São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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Prêmio Jabuti escolhe melhores livros do ano

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao escolher Lygia Fagundes Telles, por "Invenção e Memória", e Fernando Morais, por "Corações Sujos", como "melhores do ano", o júri do Prêmio Jabuti reafirmou a tendência de consagrar, com seu maior prêmio, escritores consolidados no meio literário.
A premiação, organizada pela Câmara Brasileira do Livro desde 1958, tem 16 categorias -como romance, poesia, conto e livro-reportagem. Em abril, a CBL divulgou os três vencedores de cada categoria, cada um contemplado com a estatueta do jabuti.
No dia 19, na Bienal Internacional do Livro do Rio, cada lista terá um vencedor máximo, que leva o prêmio em dinheiro (R$ 1.000). Os premiados como Melhor Livro do Ano, nas categorias ficção e não-ficção, também saem da lista. Lygia Fagundes Telles e Fernando Morais receberão, no mesmo dia 19, R$ 12 mil cada um.
Apesar de "veterana" no prêmio -foi premiada em 65 e em 74-, Lygia Fagundes Telles nunca havia sido considerada escritora do ano em outra ocasião. A autora de "As Meninas" e ocupante da cadeira de número 16 da Academia Brasileira de Letras mostrou-se feliz com a premiação. "Sou um ser muito sensível ao reconhecimento", disse ao receber a Folha em sua casa, em São Paulo.
Seu trabalho premiado, como diz o título, mescla, em narrativas curtas, lembranças pessoais e ficção. "Eu não faria uma autobiografia. Não vai ter graça esse livro. Não sou uma narcisista, não me encanto com as coisas que aconteceram comigo. Eu quero sempre dar a esse testemunho um lado sedutor. Aí entra a invenção."
"Em "Dom Casmurro" -talvez o romance que eu mais ame de Machado de Assis-, Bentinho diz que tentou juntar as extremidades da vida, para compreender o que estava acontecendo. Ele não conseguiu. Talvez eu também estivesse tentando explicar a minha vida voltando para a infância. Expliquei? Não! Nem para os outros nem para mim mesma. Mas, enfim, se os outros gostaram, está justificada a tentativa."
Se a escritora mostra modéstia, Fernando Morais não escondeu a surpresa ao falar à Folha sobre a premiação. "Nenhum dos meus quatro livros anteriores havia sido nem sequer indicado."
Morais, que diz sempre preparar dois projetos ao mesmo tempo, já estava envolvido na biografia de Antonio Carlos Magalhães, que continua elaborando, quando se deparou com a história de "Corações Sujos" -a da sociedade Shindo Renmei, criada por japoneses radicados no Brasil que, se negando a acreditar na derrota do Japão na Segunda Guerra, perseguiram e mataram compatriotas que aceitaram o fato.
Ele frisa que faz jornalismo, e não literatura. "Com tratamento formal que procuro fazer o mais literário possível, esteticamente falando, para seduzir o leitor."
Além de se esmerarem em tal sedução, os dois autores concordam em outro ponto: faltam no Brasil outros concursos literários.
"Um prêmio é profissionalmente estimulante e, sem nenhuma dúvida, ajuda a vender livro", diz Morais, que completa: "Mesmo para alguém que tem mais estrada é uma enorme satisfação". Lygia Fagundes Telles concorda. Ela diz não saber indicar outro caminho aos jovens que não o dos concursos. "Mas às vezes o único prêmio que vem é a coroa com a fita roxa, a homenagem póstuma."



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