São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2004

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"O MUNDO ALEMÃO DE EINSTEIN"

Historiador reconstrói esplendor da ciência germânica

GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Eu acredito -e essas são as premissas básicas de meu trabalho- que presente e passado são indissociáveis, e que vida e obra são difíceis de separar, mesmo que os elos permaneçam obscuros e, em parte, inconscientes." Assim se expressa o historiador da Alemanha do século 20, ao focalizar a criatividade das ciências físicas e naturais, trazendo informações preciosas sobre os grandes cientistas até a subida de Hitler ao poder, o que para muitos historiadores foi a última façanha eurocêntrica.
A Alemanha do início do século 20 foi palco de grandes avanços nas ciências naturais, incluindo a medicina e a biologia, cujo nome mais famoso é o de Paul Ehrlich, o inventor da quimioterapia a partir das pesquisas sobre imunidade, cujo lema científico era "trabalhar duro, publicar pouco".
Ganhou por motivo justo o apodo de "magister mundi" da ciência médica, conhecido em todos os lugares, conforme se pode verificar até aqui no Brasil pelos testemunhos do médico mineiro Silva Mello, que se formou em medicina na Berlim de 1914, um ano antes de Ehrlich morrer de derrame.
Na área da física o historiador Fritz Stern dedica todo um capítulo a Max Plank, que foi reitor da universidade em 1913, autor de um célebre discurso revelador de seu auto-retrato como físico: "Também na física, vale o preceito de que não há salvação sem fé, pelo menos não sem fé em certa realidade externa a nós".
Época de esplendor para a ciência física, época onde medrava, como dizia o sociólogo Max Weber, a "ciência como vocação", que é totalmente diferente da ciência como carreira, que dá no tipo abominável do carreirista sem transcendência.
Professor da Universidade de Columbia em Nova York, Fritz Stern é um intelectual de estirpe liberal muito bem entrosado e conceituado na Alemanha.
Ele teve a sorte de ganhar de Helen Dukas, a assistente de Albert Einstein (1879-1955), a correspondência deste mantida com Fritz Haber, o notável químico que descobriu um meio de fixar nitrogênio a partir do ar, laureado por isso com um Prêmio Nobel. Haber foi amigo íntimo e confidente de Einstein, cuja personalidade se destaca no primeiro plano da ciência no século 20.

Características dos machos
Antenado na política, inimigo de Hitler, Einstein tinha verdadeiro horror da guerra: "As raízes psicológicas da guerra são, em minha opinião, biologicamente fundadas nas características agressivas dos machos". Não é por acaso que manteve diálogo com aquele outro gênio que teorizou sobre o instinto da morte: Sigmund Freud.
Einstein ficou fã dos progressos alcançados pela antiga União Soviética depois da revolução de 17. Ele tinha maior simpatia pelo socialismo. Tomou-se de uma aversão danada pela Alemanha a partir da barbárie nazista de Auschwitz, "o país de assassinos em massa".
O chamado "novo Copérnico" da física era realmente um indivíduo excepcional. Conta-se que desde criança, aos 12 anos, tocava violino, sonatas de Mozart e Beethoven, acompanhando sua mãe ao piano.
Aliás, ele nasceu no meio de uma família culta. Menino, se empolgou com a geometria eudidiana. Incrível que, aos 13 anos, tivesse lido "A Crítica da Razão Pura" de Kant. Seu escritor preferido era Heine, o mesmo de Karl Marx.
Embora trabalhasse com afinco em suas pesquisas, Einstein, segundo o historiador, era chegado no mulherio, um mulherengo, ou melhor, um mulherófilo.


Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de "A Salvação da Lavoura" (ed. Casa Amarela) e "Biomassa" (ed. Senac)

O Mundo Alemão de Einstein
    
Autor: Fritz Stern Editora: Companhia das Letras Quanto: R$ 49 (408 págs.)


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