São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Lulu Santos, 49, reúne new wave dos 80 com batida eletrônica em "Programa"

Tempos modernos

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

No ano em que seu primeiro LP ("Tempos Modernos") completa 20 anos de idade, Lulu Santos, 49, entrega a seu público "Programa", um CD que brinca de retomar o espírito new wave que esvoaçava sobre os primeiros anos 80 e ajudou a originar o pop-rock brasileiro daquela década.
De cara, Lulu rejeita qualquer comparação entre "Tempos Modernos" e "Programa". "Este disco representa mais os dez anos de "Mondo Cane" (92) que os 20 de "Tempos Modernos'", dispara.
"Meu primeiro disco era muito tímido, desenxabido. O produtor (Liminha) está muito mais ali que eu. A pessoa que se expressava em 82 o faz vociferando em "Mondo Cane". Foi um período vulcânico na minha vida, mandei a PolyGram (hoje Universal) para o inferno, falei "fuck you" para (o presidente Marcos) Maynard, comecei minha vida de novo", lembra.
Isso não quer dizer, ele admite, que o novo "Programa" signifique outro momento de ruptura: "Não é ruptura com absolutamente nada. Mas tem uma jovialidade que me faz lembrar de que sou um feliz beneficiário de aquela coisa ter acontecido em 92".
Mesmo afastando "Tempos Modernos" da comparação, concorda em que o tom new wave reaparece mais intensamente em "Programa": "O CD começa com uma bateria eletrônica, mas em seguida entra nos 80, tem essa referência estilística à new wave".
Para ele o retorno se dá só até certo ponto, no entanto: "Não é uma volta aos 80, mas uma cápsula do tempo, o DNA de minha carreira. Exatamente no meio do CD, em "Salto Fino", entram a parte electro-tecno, linguagens que usei dos anos 90 em diante".
Nessa segunda fase do CD cabem, então, canção composta em 79, antes de Lulu ser Lulu ("Salto Alto"), uma parceria soul com o mestre Marcos Valle e o discípulo Ed Motta ("Walkpeople"), eletrônica pós-moderna ("Luca", para seu neto), até uma também pós-moderna marchinha carnavalesca ("Eros e Tanatos").
A primeira metade seria uma fisgada à garotada de 20 anos hoje entusiasmada pelo revisionismo de 82? "Eles gostam disso? Como eu poderia saber?", desliza.
Não desliza, no entanto, de parecer zangado (ou irritado) em duas letras, de "Amém" e "Eros e Tanatos", mas não sabe (ou não quer) explicar por quê. "Não sei separar essa face reclamante do resto da minha personalidade. Sei por que escrevi, mas não tenho por que contar", desliza de novo.
Por fim, fala do reencontro musical com os Paralamas do Sucesso, em particular com Herbert Vianna, na instrumental "4 do 5" (a referência é à data de nascimento, coincidente, de Lulu e do caçula Herbert). Começa falando de ambígua declaração que faz no texto-release do CD ("O acidente me fez descobrir que, diferenças cosmogônicas à parte, tenho mais afeto e respeito por ele do que imaginava"):
"A gente conhece uma pessoa há 20 anos e vê que as diferenças foram aumentando, que não há mais jeito de unir as duas histórias num contínuo. Mas o acidente de Herbert me fez ver que, diferenças artísticas à parte, houve e há uma identificação forte entre nós".
Tenta discriminar quais são tais diferenças: "A partir dos anos 90, passei a usar sequências pré-gravadas, o que é um tabu para bandas de rock. Para os Paralamas devia ser frivolidade, como eu achava que faltava alcance a eles para fazer aquilo. Mas agora me sinto como se quiséssemos muito que um palestino e um judeu se encontrassem em paz", fecha.


O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora BMG


Texto Anterior: Para dançar: After-hours de São Paulo têm "dança das cadeiras"
Próximo Texto: Crítica: Pegada new wave colore CD
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.