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Crítica
Inteligência e beleza aplacam gosto amargo
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem considera
Adriana Calcanhotto
uma das melhores artistas de sua geração, capaz de
conciliar com naturalidade o
sofisticado e o digestivo, é inegável a frustração de ver só quatro composições com o seu nome em "Maré".
E, das 11 faixas, sete já tiveram gravações anteriores
-ainda que algumas sejam
pouco conhecidas.
O que compensa esse gosto
amargo é a qualidade do repertório, somada às inteligentes
interpretações de Calcanhotto
e a uma coesão sonora que não
significa uniformidade.
E um CD que tem "Seu Pensamento" (Dé Palmeira/Calcanhotto) e "Teu Nome Mais Secreto" (Calcanhotto/Waly Salomão) já vale ter sido feito.
A primeira combina, em música e letra, delicadeza e profundidade, aproximando firmamento de apartamento.
A
segunda é um Waly puro malte,
com referências árabes e belas
aliterações ("Só meu sangue sabe tua seiva e senha"), e cuja
melodia ganha vertigens com o
violão de Jards Macalé.
Das outras de Calcanhotto,
"Para Lá" aparece mais como
balada pop, perdendo a gravidade bonita da versão de Arnaldo Antunes, o letrista. E "Maré"
(melodia de Moreno Veloso)
tem leveza tão agradável que
até disfarça a força da letra.
Já "Sargaço Mar" está quase
no osso, sem o tom rasga-coração de Nana Caymmi, mas também comovente.
A intérprete inteligente está
clara nas recriações de "Três",
"Onde Andarás", "Mulher sem
Razão" e "Porto Alegre". Só
"Sem Saída", com notas mais
longas e guitarras meio distorcidas, destoa do conjunto.
(LFV)
MARÉ
Artista: Adriana Calcanhotto
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: bom
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