São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


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Arte devolve auto-estima a crianças

free-lance para a Folha


Seja qual for o resultado artístico do filme "Música do Coração", educadores reconhecem que inserir arte no cotidiano de crianças carentes está entre as melhores iniciativas conhecidas para recuperar a auto-estima do aluno na escola e melhorar seu desempenho.
Segundo dados do Ministério da Educação, 95,7% das crianças brasileiras em idade escolar estão matriculadas. Entretanto, mais da metade desses alunos não chega ao final do ano por desestímulo, entre outros vários fatores, o que torna as taxas de repetência e distorção série/idade do país as mais altas do mundo.
Existem mais de mil Organizações Não-Governamentais (ONGs) no Brasil ligadas a educação. Várias delas desenvolvem projetos de arte como o meio de fazer com que o aluno perca a atitude passiva dentro da escola e passe a interagir com o ambiente escolar que está inserido.
Projetos como o "Opus 118" do filme existem em quase todo o país. Violinistas como os de "Música do Coração" já foram formados no Projeto Villa-Lobinhos, curso de verão com duração de um mês que seleciona, entre um universo de mil crianças, cem que irão tomar aulas de música. Os bairros de atuação são áreas de risco social, como as favelas da Rocinha e Dona Marta, além da Grota do Surucucu, em Niterói.
"Não há indisciplina nem desatenção por parte dos garotos", afirma o coordenador Turíbio Santos. Nove crianças são selecionadas, entre as que se destacam pelo talento, e ganham os instrumentos, acompanhamento familiar e escolar, além de aulas com bons professores para que se tornem músicos profissionais.
Outras iniciativas desvinculadas do poder público tentam recuperar não os alunos, mas capacitar os professores para que estes possam interferir na sociedade. É o caso do Instituto Arte Escola que, ao contrário da personagem de Meryl Streep, usa as artes plásticas e não a música para desenvolver a percepção crítica de educadores que nunca tiveram a oportunidade de se reciclar profissionalmente. Mas o objetivo final é mesmo o aluno.
A presidente do Instituto, Evelyn Berg Ioschpe, considera "Música do Coração" discutível do ponto de vista artístico, mas dá provas concretas de que a arte usada na educação dá resultados animadores.
"Não estamos preocupados em formar artistas, mas futuros leitores e consumidores de cultura. São indivíduos mais críticos e, portanto, mais capazes. Com a arte, o aluno passa a entender porque está indo a escola", afirma.
Segundo Evelyn, 80% das fundações brasileiras investem em educação, mostrando, como no filme, que a sociedade deve se mobilizar e não esperar apenas por atitudes governamentais. "O terceiro setor chegou à conclusão de que precisa investir em educação", conta.
O instituto usa como divulgação dessa proposta um vídeo dirigido pelo gaúcho Carlos Gerbase chamado "O Sorriso de Natasha".
É a história real de uma menina que passava suas tardes vendo televisão e ficava alheia aos ensinamentos da escola. Sai desse estágio letárgico quando é despertada pela arte.
O Programa Arquimedes desenvolvido pela Secretaria de Estado da Cultura também tem inúmeras atividades junto a crianças e adolescentes das comunidades carentes de São Paulo.
Iniciado em maio do ano passado, o programa já beneficiou mais de 3.000 crianças e adolescentes em cinco núcleos comunitários: Itapevi, Franco da Rocha (Grande SP), Cidade Tiradentes, Itaim Paulista e Jardim Ângela, na capital e mais uma centena de escolas da rede pública de ensino.
(DEMETRIUS CAESAR)


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