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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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MÚSICA

SHOW

Arranjador sai do esquecimento com CD inédito e "primeira apresentação universal" com seu histórico grupo Copa 5

Meirelles se assume "rei do samba-jazz"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não existem o rei da bossa nova, o rei da cocada preta? Então agora eu resolvi assumir o título de rei do samba-jazz." Quem faz a afirmação não é nenhum aventureiro, mas sim J.T. Meirelles, 62, um dos inventores desse gênero pós-bossa nova, desde que trabalhou nos arranjos do disco de estréia de Jorge Ben, "Samba Esquema Novo" (63).
Não lhe falta cancha para assumir o título que, segundo o saxofonista e arranjador faz questão de explicar e repetir, ele evitava desde 1965, quando deixou de acreditar que pudesse ser um artista de frente de palco.
Hoje Meirelles estará ao vivo no Sesc Paulista, fazendo o que chama de "primeira apresentação mundial e universal de Meirelles e Os Copa 5". A denominação do conjunto existe desde 1964, quando saiu o hoje celebrado LP "O Som", há pouco tempo reeditado pela gravadora Dubas.
À época com 20 e poucos anos, Meirelles e seus parceiros tocavam habitualmente no mítico Beco das Garrafas, no Rio, mas ele prefere descontar aquelas apresentações: "Todos nos apresentávamos no Bottle's, mas nunca "in concert", nos levando a sério, como agora".
Pois ele reconstituiu Os Copa 5, com músicos de faixa etária média de 50 anos, para gravar e lançar pela mesma Dubas, em dezembro passado, o CD "Samba-Jazz!!", com dez composições inéditas suas. Ele afirma que entre 1965 e 2000 não compôs nem tocou nenhuma música sua.
Se parecem exclamativos demais termos como "rei da cocada preta" e "primeira apresentação universal", é preciso entender a ironia que o próprio Meirelles lhes injeta ao proferi-los. Mesmo assim são sinceros, e totalmente inéditos para ele.
"Resolvi pela primeira vez na minha vida me assumir como artista. Sempre fui muito cético em relação às oportunidades para a música instrumental e quem trabalha com ela", começa a explicar.
Para ele, era romântica e amadora a fase de que participou, dos conjuntos que tocavam bossa nova instrumental e acabaram inventando o subgênero samba-jazz. "Como levo as coisas a sério, fui tratar da minha vida. Desisti de ser artista e fui ser músico e arranjador profissional."

Sem saxofone
Afirma-se surpreso com a guinada não planejada que vive há cerca de três anos. Nesse período, assistiu a uma redescoberta do samba-jazz, via interesse no exterior e reedições de seus discos. Viu, em seguida, o interesse da Dubas em recolocá-lo num estúdio para gravar somente produção nova e inédita.
Vê, até, o autor Manoel Carlos colocar seu nome na novela global das oito, na boca do personagem de Tony Ramos (como ele um saxofonista que toca jazz em bar de hotel).
"Para minha surpresa, passaram quase a me obrigar a voltar. Eu nem tinha mais saxofone, trabalhava com informática. Voltei a acreditar que poderia ter uma vida decente. Antes não tinha, vivia com muita dificuldade, deprimido", conta, recém-transferido para um apartamento alugado.
Meirelles explica que não foi atrás de membros remanescentes dos Copa 5 porque queria evitar qualquer tom saudosista. "Seriam cinco velhinhos tocando no palco, não é o que quero."
Sua idéia, agora, é preparar os acompanhantes de agora para, no futuro, virem a se tornar eles também possíveis líderes de banda.
Diz que vê sua própria volta de modo ainda relutante, "com um pé atrás". "O que vejo é o surgimento de uma nova oportunidade para a música instrumental, não para mim pessoalmente", completa Meirelles.


SAMBA-JAZZ!! - Show de Meirelles e Os Copa 5. Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 0/xx/11/3179-3400). Quando: hoje, às 18h30. Quanto: entrada franca (retirar convites com uma hora de antecedência).


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