawke), um homem obcecado
pelo seu primeiro amor", diz.
Max von Sydow
Hicks garante que dirigir Max
von Sydow, "um dos atores da
minha formação", não o intimidou. Sydow, por outro lado, diz
que, chegando aos 71 anos e ao
120º filme de uma carreira impecável, o primeiro papel de advogado é um acontecimento.
"Não estou certo, mas acho que
é a primeira vez. Se eu precisasse
de inspiração, iria aos grandes
clássicos de tribunal, mas sempre
relia algumas páginas do livro (de
David Guterson) e encontrava
novos elementos para a interpretação."
Irônico, Sydow disse que recebe
tantos roteiros ruins para ler "que
chega a ser constrangedor". Por
isso, quando encontra um bom
roteiro, "um milagre", logo engaja-se no projeto. Neste, o que
atraiu Sydow foi "não apenas a
boa história, na qual as pessoas,
no final, fazem as escolhas certas,
mas o caráter sensato do seu personagem". "Pelo menos, ele tenta
agir com bom senso."
O que o ator não diz é que essa
sensatez é um atributo da maturidade, como fica explícito em vários diálogos, nos quais o personagem usa o fato de estar à beira
da morte para dar credibilidade à
sua defesa do acusado.
"Eu gostaria de ser mais otimista em relação ao preconceito e ao
racismo, mas acho que a humanidade sempre repete os mesmos
erros", diz o ator. A referência
constante à morte nos diálogos de
seu personagem invoca, inevitável, o clássico "O Sétimo Selo"
(1957), de Ingmar Bergman, no
qual Sydow interpreta a Morte.
"Nós partilhamos um extraordinário amor pelo teatro e pelo cinema por muitos anos, mas Bergman não é meu único pai, e eu
não me senti órfão nem "marcado" quando acabou a nossa parceria", conclui Sydow.
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