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Arte devolve
auto-estima
a crianças
free-lance para a Folha
Seja qual for o resultado artístico do filme "Música do Coração", educadores reconhecem que inserir arte no cotidiano de crianças carentes está entre as melhores iniciativas conhecidas para recuperar a auto-estima do aluno na escola e
melhorar seu desempenho.
Segundo dados do Ministério
da Educação, 95,7% das crianças brasileiras em idade escolar
estão matriculadas. Entretanto,
mais da metade desses alunos
não chega ao final do ano por
desestímulo, entre outros vários fatores, o que torna as taxas de repetência e distorção
série/idade do país as mais altas
do mundo.
Existem mais de mil Organizações Não-Governamentais
(ONGs) no Brasil ligadas a educação. Várias delas desenvolvem projetos de arte como o
meio de fazer com que o aluno
perca a atitude passiva dentro
da escola e passe a interagir
com o ambiente escolar que está inserido.
Projetos como o "Opus 118"
do filme existem em quase todo o país. Violinistas como os
de "Música do Coração" já foram formados no Projeto Villa-Lobinhos, curso de verão com
duração de um mês que seleciona, entre um universo de
mil crianças, cem que irão tomar aulas de música. Os bairros de atuação são áreas de risco social, como as favelas da
Rocinha e Dona Marta, além da
Grota do Surucucu, em Niterói.
"Não há indisciplina nem desatenção por parte dos garotos", afirma o coordenador Turíbio Santos. Nove crianças são
selecionadas, entre as que se
destacam pelo talento, e ganham os instrumentos, acompanhamento familiar e escolar,
além de aulas com bons professores para que se tornem músicos profissionais.
Outras iniciativas desvinculadas do poder público tentam
recuperar não os alunos, mas
capacitar os professores para
que estes possam interferir na
sociedade. É o caso do Instituto
Arte Escola que, ao contrário
da personagem de Meryl
Streep, usa as artes plásticas e
não a música para desenvolver
a percepção crítica de educadores que nunca tiveram a oportunidade de se reciclar profissionalmente. Mas o objetivo final é mesmo o aluno.
A presidente do Instituto,
Evelyn Berg Ioschpe, considera
"Música do Coração" discutível do ponto de vista artístico,
mas dá provas concretas de
que a arte usada na educação
dá resultados animadores.
"Não estamos preocupados
em formar artistas, mas futuros leitores e consumidores de
cultura. São indivíduos mais
críticos e, portanto, mais capazes. Com a arte, o aluno passa a
entender porque está indo a escola", afirma.
Segundo Evelyn, 80% das
fundações brasileiras investem
em educação, mostrando, como no filme, que a sociedade
deve se mobilizar e não esperar
apenas por atitudes governamentais. "O terceiro setor chegou à conclusão de que precisa
investir em educação", conta.
O instituto usa como divulgação dessa proposta um vídeo
dirigido pelo gaúcho Carlos
Gerbase chamado "O Sorriso
de Natasha".
É a história real de uma menina que passava suas tardes
vendo televisão e ficava alheia
aos ensinamentos da escola.
Sai desse estágio letárgico
quando é despertada pela arte.
O Programa Arquimedes desenvolvido pela Secretaria de
Estado da Cultura também tem
inúmeras atividades junto a
crianças e adolescentes das comunidades carentes de São
Paulo.
Iniciado em maio do ano
passado, o programa já beneficiou mais de 3.000 crianças e
adolescentes em cinco núcleos
comunitários: Itapevi, Franco
da Rocha (Grande SP), Cidade
Tiradentes, Itaim Paulista e Jardim Ângela, na capital e mais
uma centena de escolas da rede
pública de ensino.
(DEMETRIUS CAESAR)
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