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"O MUNDO ALEMÃO DE EINSTEIN"
Historiador reconstrói esplendor da ciência germânica
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Eu acredito -e essas são
as premissas básicas de
meu trabalho- que presente e
passado são indissociáveis, e que
vida e obra são difíceis de separar,
mesmo que os elos permaneçam
obscuros e, em parte, inconscientes." Assim se expressa o historiador da Alemanha do século 20, ao
focalizar a criatividade das ciências físicas e naturais, trazendo informações preciosas sobre os
grandes cientistas até a subida de
Hitler ao poder, o que para muitos historiadores foi a última façanha eurocêntrica.
A Alemanha do início do século
20 foi palco de grandes avanços
nas ciências naturais, incluindo a
medicina e a biologia, cujo nome
mais famoso é o de Paul Ehrlich, o
inventor da quimioterapia a partir das pesquisas sobre imunidade, cujo lema científico era "trabalhar duro, publicar pouco".
Ganhou por motivo justo o apodo de "magister mundi" da ciência médica, conhecido em todos
os lugares, conforme se pode verificar até aqui no Brasil pelos testemunhos do médico mineiro Silva
Mello, que se formou em medicina na Berlim de 1914, um ano antes de Ehrlich morrer de derrame.
Na área da física o historiador
Fritz Stern dedica todo um capítulo a Max Plank, que foi reitor da
universidade em 1913, autor de
um célebre discurso revelador de
seu auto-retrato como físico:
"Também na física, vale o preceito de que não há salvação sem fé,
pelo menos não sem fé em certa
realidade externa a nós".
Época de esplendor para a ciência física, época onde medrava,
como dizia o sociólogo Max Weber, a "ciência como vocação",
que é totalmente diferente da
ciência como carreira, que dá no
tipo abominável do carreirista
sem transcendência.
Professor da Universidade de
Columbia em Nova York, Fritz
Stern é um intelectual de estirpe
liberal muito bem entrosado e
conceituado na Alemanha.
Ele teve a sorte de ganhar de Helen Dukas, a assistente de Albert
Einstein (1879-1955), a correspondência deste mantida com
Fritz Haber, o notável químico
que descobriu um meio de fixar
nitrogênio a partir do ar, laureado
por isso com um Prêmio Nobel.
Haber foi amigo íntimo e confidente de Einstein, cuja personalidade se destaca no primeiro plano
da ciência no século 20.
Características dos machos
Antenado na política, inimigo
de Hitler, Einstein tinha verdadeiro horror da guerra: "As raízes
psicológicas da guerra são, em
minha opinião, biologicamente
fundadas nas características
agressivas dos machos". Não é
por acaso que manteve diálogo
com aquele outro gênio que teorizou sobre o instinto da morte: Sigmund Freud.
Einstein ficou fã dos progressos
alcançados pela antiga União Soviética depois da revolução de 17.
Ele tinha maior simpatia pelo socialismo. Tomou-se de uma aversão danada pela Alemanha a partir da barbárie nazista de Auschwitz, "o país de assassinos em
massa".
O chamado "novo Copérnico"
da física era realmente um indivíduo excepcional. Conta-se que
desde criança, aos 12 anos, tocava
violino, sonatas de Mozart e Beethoven, acompanhando sua mãe
ao piano.
Aliás, ele nasceu no meio de
uma família culta. Menino, se empolgou com a geometria eudidiana. Incrível que, aos 13 anos, tivesse lido "A Crítica da Razão Pura"
de Kant. Seu escritor preferido era
Heine, o mesmo de Karl Marx.
Embora trabalhasse com afinco
em suas pesquisas, Einstein, segundo o historiador, era chegado
no mulherio, um mulherengo, ou
melhor, um mulherófilo.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de "A Salvação da Lavoura" (ed. Casa
Amarela) e "Biomassa" (ed. Senac)
O Mundo Alemão de Einstein
Autor: Fritz Stern
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (408 págs.)
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