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ANÁLISE
Globo vê música como efêmera, mas se desdiz na prática
DA REPORTAGEM LOCAL
Ninguém em sã consciência
há de negar o efeito pernicioso do comercialismo global sobre a MPB -é só ver a hipertrofia
recente, no cenário musical, de
seus axezeiros, sertanejos e xuxas.
Mas também é inegável que a análise das mutretas passadas ajuda a
entender, e muito, o que se passou
até que a pequena Sandy detonasse tudo na novela das 18h.
De cara se vê que mutreta não
anula, necessariamente, qualidade -duradouras associações como as de Marcos & Paulo Sérgio
Valle e Toquinho & Vinicius à
Globo podiam ser preferenciais,
mas renderam trilhas como a rede
nunca mais soube repetir.
Em 75, "Gabriela" inaugurou
brilhantemente uma fase em que
a nata da MPB viu que podia se
beneficiar, e muito, do poder de
estar na Globo. Ao mesmo tempo,
um pé da rede no underground
propiciava, quem diria, sucesso
aos malditos Cassiano, Luiz Melodia, Ednardo, Angela Ro Ro.
O poder, como de praxe no Brasil, deteriorou relações. Atores
globais (Sonia Braga, Fábio Jr.,
Beth Goulart) "despontaram" como cantores; uma certa Denise
Emmer pintou em toda novela de
Janete Clair (era sua filha), e Lucinha Araújo, mulher do diretor da
Som Livre, em "Água Viva"; a
Globo impôs suas preferências:
Fafá de Belém, Guilherme Arantes e Ronaldo Resedá frequentaram-na assiduamente, mas suas
carreiras só seguiram em popa
enquanto a poderosa os amou.
Historicamente, a Globo prega a
música como bem transitório
(não à toa, Hermes Aquino cantou "eu sou nuvem passageira"
em "O Casarão" e se foi). Mas a
vingança vem de dentro, quando
esta bela coleção contradiz o teorema ou quando Sandy e Paulo
Ricardo demonstram na tela das
18h, ensandecidos, o que música
não é.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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