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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"MTV UNPLUGGED Nš 2.0"
CD mostra a cantora repelindo os flashes da fama
Lauryn Hill lança disco ao vivo de (auto) protesto
CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do multipremiado
disco de estréia "The Miseducation of Lauryn Hill", de 98, a
ex-vocalista dos Fugees volta com
material inédito, gravado ao vivo
no esquema banquinho e violão
para a MTV americana. O disco
chega às lojas do Brasil em duas
semanas.
O mote do novo álbum -duplo- é tão somente o velho dilema do "Oh, Deus, como eu pude fazer tanto sucesso".
Que você já viu esse filme não há
dúvida. A asfixia causada pelos
flashes da fama atormentou e em
muitos casos levou artistas desta
para melhor. A diferença é que
talvez pela primeira vez alguém
tenha feito um disco temático, totalmente voltado ao discurso "anti-sucesso".
Num dos muitos minutos que
"Lauryn Hill MTV Unplugged
2.0" dedica à falação há frases como: "Vocês vieram ver Lauryn
Hill. Mas vocês não me conhecem. Nunca me conheceram. Vou
apresentá-los a mim mesma. Enquanto eu cresço, vocês vão me
conhecendo um pouco melhor".
Há culpa, muita culpa espalhada
pelos 26 aninhos da cantora.
Mais adiante ela relativiza: "Sei
que o conteúdo de muitas dessas
músicas é pesado. As pessoas
querem fantasia. Mas precisam é
encarar a realidade".
Para emoldurar o discurso de
(auto)protesto, Hill se inspirou no
formato violão/voz rouca/letras
potentes que Bob Marley tanto
usou no passado. Aliás, se estivesse vivo, Marley não seria apenas
seu "muso" inspirador, mas o avô
dos dois filhos de Hill -a cantora
vive com Rohan, um dos zilhões
de filhos do rei do reggae.
Em alguns momentos, a moça
chega a plagiar (ou homenagear)
Marley. Em "I Find It Hard to Say
(Rebel)", ela diz: "O que eu tenho
a dizer é rebelem-se", frase que
Marley incluía, muitas vezes como improviso, em suas letras.
A voz de Hill, que ficou famosa
com a cover de Roberta Flack,
"Killing Me Softly", ainda nos Fugees, também parece embebida
em culpa. No disco, trocou o tom
cristalino pela rouquidão. Outra
referência a Marley?
Se musicalmente o disco mostra
que Hill sabe compor boas músicas -a ponto de dispensar banda
de acompanhamento- as letras,
até pela temática cansativa, pecam um pouco pelos clichês. Em
"I Just Want You Around" ela ataca: "Essa é a minha cruz/ Deixe-me carregá-la/ Eu estava perdida/
E agora me encontrei".
"I Gotta Find Peace of Mind" é
outra que exibe a culpinha de estimação de Hill. "Tenho que contar
a vocês/ O quanto de dor isso tem
me causado/ Às vezes eu brigo comigo mesma/ Não sei como você
aguenta alguém tão inseguro e
imaturo/ Por favor, não brigue
comigo/ Não tenho identidade".
A essa altura, se você fala inglês, já
está a ponto de mandar um e-mail
de apoio à auto-estima da moça.
Mas tem mais: ela termina a música se debulhando em lágrimas.
Em "Mystery of Iniquity" ela
põe no mesmo saco maus sentimentos: hipocrisia, orgulho, cobiça, vingança, promiscuidade, extorsão, ambição...
Em "I Get Out", ataca de frente a
indústria do disco. "Agora entendi que você quer me usar/ Mas resolvi optar pela vida/ Chega de
comprometimentos/ Eu saio de
todas as suas caixas/ Não respeito
o seu sistema/ Você não pode me
prender nessas correntes/ O sistema é uma piada/ Condicionamento animal, só para nos manter como escravos".
A moça, que já foi atriz -estrelou seriados de TV e filmes comerciais-, ganhou cinco prêmios Grammy de uma só vez e
frequentou uma das melhores
universidades dos EUA (a Columbia), não segurou a onda de
fazer sucesso, está claro.
Resta saber como ela vai encarar
o dualismo de vender bem um
disco como este.
MTV Unplugged Nš 2.0
Artista: Lauryn Hill
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 50, em média
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