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MÚSICA
Lulu Santos, 49, reúne new wave dos 80 com batida eletrônica em "Programa"
Tempos modernos
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
No ano em que seu primeiro LP
("Tempos Modernos") completa
20 anos de idade, Lulu Santos, 49,
entrega a seu público "Programa", um CD que brinca de retomar o espírito new wave que esvoaçava sobre os primeiros anos
80 e ajudou a originar o pop-rock
brasileiro daquela década.
De cara, Lulu rejeita qualquer
comparação entre "Tempos Modernos" e "Programa". "Este disco representa mais os dez anos de
"Mondo Cane" (92) que os 20 de
"Tempos Modernos'", dispara.
"Meu primeiro disco era muito
tímido, desenxabido. O produtor
(Liminha) está muito mais ali que
eu. A pessoa que se expressava em
82 o faz vociferando em "Mondo
Cane". Foi um período vulcânico
na minha vida, mandei a PolyGram (hoje Universal) para o inferno, falei "fuck you" para (o presidente Marcos) Maynard, comecei minha vida de novo", lembra.
Isso não quer dizer, ele admite,
que o novo "Programa" signifique outro momento de ruptura:
"Não é ruptura com absolutamente nada. Mas tem uma jovialidade que me faz lembrar de que
sou um feliz beneficiário de aquela coisa ter acontecido em 92".
Mesmo afastando "Tempos
Modernos" da comparação, concorda em que o tom new wave
reaparece mais intensamente em
"Programa": "O CD começa com
uma bateria eletrônica, mas em
seguida entra nos 80, tem essa referência estilística à new wave".
Para ele o retorno se dá só até
certo ponto, no entanto: "Não é
uma volta aos 80, mas uma cápsula do tempo, o DNA de minha
carreira. Exatamente no meio do
CD, em "Salto Fino", entram a parte electro-tecno, linguagens que
usei dos anos 90 em diante".
Nessa segunda fase do CD cabem, então, canção composta em
79, antes de Lulu ser Lulu ("Salto
Alto"), uma parceria soul com o
mestre Marcos Valle e o discípulo
Ed Motta ("Walkpeople"), eletrônica pós-moderna ("Luca", para
seu neto), até uma também pós-moderna marchinha carnavalesca ("Eros e Tanatos").
A primeira metade seria uma
fisgada à garotada de 20 anos hoje
entusiasmada pelo revisionismo
de 82? "Eles gostam disso? Como
eu poderia saber?", desliza.
Não desliza, no entanto, de parecer zangado (ou irritado) em
duas letras, de "Amém" e "Eros e
Tanatos", mas não sabe (ou não
quer) explicar por quê. "Não sei
separar essa face reclamante do
resto da minha personalidade. Sei
por que escrevi, mas não tenho
por que contar", desliza de novo.
Por fim, fala do reencontro musical com os Paralamas do Sucesso, em particular com Herbert
Vianna, na instrumental "4 do 5"
(a referência é à data de nascimento, coincidente, de Lulu e do
caçula Herbert). Começa falando
de ambígua declaração que faz no
texto-release do CD ("O acidente
me fez descobrir que, diferenças
cosmogônicas à parte, tenho mais
afeto e respeito por ele do que
imaginava"):
"A gente conhece uma pessoa
há 20 anos e vê que as diferenças
foram aumentando, que não há
mais jeito de unir as duas histórias
num contínuo. Mas o acidente de
Herbert me fez ver que, diferenças
artísticas à parte, houve e há uma
identificação forte entre nós".
Tenta discriminar quais são tais
diferenças: "A partir dos anos 90,
passei a usar sequências pré-gravadas, o que é um tabu para bandas de rock. Para os Paralamas
devia ser frivolidade, como eu
achava que faltava alcance a eles
para fazer aquilo. Mas agora me
sinto como se quiséssemos muito
que um palestino e um judeu se
encontrassem em paz", fecha.
O jornalista Pedro Alexandre Sanches
viajou a convite da gravadora BMG
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