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Prêmio Jabuti escolhe melhores livros do ano
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao escolher Lygia Fagundes Telles, por "Invenção e Memória", e
Fernando Morais, por "Corações
Sujos", como "melhores do ano",
o júri do Prêmio Jabuti reafirmou
a tendência de consagrar, com seu
maior prêmio, escritores consolidados no meio literário.
A premiação, organizada pela
Câmara Brasileira do Livro desde
1958, tem 16 categorias -como
romance, poesia, conto e livro-reportagem. Em abril, a CBL divulgou os três vencedores de cada categoria, cada um contemplado
com a estatueta do jabuti.
No dia 19, na Bienal Internacional do Livro do Rio, cada lista terá
um vencedor máximo, que leva o
prêmio em dinheiro (R$ 1.000).
Os premiados como Melhor Livro
do Ano, nas categorias ficção e
não-ficção, também saem da lista.
Lygia Fagundes Telles e Fernando
Morais receberão, no mesmo dia
19, R$ 12 mil cada um.
Apesar de "veterana" no prêmio -foi premiada em 65 e em
74-, Lygia Fagundes Telles nunca havia sido considerada escritora do ano em outra ocasião. A autora de "As Meninas" e ocupante
da cadeira de número 16 da Academia Brasileira de Letras mostrou-se feliz com a premiação.
"Sou um ser muito sensível ao reconhecimento", disse ao receber a
Folha em sua casa, em São Paulo.
Seu trabalho premiado, como
diz o título, mescla, em narrativas
curtas, lembranças pessoais e ficção. "Eu não faria uma autobiografia. Não vai ter graça esse livro.
Não sou uma narcisista, não me
encanto com as coisas que aconteceram comigo. Eu quero sempre dar a esse testemunho um lado sedutor. Aí entra a invenção."
"Em "Dom Casmurro" -talvez
o romance que eu mais ame de
Machado de Assis-, Bentinho
diz que tentou juntar as extremidades da vida, para compreender
o que estava acontecendo. Ele não
conseguiu. Talvez eu também estivesse tentando explicar a minha
vida voltando para a infância. Expliquei? Não! Nem para os outros
nem para mim mesma. Mas, enfim, se os outros gostaram, está
justificada a tentativa."
Se a escritora mostra modéstia,
Fernando Morais não escondeu a
surpresa ao falar à Folha sobre a
premiação. "Nenhum dos meus
quatro livros anteriores havia sido
nem sequer indicado."
Morais, que diz sempre preparar dois projetos ao mesmo tempo, já estava envolvido na biografia de Antonio Carlos Magalhães,
que continua elaborando, quando se deparou com a história de
"Corações Sujos" -a da sociedade Shindo Renmei, criada por japoneses radicados no Brasil que,
se negando a acreditar na derrota
do Japão na Segunda Guerra, perseguiram e mataram compatriotas que aceitaram o fato.
Ele frisa que faz jornalismo, e
não literatura. "Com tratamento
formal que procuro fazer o mais
literário possível, esteticamente
falando, para seduzir o leitor."
Além de se esmerarem em tal
sedução, os dois autores concordam em outro ponto: faltam no
Brasil outros concursos literários.
"Um prêmio é profissionalmente estimulante e, sem nenhuma
dúvida, ajuda a vender livro", diz
Morais, que completa: "Mesmo
para alguém que tem mais estrada
é uma enorme satisfação". Lygia
Fagundes Telles concorda. Ela diz
não saber indicar outro caminho
aos jovens que não o dos concursos. "Mas às vezes o único prêmio
que vem é a coroa com a fita roxa,
a homenagem póstuma."
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