São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Comida

O maior churrasco do mundo

Com 12 mil kg de carne, Uruguai entra para o "Guinness Book"; ativistas protestam: "Quantas vidas valem um recorde?"

DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MONTEVIDÉU

Entre fumaça, risos, lágrimas e fogos de artifício, 1.250 churrasqueiros e 23 mil comensais festejaram no último domingo, em Montevidéu, a terceira entrada do Uruguai no "Guinness Book", o livro dos recordes, como o país que realizou o maior churrasco do mundo.
Antes da façanha carnívora, o vizinho sul-americano figurava no registro de superlativos por conta do gol mais rápido do planeta (feito aos dois segundos de jogo) e pelo fato de possuir um jornalista à frente do mesmo programa de rádio desde 1970.
Quando, por volta das 16h, o último pedaço dos 12 mil kg de vazio (corte conhecido no Brasil como aba de filé e fraldinha) saiu da "parrilla" de 1.500 m -uma estrutura pilotada por voluntários convidados e outros sorteados entre a população, grupo que trabalhou durante cinco horas-, o representante do Guinness World Records Danny Girton Jr. subiu ao palco montado no centro da churrasqueira para atestar que os uruguaios haviam batido a marca anteriormente alcançada pelos mexicanos, que em 2006 prepararam 8.000 kg de carne em uma churrasqueira de 1.200 m.
A notícia desencadeou uma saraivada de chapéus brancos para o ar -parte da vestimenta dos voluntários, trajados com um avental e um chapéu de mestre-cuca fornecidos pela produção do evento- e um espetáculo à parte do ministro de Agricultura do país, Ernesto Agazzi, que dançou e pulou ao lado dos churrasqueiros.
Com lágrimas nos olhos, Luis Alfredo Fratti, presidente do Instituto Nacional de Carnes, entidade responsável pela empreitada, recebeu o certificado oficial, enquanto parte do público entrava no clima com abraços e gritos de guerra.
"Internamente, queremos que a população urbana entenda os costumes do campo e, externamente, que se conheça a cultura do churrasco, que se associe o Uruguai com a produção de carne", disse Fratti.

Carvão no lugar da lenha
O bom tempo -apesar do vento frio e forte que potencializou a fumaça das churrasqueiras- contribuiu para que o público esperasse pacientemente pelo pedaço de carne e de pão a que dava direito o ingresso de 60 pesos (cerca de R$ 6) estabelecido para a entrada na Rural del Prado, centro montevideano de exposições e eventos tradicionalmente relacionados com as atividades campestres do país.
Ao contrário do que manda o manual do bom churrasco à uruguaia, a carne foi assada sobre carvão, e não sobre lenha, tanto por uma questão de praticidade (o carvão é mais rápido para cocção) quanto de economia: seriam necessários 200 mil kg de madeira para fazer o trabalho dos 6.000 kg de carvão utilizados.
Se perto das "parrillas" o espírito era de entusiasmo e comemoração, do lado de fora da Rural um grupo de 30 ativistas da organização internacional AnimaNaturalis, de defesa dos direitos dos animais, puxava brasa para o fato de o "Guinness" haver sido conquistado à custa da morte de 2.000 vacas. "Quantas vidas valem um recorde?", questionavam os cartazes dos manifestantes, todos vestidos de preto.
"Queremos convidar as pessoas, de forma pacífica, a refletirem sobre a participação em algo sobre o qual talvez não tenham pensado de fato. Essa é uma atividade que nos faz avançar como sociedade?", indagou Martín González, integrante da organização.
"O Uruguai tem um mercado para explorar na área de softwares. Seria mais nobre exportar conhecimento, e não assassinato. Há outras formas de chamar a atenção do mundo."


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