A banda que já vendeu 80 milhões de discos em 27 anos leva a Interlagos legião de fãs; confira casos da kissmania no Brasil

ERIKA SALLUM
da Reportagem Local

O Kiss Army (Exército do Kiss) está à solta novamente. Os fãs de uma das bandas mais cultuadas do planeta são também um dos mais fiéis séquitos da história do pop.
Vale qualquer coisa em nome do grupo: tatuar o corpo com o rosto dos integrantes, pagar uma nota preta para ver a turnê no exterior, se hospedar no mesmo hotel que os caras e até convidar uma das muitas "Kiss covers" para tocar no próprio casamento.
Um bom exemplo de quão longe pode chegar o amor de um desses fãs é a advogada Fabiana Mathias, 24. Há dois anos, ela resolveu tatuar nas costas o rosto do "ícone da sensualidade e do sucesso", o guitarrista e vocalista Paul Stanley.
Isso não bastou. Dois meses depois, Fabiana decidiu desenhar, ao lado do ídolo, os três outros integrantes da banda. Detalhe: a estrela que Stanley "Starchild" tem pintada no olho direito está invertida em sua tatuagem. "Toda vez que olhar no espelho, a estrela estará no lugar certo", explica.
A advogada teve de enfrentar pais, namorado e principalmente a carreira para poder ter no corpo o(s) motivo(s) de tanta devoção. "Ninguém do meu trabalho sabe da tatuagem. Nunca uso camiseta regata e sempre morro de calor. Não me arrependo."
Aos 30 anos, Carlos Eduardo Chiaroni exibe em sua loja de discos, nas Grandes Galerias (r. 24 de Maio, 62, 2º andar), em São Paulo, álbuns raros, carrinhos, bonecos, camisetas, chaveiros e até uma guitarra de Stanley, tudo em duas vitrines dedicadas ao Kiss.
Mas nada se compara a dois itens que Carlinhos, como é conhecido pela tribo de "kisseiros", tem: um autógrafo do guitarrista Ace "Spaceman" Frehley e a "Kisstory", uma espécie de Bíblia do grupo com mais de 450 páginas.
"Só foram editados poucos exemplares -o meu é o nº 233. Só vendo por mais de R$ 1.500", diz.
Na festa de seu casamento, em 93, adivinhe quem tocou? Uma banda cover do Kiss, claro! "Ele não aguentou e acabou subindo no palco e cantando também", afirma a mulher, Mônica, 29.
O filho do casal, Rafael, não ficou ileso. Com 1 ano e 9 meses, ele só almoça se a mãe pôr no toca-discos o "show", como ele chama a música "Psycho Circus", aquela do refrão "welcome to the show". "Ele pode ter medo de Papai Noel, mas não do Kiss", conta o pai coruja.
Um dos mais famosos admiradores paulistanos do grupo é, sem dúvida, Rodrigo Ramos, 27, da Kreatures Kiss Cover, fundada em 1997. Aficionado pelo Kiss, em 94 ele se hospedou no hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, ao lado do quarto do baixista Gene Simmons. Este ano, ele diz que não terá dinheiro para repetir a aventura.
Ramos participou, em 95, em Miami, de um dos eventos mais cobiçados pelos kisseiros do mundo inteiro: uma Kiss Convention, espécie de Mercado Mundo Mix da banda, com estandes, palestras, roupas.
Com ingresso em torno de US$ 100, as Kiss Conventions oficiais têm um final apoteótico, com uma apresentação do grupo, em geral acústica. "Lá, tive a sorte de entrar no camarim do Simmons, foi um momento inesquecível."
Ramos, que na Kreatures interpreta Ace Frehley, viajou aos EUA em 98 só para ver o primeiro show da turnê "Psycho Circus". De quebra, assistiu a outros três, em Nova York. "Vou para a puta que pariu se precisar por causa do Kiss." A pedidos: o telefone de contato da cover é 011/884-7675.
Viajar em nome da banda do coração é quase uma norma entre o fãs do Kiss. Não é difícil encontrar gente obcecada pelo quarteto que tenha ido a Buenos Aires, no sábado passado, e Porto Alegre, anteontem, só para ver o shows antes de SP.
André Graziano, 28, por exemplo, fez mais do que ir ao Rio Grande do Sul: conseguiu descolar com um amigo um lugar no mesmo vôo que o Kiss para São Paulo. "Claro que vou aproveitar para falar com eles e tirar fotos. Quando terei outra oportunidade como essa?", diz.
Internauta, recebe por dia dezenas de e-mails sobre a banda vindos de várias partes do mundo e aproveita para divulgar o melhor site que existe dedicado ao Kiss: www.kissasylum.com, uma página não-oficial onde é possível achar desde curiosidades a dicas quentíssimas sobre a turnê. Outro site bacana é o www.kissonline.com.
Amigo de Graziano, Maurício Souza, 28, tem uma videoteca com mais de 300 fitas com imagens da banda. Só da turnê "Psycho Circus", ele possui 12, que aluga para outros fãs.
"É surpreendente. Quando se assiste a um show deles, você volta a ser criança. Todo mundo tem um hobby na vida. Esse é o meu, muito mais do que amor pelo rock. É um estilo de vida, cujo tema é "acredite no seu sonho"."
De todos eles, o artista gráfico Roberto Costabile Jr., 27, talvez seja o fã brasileiro que mais chegou perto de seu ídolo, Gene Simmons. Conhecido pelos desenhos que faz da banda, em 94 ele presenteou Simmons com uma camiseta em que reproduzia o rosto do baixista. Simmons adorou o presente e usou a camiseta na turnê, inclusive no "Programa Livre", no SBT.
"Sempre gostei de barulho, sou "from hell" (do inferno). Adoro o Simmons, ele é o homem."
Hoje à noite, quando Simmons, Stanley, Frehley e Criss subirem ao palco, terão uma bela idéia de quantos Simmons, Stanleys, Frehleys e Crisses existem em solo brasileiro. Welcome to the show!


Texto Anterior: Hoje é dia de circo
Próximo Texto: Ainda há ingressos disponíveis
Índice