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EVENTO
Em palestra na Folha, acadêmico e ex-ministro da Educação relativiza avanços
Modernidade pede justiça, diz Portella
especial para a Folha
O lado político do
escritor, acadêmico
e professor emérito
da Faculdade de Letras da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) Eduardo Portella não resistiu ao chamado:
convidado pela Folha a falar sobre a modernidade, acabou por
lembrar da necessidade de justiça
social como forma de "reprogramar" o conceito.
Portella discorreu sobre o tema
no auditório do jornal, no último
dia 10, numa palestra que fazia
parte do ciclo "Com Todas as Letras", em que membros da Academia Brasileira de Letras falam sobre temas diversos, com destaque
para a literatura e a arte em geral.
Respondendo a "O Que É Modernidade?", Eduardo Portella
analisou as diferentes definições e
as próprias complexidades implícitas no tema, para chegar a uma
modernidade de fim de século,
por um lado, "sem coesão e talvez
daí venha sua grandeza" e, por
outro, sombria.
"Constatamos o envelhecimento da modernidade e a irrupção
da pós-modernidade, a que eu
chamo baixa modernidade. É
uma modernidade um tanto parasitária, dedicada a colecionar
sem criticar, a acumular sem distribuir", disse o escritor, que foi
ministro da Educação no governo
João Figueiredo (1979-1985).
Os políticos, aliás, não se safaram de algumas críticas, como
quando, a pretexto de confirmar
que as grandes narrativas não
morreram, ironizou os "discursos
edificantes do período eleitoral,
cujas promessas de igualdade, liberdade e fraternidade continuam intactas".
Criticou também os nacionalismos, ainda na figura dos modernistas da Semana de Arte de 22,
que cometeram, em sua opinião,
"certos excessos verde-amarelos".
Tampouco pôde sair incólume
da palestra o grande símbolo da
"modernidade de 4ª geração": as
novas tecnologias. Para ele, "as
ciências da informação e as biotecnologias, destituídas de reguladores éticos, traçam um inquietante perfil do novo humanismo".
"O mundo se mostra desencantado", afirmou o escritor, para
uma platéia que incluía, entre outros nomes, as escritoras Lygia
Fagundes Telles e Leyla Perrone-Moysés, além do poeta Mário
Chamie. "Há uma baixa radical
nas taxas de esperança e no centro
desse mal-estar se encontra o problema da desigualdade."
Ele conclamou: "É hora de reprogramarmos nossas contas
com a modernidade ou tão-só de
refazer sua planilha de justiça social".
(CYNARA MENEZES)
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