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CRÍTICA - "MÚSICA DO CORAÇÃO"
Meryl Streep deixa "baixar o santo"
SÉRGIO RIZZO
especial para a Folha
Um modo pragmático de obter
ao menos uma indicação ao Oscar
é incluir Meryl Streep no elenco.
Em "Música do Coração", ela
concorre ao prêmio pela 12ª vez,
marca só alcançada por Katharine Hepburn.
Ganhou dois, como coadjuvante por "Kramer vs. Kramer" (79) e
como atriz principal por "A Escolha de Sofia" (82). O filme também disputa o Oscar de canção
original ("Music of My Heart", de
Diane Warren).
A insistência em indicar Streep
equivale ao reconhecimento da
própria classe de que seria a
maior atriz americana em atividade no cinema.
Já entrou para o folclore de
Hollywood sua dedicação obstinada aos papéis, como quem deixa "baixar o santo", principalmente quando há sotaque ou habilidade específica a dominar.
Hector Babenco já falou sobre o
"transe" (extremamente profissional, diga-se) da atriz quando
faziam "Ironweed" (87).
"Música do Coração" a instala
outra vez em sua praia, com o ingrediente adicional de que se trata
de caso verídico. Streep faz uma
violinista amadora que, ao ser
abandonada pelo marido, precisa
trabalhar para sustentar os dois filhos. Arruma emprego como professora de música em uma escola
pública do Harlem, em Nova
York, e desenvolve projeto bem-sucedido que um corte de verbas
ameaça interromper. Paralelamente, sua vida pessoal (filhos e
namorados) é atropelada pela entrega profissional -e por um gênio duro de aguentar.
É mais ou menos a mesma história de "Mr. Holland - Adorável
Professor" (95), ficção que inspirou professores de música americanos a criar uma fundação com o
nome do personagem para defender o ensino de música em escolas
públicas. E caminha no mesmo
terreno das boas intenções do
francês "Quando Tudo Começa"
(99), de Bertrand Tavernier, e do
chinês "Nenhum a Menos" (99),
de Zhang Yimou, igualmente dedicados a resgatar a importância
social do professor.
Streep deita e rola no papel, e
torna engraçado lembrar que originalmente ele seria de Madonna.
Quem está fora de sua praia aqui é
o diretor Wes Craven, das séries
"A Hora do Pesadelo" e "Pânico".
Incapaz de emprestar ao drama
algo mais do que um telefilme de
rotina faria, assina seu atestado de
limitação. Não compromete, sobretudo na direção de atores, mas
também não foge uma nota do
convencional. "A Violinista Assassina" lhe cairia melhor.
Avaliação:
Filme: Música do Coração (Music of the
Heart)
Diretor: Wes Craven
Produção: EUA, 1999
Com: Meryl Streep, Aidan Quinn, Angela
Bassett, Cloris Leachman, Gloria Estefan
Quando: a partir de hoje, no Cinearte 2,
Jardim Sul 1 e circuito
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