São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2000


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EVENTO
Em palestra na Folha, acadêmico e ex-ministro da Educação relativiza avanços
Modernidade pede justiça, diz Portella

especial para a Folha

O lado político do escritor, acadêmico e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Eduardo Portella não resistiu ao chamado: convidado pela Folha a falar sobre a modernidade, acabou por lembrar da necessidade de justiça social como forma de "reprogramar" o conceito.
Portella discorreu sobre o tema no auditório do jornal, no último dia 10, numa palestra que fazia parte do ciclo "Com Todas as Letras", em que membros da Academia Brasileira de Letras falam sobre temas diversos, com destaque para a literatura e a arte em geral.
Respondendo a "O Que É Modernidade?", Eduardo Portella analisou as diferentes definições e as próprias complexidades implícitas no tema, para chegar a uma modernidade de fim de século, por um lado, "sem coesão e talvez daí venha sua grandeza" e, por outro, sombria.
"Constatamos o envelhecimento da modernidade e a irrupção da pós-modernidade, a que eu chamo baixa modernidade. É uma modernidade um tanto parasitária, dedicada a colecionar sem criticar, a acumular sem distribuir", disse o escritor, que foi ministro da Educação no governo João Figueiredo (1979-1985).
Os políticos, aliás, não se safaram de algumas críticas, como quando, a pretexto de confirmar que as grandes narrativas não morreram, ironizou os "discursos edificantes do período eleitoral, cujas promessas de igualdade, liberdade e fraternidade continuam intactas".
Criticou também os nacionalismos, ainda na figura dos modernistas da Semana de Arte de 22, que cometeram, em sua opinião, "certos excessos verde-amarelos".
Tampouco pôde sair incólume da palestra o grande símbolo da "modernidade de 4ª geração": as novas tecnologias. Para ele, "as ciências da informação e as biotecnologias, destituídas de reguladores éticos, traçam um inquietante perfil do novo humanismo".
"O mundo se mostra desencantado", afirmou o escritor, para uma platéia que incluía, entre outros nomes, as escritoras Lygia Fagundes Telles e Leyla Perrone-Moysés, além do poeta Mário Chamie. "Há uma baixa radical nas taxas de esperança e no centro desse mal-estar se encontra o problema da desigualdade."
Ele conclamou: "É hora de reprogramarmos nossas contas com a modernidade ou tão-só de refazer sua planilha de justiça social". (CYNARA MENEZES)



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