São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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RELÂMPAGOS

Relento

JOÃO GILBERTO NOLL

"Esse atraso corta o raciocínio", dizia um homem de jaleco a me olhar. Eu estava entrando à toa na sala. Por que logo ali, merecendo aqueles olhares de desaprovação? Poderia ter entrado em outros compartimentos -o prédio era enorme, tantos corredores... Mas abri aquela porta. E não devia recuar. Três passos até a cadeira onde sentei. Todos saíam. Restando tão-só um cadáver ali na mesa de aço, com certeza fria... "De folga, anatomia?" Fui ver... Levantei o pano que cobria o defunto. Vi sem surpresa: era um colega meu morador de rua. Andava mesmo se queixando de dores. Curvei-me, como costumava fazer toda a manhã para ouvi-lo pedir a hora. A hora na torre do cartão-postal. Tirava-a do bolso como um truque. A minha locução inaugurava o dia.


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