São Paulo, terça, 17 de março de 1998

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OSCAR
Biografia desvenda o cineasta Cameron

Divulgação
James Cameron (à dir.) orienta os atores Kate Winslet e Leonardo DiCaprio durante as filmagens de "Titanic"


AMIR LABAKI
de Nova York

A febre "Titanic" entronizou James Cameron, 44, como o homem do ano em Hollywood. A primeira biografia do diretor pousou nas livrarias americanas simultaneamente à estréia do novo campeão de bilheterias e favorito para a 70ª festa do Oscar.
Não se pode, contudo, acusar de oportunismo o autor de "Dreaming Aloud - The Life and Films of James Cameron". O livro do crítico canadense Christopher Heard foi impresso quando a sorte de "Titanic" ainda estava indefinida.
"Dreaming Aloud" passa longe do biografismo ponderado. É uma hagiografia assumida, marcada pela visível identificação de Heard com Cameron -ambos cinéfilos do interior do Canadá.
A veneração enfraquece o livro pelo excesso de adjetivos, mas alimenta, por outro lado, uma impressionante pesquisa sobre os bastidores da carreira e das filmagens de Cameron.
Heard escancara seu fascínio por Cameron já no prefácio. Para fazê-lo, compara-o, na busca obsessiva por seus objetivos, a outro mito deste fim de século.
"Ayrton Senna, o mundialmente famoso piloto de Fórmula 1, costumava se descrever da seguinte maneira: "Eu sabia que tinha real grandeza dentro de mim, eu sabia que era capaz de proezas verdadeiramente grandes -a tarefa que me impus foi se revelando e provando isso para o mundo'."
Prossegue Heard: "Pensei em James Cameron quando li essas palavras. Os filmes de James Cameron são fascinantes, mas tornam-se ainda mais convincentes quando você se detém no processo da feitura deles".
É este o ponto forte de "Dreaming Aloud". Heard articula uma impressionante quantidade de informações sobre as filmagens de cada obra de Cameron.
Longe das câmeras
O fato de Cameron viver para filmar atenua a gravidade de ter-se dedicado pouco espaço no livro à sua vida longe das câmeras.
Ele nasceu na cidadela de Kapuskasing, na região de Ontario, Canadá. James e o irmão caçula Mike desde cedo desenvolveram o amor por experimentos e invenções.
O amor pelo cinema começou a se revelar numa sessão de "2001 - Uma Odisséia no Espaço". "Eu não pude descobrir como aqueles efeitos foram realizados e eu queria entender o que estava vendo. Voltei para ver o filme mais dez vezes tentando entrar nele", relembraria Cameron anos depois.
A mudança da família para Los Angeles aproximaria fisicamente o jovem Cameron do mundo do cinema. O empurrão definitivo veio com outro clássico da ficção científica. "Fiquei aborrecido ao ver "Guerra nas Estrelas'", conta Cameron. "Era o filme que eu queria ter feito. Depois de vê-lo, fiquei determinado."
Roger Corman
A rápida escalada da carreira cinematográfica de Cameron faz a curva da determinação para a obstinação. A porta de entrada foi a produtora de ficções baratas New World Pictures de Roger Corman.
Cameron foi contratado para construir modelos para "Battle Beyond the Stars" (1980), mas, como lembra Corman na introdução ao livro, logo foi elevado ao cargo de diretor de efeitos especiais e, em seguida, de diretor de arte.
O ambicioso autodidata não esquentaria posto sob as ordens de Corman. Dois filmes e dois anos depois, Cameron debutava como diretor em "Piranha 2". Durante as filmagens, um sonho inspirou Cameron a escrever o roteiro que se tornaria seu passaporte para a primeira divisão de Hollywood.
Era "O Exterminador do Futuro", o thriller futurista distópico que em 1984 catapultou ao estrelato Arnold Schwarzenegger. O sucesso de público e crítica de "O Exterminador" sedimentou a carreira de Cameron como um confiável especialista em ficções científicas.
Os filmes seguintes ("Aliens", "O Segredo do Abismo", "O Exterminador 2") comprovaram-no como um diretor de rara sofisticação e originalidade no desenvolvimento da "imagerie" do gênero.
Seus orçamentos cresceram até bater recorde sobre recorde, suas filmagens se tornaram cada vez mais complicadas, sua fama de diretor despótico e perfeccionista se estabeleceu. O segredo de Cameron, contudo, foi sempre exibir na tela cada centavo orçado e -sobretudo- nunca perder dinheiro.
Foi assim que se viabilizou seu megalomaníaco projeto de revisitar a história do naufrágio do Titanic. O filme de US$ 200 milhões é de certa forma a suma cinematográfica de Cameron: produção épica, efeitos de ponta, trama romântica, roteiro forte de narrativa e fraco nos diálogos.
Heard encerra o livro na expectativa da repercussão do filme. Não hesita, contudo, em garantir que "James Cameron, o garoto da cidadezinha de Ontario, vai continuar a sonhar grandes sonhos e a fazer ainda maiores filmes".
Adianta que o próximo deve ser "Avatar", o primeiro filme a utilizar intérpretes desenvolvidos em computador. Cameron, depois de "Titanic", tudo pode.

Livro: Dreaming Aloud - The Life and Films of James Cameron Autor: Christopher Heard Lançamento: Doubleday Canadá, Quanto: US$ 21.95 (260 págs.)


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