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MÚSICA/CRÍTICA
Banda mostra ter superado má fase, entretanto precisa parar de cultuar o passado e experimentar mais
Oasis está maduro, mas ainda não está pronto
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
De tanto alardearem por aí
que são a melhor banda do
planeta, daqui a pouco os caras
vão acabar nos convencendo.
Mas... só daqui a pouco.
Anteontem, às margens do rio
Pinheiros e diante de um público
ensopado, o Oasis mostrou que
tem bala para continuar na luta
por um lugar nobre na história do
rock. Que o limbo no qual se perdeu entre o fraquinho "Be Here
Now" (1997) e o contundente
"Don't Believe the Truth" (2005),
no futuro, pode não passar de um
lapso passageiro. Que, enfim, os
vetustos (ou finados) Beatles poderão olhar (de onde estiverem)
para os irmãos Gallagher e sua
turma com uma lágrima furtiva
nos olhos e dizer: "Meus filhos".
Mas, até lá, como diriam nossos
pais, o Oasis ainda tem que comer
muito feijão. Um pouco mais de
bom humor também não seria de
todo ruim. Sem, é claro, perder a
saudável empáfia pela qual são
conhecidos (e que anda fazendo
tanta falta no politicamente correto showbiz de hoje). Por fim, deveriam parar de cultuar tanto o
passado e experimentar mais.
Conscientes das mancadas recentes, a banda fez um show calcado
nos exitosos dois discos que abriram sua carreira, "Definitely
Maybe" (1994) e "(Whats the
Story) Morning Glory" (1995), e
nas canções adultas da atual fase.
Liam, na sua tradicional postura
"torre de Pisa" (inclinado) e com
as mãos para trás como quem foi
algemado, está poderoso nos vocais. Às vezes, pára na vertical e
olha o público, sério. Lembra Bowie. Noutras, arrasta mais as vogais, parece um Mick Jagger menos sexy, mais zombeteiro.
Noel, por sua vez, demora para
ser descoberto pelo câmera que
pilota o telão, que parece tê-lo
confundido com o guitarrista
Gem Archer. Até que o verdadeiro líder da banda assume o microfone e canta "The Importance of
Being Idle", embalado por um estilo The Kinks. Noel mantém-se
discreto, mas se solta quando percebe que o público quer cantar
junto. Em "Don't Look Back in
Anger", parece orgulhoso ao ver a
multidão entoando versos inteiros da canção. Seu grande momento, entretanto, é na agressiva
"Mucky Fingers", claramente inspirada por "I'm Waiting For the
Man", do Velvet Underground.
Futebolistas fanáticos, dedicam
a melhor música da banda, "Live
Forever", à seleção brasileira. Se
parecem saber sobre o nosso fanatismo, quem mostrou não conhecer bem as preferências dos
roqueiros foi parte do público de
São Paulo. Um monte de gente
usava camisetas do Manchester
United, quando o time de coração
dos Gallagher é, na verdade, o
Manchester City.
Bacana foi perceber que o Oasis
é, enfim, uma banda. Depois de
tantas mudanças na formação, o
que antes podia ser comparado
com um país submetido a uma ditadura sob o comando dos irmãos, hoje é uma república democrática. Agora, "os outros",
Gem Archer e o baixista Andy
Bell, dão declarações livres, são
articulados e, nitidamente, ajudaram a melhorar o som da banda.
Zak Starkey, filho de Ringo Starr,
é mais agressivo que o pai e confere energia às canções. Um bom sinal desses tempos de "abertura
política" é que a canção que abre
os shows da atual turnê é de Bell, a
alegre "Turn Up the Sun".
Apesar de evocarem o astro-rei,
ironicamente, quem co-protagonizou o espetáculo no estacionamento do Credicard Hall foi a
chuva. Começou tímida na segunda música, "Lyla", faixa de
trabalho do álbum atual. Apertou
na épica "The Masterplan" e só
acabou, ironicamente, quando
Liam finalizou a última canção
antes do bis, "Rock n" Roll Star".
A banda encerrou a noite homenageando o The Who, numa
versão furiosa de "My Generation". Bela síntese do espetáculo.
Saímos contentes e esperançosos
com o rock, mas com uma sensação de que só o culto ao passado
não basta para mantê-lo vivo.
É claro que é bom para uma
banda ser tão comparada aos Beatles, ao Velvet, a Dylan e Bowie.
Mas já estamos noutro século. E
quem, como o Oasis, andou bebendo tanto dessas fontes, deve
parar de temperar tanto sua música com referências a esses ícones
e colocar na mesa novas cartas.
Fica como lição de casa para a
próxima visita. OK, Noel?
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