São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2001

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ANÁLISE

Globo vê música como efêmera, mas se desdiz na prática

DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém em sã consciência há de negar o efeito pernicioso do comercialismo global sobre a MPB -é só ver a hipertrofia recente, no cenário musical, de seus axezeiros, sertanejos e xuxas. Mas também é inegável que a análise das mutretas passadas ajuda a entender, e muito, o que se passou até que a pequena Sandy detonasse tudo na novela das 18h.
De cara se vê que mutreta não anula, necessariamente, qualidade -duradouras associações como as de Marcos & Paulo Sérgio Valle e Toquinho & Vinicius à Globo podiam ser preferenciais, mas renderam trilhas como a rede nunca mais soube repetir.
Em 75, "Gabriela" inaugurou brilhantemente uma fase em que a nata da MPB viu que podia se beneficiar, e muito, do poder de estar na Globo. Ao mesmo tempo, um pé da rede no underground propiciava, quem diria, sucesso aos malditos Cassiano, Luiz Melodia, Ednardo, Angela Ro Ro.
O poder, como de praxe no Brasil, deteriorou relações. Atores globais (Sonia Braga, Fábio Jr., Beth Goulart) "despontaram" como cantores; uma certa Denise Emmer pintou em toda novela de Janete Clair (era sua filha), e Lucinha Araújo, mulher do diretor da Som Livre, em "Água Viva"; a Globo impôs suas preferências: Fafá de Belém, Guilherme Arantes e Ronaldo Resedá frequentaram-na assiduamente, mas suas carreiras só seguiram em popa enquanto a poderosa os amou.
Historicamente, a Globo prega a música como bem transitório (não à toa, Hermes Aquino cantou "eu sou nuvem passageira" em "O Casarão" e se foi). Mas a vingança vem de dentro, quando esta bela coleção contradiz o teorema ou quando Sandy e Paulo Ricardo demonstram na tela das 18h, ensandecidos, o que música não é. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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