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Comida
O maior churrasco do mundo
Com 12 mil kg de carne, Uruguai entra para o "Guinness Book"; ativistas protestam: "Quantas vidas valem um recorde?"
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MONTEVIDÉU
Entre fumaça, risos, lágrimas
e fogos de artifício, 1.250 churrasqueiros e 23 mil comensais
festejaram no último domingo,
em Montevidéu, a terceira entrada do Uruguai no "Guinness
Book", o livro dos recordes, como o país que realizou o maior
churrasco do mundo.
Antes da façanha carnívora, o
vizinho sul-americano figurava
no registro de superlativos por
conta do gol mais rápido do planeta (feito aos dois segundos de
jogo) e pelo fato de possuir um
jornalista à frente do mesmo
programa de rádio desde 1970.
Quando, por volta das 16h, o
último pedaço dos 12 mil kg de
vazio (corte conhecido no Brasil como aba de filé e fraldinha)
saiu da "parrilla" de 1.500 m
-uma estrutura pilotada por
voluntários convidados e outros sorteados entre a população, grupo que trabalhou durante cinco horas-, o representante do Guinness World
Records Danny Girton Jr. subiu ao palco montado no centro
da churrasqueira para atestar
que os uruguaios haviam batido a marca anteriormente alcançada pelos mexicanos, que
em 2006 prepararam 8.000 kg
de carne em uma churrasqueira de 1.200 m.
A notícia desencadeou uma
saraivada de chapéus brancos
para o ar -parte da vestimenta
dos voluntários, trajados com
um avental e um chapéu de
mestre-cuca fornecidos pela
produção do evento- e um espetáculo à parte do ministro de
Agricultura do país, Ernesto
Agazzi, que dançou e pulou ao
lado dos churrasqueiros.
Com lágrimas nos olhos, Luis
Alfredo Fratti, presidente do
Instituto Nacional de Carnes,
entidade responsável pela empreitada, recebeu o certificado
oficial, enquanto parte do público entrava no clima com
abraços e gritos de guerra.
"Internamente, queremos
que a população urbana entenda os costumes do campo e, externamente, que se conheça a
cultura do churrasco, que se associe o Uruguai com a produção de carne", disse Fratti.
Carvão no lugar da lenha
O bom tempo -apesar do
vento frio e forte que potencializou a fumaça das churrasqueiras- contribuiu para que o
público esperasse pacientemente pelo pedaço de carne e
de pão a que dava direito o ingresso de 60 pesos (cerca de R$
6) estabelecido para a entrada
na Rural del Prado, centro
montevideano de exposições e
eventos tradicionalmente relacionados com as atividades
campestres do país.
Ao contrário do que manda o
manual do bom churrasco à
uruguaia, a carne foi assada sobre carvão, e não sobre lenha,
tanto por uma questão de praticidade (o carvão é mais rápido
para cocção) quanto de economia: seriam necessários 200
mil kg de madeira para fazer o
trabalho dos 6.000 kg de carvão
utilizados.
Se perto das "parrillas" o espírito era de entusiasmo e comemoração, do lado de fora da
Rural um grupo de 30 ativistas
da organização internacional
AnimaNaturalis, de defesa dos
direitos dos animais, puxava
brasa para o fato de o "Guinness" haver sido conquistado à
custa da morte de 2.000 vacas.
"Quantas vidas valem um recorde?", questionavam os cartazes dos manifestantes, todos
vestidos de preto.
"Queremos convidar as pessoas, de forma pacífica, a refletirem sobre a participação em
algo sobre o qual talvez não tenham pensado de fato. Essa é
uma atividade que nos faz
avançar como sociedade?", indagou Martín González, integrante da organização.
"O Uruguai tem um mercado
para explorar na área de softwares. Seria mais nobre exportar conhecimento, e não assassinato. Há outras formas de
chamar a atenção do mundo."
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