São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra com 16 artistas que trabalham com linguagem fotográfica inaugura o espaço Vermelho, em SP

Nova galeria vira casa da fotografia-arte

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem tinta fresca no circuito das artes plásticas brasileiras. São Paulo ganha, a partir de hoje, um novo e ambicioso espaço dedicado apenas à produção artística contemporânea.
Galeria Vermelho é seu nome. Um vermelho que não se vê nas paredes brancas, projetadas pelo arquiteto maiúsculo Paulo Mendes da Rocha.
Vermelho é cor das bandeiras soviética ou nazista, de grandes e radicais transformações. E é mudança o que propõe o espaço de Eduardo Brandão e Eliana Finkelstein. A começar pelo lado de fora de suas paredes brancas.
Vermelho será a primeira galeria brasileira pensada para ser dupla-face, como um casaco que também se pode vestir do avesso.
Espécie de grande cubo branco, a galeria permite que se exponha nos dois andares do seu interior ou na sua generosa superfície externa. Isso já poderá ser visto hoje, na abertura da mostra coletiva de 16 artistas que inaugura o espaço.
E é aí, na escalação do time de artistas, que está retratado com mais clareza o anseio de renovação da galeria.
Vermelho também é a cor da luz que se usa nos laboratórios fotográficos, no momento delicado de manipulação do filme. E Vermelho, a galeria, reivindica o status de um laboratório da criação artística feita sobretudo à partir da linguagem fotográfica.
É o que revelam os trabalhos dos 20 artistas que serão representados inicialmente por Vermelho, que poderiam, para efeitos ilustrativos, ser divididos em dois grupos.
Nomes como Cassio Vasconcellos, Cláudia Jaguaribe, Eustáquio Neves, Paula Trope ou Cris Bierrenbach, que passam a integrar o "casting" de Vermelho, surgiram com força no cenário do final dos anos 80 e começo dos 90, seguindo um rastro então não muito visível no país, da criação artística com técnicas fotográficas -picada que começou a ser aberta por nomes como Geraldo de Barros nos primeiros anos 50.
Essa geração, da qual fazia parte ainda Rosângela Rennó (um dos poucos destaques dessa linguagem que não é "vermelha"), conquistou um bom espaço no circuito, mas nunca um espaço só.
A esse grupo vem se juntar, em meados dos anos 90, uma nova e poderosa safra de artistas jovens. Amilcar Packer, Rafael Assef, Edouard Fraipont e Rogério Canella são alguns dos que vêm se projetando nos últimos anos como expoentes da fotografia-arte ou arte fotográfica, habitat natural de Vermelho.
Técnicas contíguas, como a videoarte (para a qual a galeria tem um ambiente específico, uma "câmara escura") ou a performance, também são bem-vindos na galeria instalada em uma vila próxima à agitada avenida Dr. Arnaldo.
Aliás, a idéia é que todos sejam bem-vindos. "Um dos objetivos centrais da galeria é o de ser um espaço público de reflexão sobre arte", diz Eduardo Brandão, fotógrafo, professor da Faap e editor de fotografia da Revista da Folha.
Pensando nisso, ele levou parte de sua biblioteca, especializada em fotografia, para que seja consultada pelos visitantes da galeria e pelos seus alunos -ele também promove cursos no espaço.


GALERIA VERMELHO (coletiva de inauguração -além dos já citados, tem obras de Eliana Bordin, Domitilia Coelho, Paulo d'Alessandro, Cristina Guerra, Odires Mlászho, Alexandra Pescuma e Marcelo Zocchio) - Onde: r. Minas Gerais, 350, tel. 0/xx/11/ 3257-2033. Quando: hoje, às 20h (música com DJ Renato Cohen); ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Até 22/6. Preços das obras: de R$ 1.500 a R$ 5.500


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