THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

O vinil ainda é objeto de culto entre o público brasileiro de música eletrônica, e a movimentação de DJs em direção a mídias digitais, como CDs e softwares, é sempre combustível de debates longos e acalorados. Hoje, com sua apresentação no clube Lov.e, em São Paulo, Dave Clarke coloca mais pimenta nessa discussão.
Um dos mais conhecidos e admirados DJs do planeta, referência entre os amantes do tecno, no ano passado Clarke anunciou publicamente que desde então passaria a tocar apenas com CDs. Porque, segundo ele, aparelhos como o CDJ-1000, da Pioneer, e o SL-DZ1200, da Technics, teriam os mesmos recursos que os toca-discos -com a vantagem de que ele não precisaria mais carregar uma mala enorme e pesada cheia de discos de vinil.
"Sempre quis tocar com CDs, desde os anos 90, mas não tínhamos o equipamento adequado. Hoje, isso é uma progressão natural. Não importa como tocamos, o que interessa é a música", diz, em entrevista à Folha, por telefone. "Acho mais divertido, pois consigo fazer sets mais longos."
Respeitado nome dentro do tecno, por seu repertório nada convencional e por uma técnica apurada, com influência do hip hop, Clarke desdenha o purismo dos fãs do gênero, o mais resistente a esses tipos de mudanças.
"Não me coloco dentro desse purismo do tecno. Não me interessa se algumas pessoas não ficam contentes com o fato de eu tocar com CDs. Ainda estou tocando música e adorando o que tenho feito."
Esta será a terceira apresentação do inglês no Brasil -a primeira em um clube. Clarke fez DJ set no Skol Beats em 2003 e live PA (apresentação ao vivo de suas canções) no palco principal do mesmo festival, em 2004. "Foram sensações diferentes. O DJ set é excitante. No live, como apresento apenas as minhas músicas, estava um pouco mais nervoso."
A série "Red", produções de Clarke lançada nos anos 90, é até hoje um marco do tecno. Em 2003, ele lançou o álbum "Devil's Advocate", trazendo mais referência de electro. O disco saiu aqui no Brasil, pela Sony.
O inglês é conhecido também pelas declarações polêmicas. No ano passado, chegou a chamar a dupla 2ManyDJs de "Jive Bunny" (o cartum que fez sucesso nas rádios e na MTV com um medley de canções dos anos 50). "Não gosto da mistura que fazem", afirma.
Os brasileiros Mau Mau e Murphy completam a noite.