São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Ambição de Terrence Malick produz viagem deslumbrante

PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CANNES

O mistério em torno do filme mais esperado do Festival de Cannes terminou ontem com a primeira projeção pública de "A Árvore da Vida", confirmando alguns mitos e pondo abaixo outros.
Sim, há dinossauros no filme; não, o personagem de Sean Penn não habita o espaço sideral, como chegou a se dizer em meio às especulações que pipocaram durante o período de pós-produção.
Mas o mistério não se dissolveu de todo, já que "A Árvore da Vida" tem a enorme ambição de filmar o próprio mistério -o que causou profunda dose de espanto até para fãs ardorosos de Malick.
Na verdade, o filme só faz levar às últimas consequências a visão muito pessoal do cineasta, que mistura uma câmera sensorial, próxima de seus personagens, a uma ambição holística, que pretende abarcar homem e natureza em um mesmo universo cinematográfico.
Até agora, Malick havia buscado esse efeito focando o detalhe, o microscópico; agora, ele se volta para o macro, recorrendo a efeitos digitais concebidos com a ajuda de Douglas Trumbull ("2001: Uma Odisseia no Espaço").
O resultado é uma viagem deslumbrante, que inclui imagens do espaço, fenômenos físicos e alusões ao surgimento da vida na Terra.
Do ponto de vista do som, o filme não é menos ambicioso. A narração em "off", uma constante em Malick, ganha um tom ainda mais poético, e a trilha sonora, espetacular como nunca, mistura Bach, Brahms, Mahler, Berlioz e Mozart, entre outros.
Toda essa viagem parte de um enredo muito simples: o cotidiano de três irmãos que crescem no meio-oeste americano nos anos 1950.
O pai (Brad Pitt) representa a natureza, autoritário, agressivo e competitivo; a mãe (Jessica Fuselier) representa a graça, que é a vida em toda sua plenitude.
Sean Penn é o irmão mais velho, em crise, que narra tudo de um futuro indeterminado. Ao radicalizar sua proposta de cinema, Malick vai fundo no simbolismo e alterna momentos sublimes a outros bem perto do kitsch.
É um filme de equilíbrio difícil, mas de originalidade e potência inegáveis.

A ÁRVORE DA VIDA
AVALIAÇÃO bom




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