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MÚSICA
SHOW
Arranjador sai do esquecimento com CD inédito e "primeira apresentação universal" com seu histórico grupo Copa 5
Meirelles se assume "rei do samba-jazz"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não existem o rei da bossa nova, o rei da cocada preta? Então
agora eu resolvi assumir o título
de rei do samba-jazz." Quem faz a
afirmação não é nenhum aventureiro, mas sim J.T. Meirelles, 62,
um dos inventores desse gênero
pós-bossa nova, desde que trabalhou nos arranjos do disco de estréia de Jorge Ben, "Samba Esquema Novo" (63).
Não lhe falta cancha para assumir o título que, segundo o saxofonista e arranjador faz questão
de explicar e repetir, ele evitava
desde 1965, quando deixou de
acreditar que pudesse ser um artista de frente de palco.
Hoje Meirelles estará ao vivo no
Sesc Paulista, fazendo o que chama de "primeira apresentação
mundial e universal de Meirelles e
Os Copa 5". A denominação do
conjunto existe desde 1964, quando saiu o hoje celebrado LP "O
Som", há pouco tempo reeditado
pela gravadora Dubas.
À época com 20 e poucos anos,
Meirelles e seus parceiros tocavam habitualmente no mítico Beco das Garrafas, no Rio, mas ele
prefere descontar aquelas apresentações: "Todos nos apresentávamos no Bottle's, mas nunca "in
concert", nos levando a sério, como agora".
Pois ele reconstituiu Os Copa 5,
com músicos de faixa etária média de 50 anos, para gravar e lançar pela mesma Dubas, em dezembro passado, o CD "Samba-Jazz!!", com dez composições inéditas suas. Ele afirma que entre
1965 e 2000 não compôs nem tocou nenhuma música sua.
Se parecem exclamativos demais termos como "rei da cocada
preta" e "primeira apresentação
universal", é preciso entender a
ironia que o próprio Meirelles
lhes injeta ao proferi-los. Mesmo
assim são sinceros, e totalmente
inéditos para ele.
"Resolvi pela primeira vez na
minha vida me assumir como artista. Sempre fui muito cético em
relação às oportunidades para a
música instrumental e quem trabalha com ela", começa a explicar.
Para ele, era romântica e amadora a fase de que participou, dos
conjuntos que tocavam bossa nova instrumental e acabaram inventando o subgênero samba-jazz. "Como levo as coisas a sério,
fui tratar da minha vida. Desisti
de ser artista e fui ser músico e arranjador profissional."
Sem saxofone
Afirma-se surpreso com a guinada não planejada que vive há
cerca de três anos. Nesse período,
assistiu a uma redescoberta do
samba-jazz, via interesse no exterior e reedições de seus discos.
Viu, em seguida, o interesse da
Dubas em recolocá-lo num estúdio para gravar somente produção nova e inédita.
Vê, até, o autor Manoel Carlos
colocar seu nome na novela global das oito, na boca do personagem de Tony Ramos (como ele
um saxofonista que toca jazz em
bar de hotel).
"Para minha surpresa, passaram quase a me obrigar a voltar.
Eu nem tinha mais saxofone, trabalhava com informática. Voltei a
acreditar que poderia ter uma vida decente. Antes não tinha, vivia
com muita dificuldade, deprimido", conta, recém-transferido para um apartamento alugado.
Meirelles explica que não foi
atrás de membros remanescentes
dos Copa 5 porque queria evitar
qualquer tom saudosista. "Seriam
cinco velhinhos tocando no palco,
não é o que quero."
Sua idéia, agora, é preparar os
acompanhantes de agora para, no
futuro, virem a se tornar eles também possíveis líderes de banda.
Diz que vê sua própria volta de
modo ainda relutante, "com um
pé atrás". "O que vejo é o surgimento de uma nova oportunidade para a música instrumental,
não para mim pessoalmente",
completa Meirelles.
SAMBA-JAZZ!! - Show de Meirelles e Os
Copa 5. Onde: Sesc Paulista (av. Paulista,
119, tel. 0/xx/11/3179-3400). Quando:
hoje, às 18h30. Quanto: entrada franca
(retirar convites com uma hora de
antecedência).
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