São Paulo, segunda, 17 de março de 1997.

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JAZZ
Caixa revive saxofone de Dexter Gordon

CARLOS CALADO
especial para a Folha

O nome Dexter Gordon pode soar desconhecido para muitos. Mas quem viu o filme ``Por Volta da Meia-Noite'' (``Round Midnight'', 1986), do francês Bertrand Tavernier, já sabe que se trata de um músico especial.
É o que confirmam os seis CDs da caixa ``Dexter Gordon - The Complete Blue Note Sixties Sessions'' -uma luxuosa edição importada pela EMI, que revive uma das melhores fases musicais desse jazzista norte-americano.
Do alto de seus mais de dois metros de altura, Gordon (1923-1990) revelou-se, no final dos anos 40, como o mais brilhante sax tenor do ``bebop'' -o estilo nervoso e irreverente que introduziu o jazz na era da modernidade.
Porém, como outros músicos de sua geração, Gordon sumiu dos palcos e estúdios durante grande parte dos anos 50.
Viciado em heroína, foi detido com a droga e passou dois anos na prisão.
A volta oficial do saxofonista aconteceu em 6 maio de 1961 -data da primeira das 11 sessões de gravação que ele veio a fazer para o influente selo Blue Note.
``Doin' Allright'' inaugurou uma série de oito álbuns clássicos, que a decisão do norte-americano de se mudar para a Europa, em 1963, não chegou a prejudicar.
Nessas gravações, Gordon fez lembrar (a quem já tinha se esquecido) que seu som encorpado, apoiado em um fraseado despido de clichês, influenciara saxofonistas mais jovens, como John Coltrane e Sonny Rollins, que lideravam a cena jazzística da época.
Além de trazer faixas não-incluídas nos discos originais, a caixa tem também a polêmica sessão de gravação do álbum ``Landslide''.
Rejeitado por Alfred Lion (o exigente produtor e dono da Blue Note), esse disco só chegou às lojas nos anos 80 e continuava inédito até hoje em CD.
Errada no caso de ``Landslide'', cujo nível musical não deve nada ao de outras gravações da caixa, a ingerência direta de Lion é flagrada também em uma deliciosa série de cartas trocadas entre ele e o saxofonista -reveladas no livreto que acompanha a edição.
``Não quero música complicada'', exigia o produtor, em 26 de abril de 1961.
Chegava mesmo a sugerir que Gordon gravasse ``bons standards em tempo médio'', alguns blues e uma balada.
Tenha sido ou não por influência de Lion, o certo é que, com esse tipo de repertório, Gordon recuperou seu lugar entre os maiores jazzistas de todos os tempos.

Caixa: Dexter Gordon - The Complete Blue Note Sixties Sessions (importada)
Lançamento: Blue Note/EMI
Quanto: R$ 120, em média

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