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"JOHN BOCK E RIVANE NEUENSCHWANDER"
Artistas usam vida banal para criar regras de unidade
TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA
Depois das vanguardas das
artes plásticas dos anos 60,
como o minimalismo e a pop art,
a relação da mão do artista com os
objetos que ele manipula tornou-se mais distanciada. Elementos,
prontos, saídos de fornos da indústria, foram incorporados de
maneira fria. Os objetos chegavam prontos, sem nenhuma marca do trabalho do artista. Cabia a
esse articulá-los no espaço dado.
Ao mesmo tempo em que revelava virtualidades, tal procedimento mostrou um risco: um esquematismo frio, no qual o trabalho e o seu projeto mal se distinguiam. Vários artistas tomaram
esse excesso de controle como um
problema. Os nexos pragmáticos
deveriam ser substituídos por
uma relação mais sensível.
Rivane Neuenschwander e John
Bock, apesar de obterem resultados diferentes, usam de uma estratégia análoga para driblar o risco de rigidez esquemática. Eles
também lidam com objetos prontos. Apropriam-se de elementos
de uso comum e tentam rearticular sentidos, usando-os como evidência de uma vida do dia-a-dia.
Conhecido por suas performances, o alemão Bock soube aproveitar o caráter promíscuo de uma
obra que pode ocorrer em qualquer lugar. Os bonecos que o artista mostra na galeria constroem
seu sentido numa unidade dispersiva. São bonecos de corpos
meio amorfos, mas cheios de signos identificáveis. Os corpos estão
entremeados de móveis. Parecem
incorporar os produtos que esses
bonecos consomem e as imagens
que seus olhos-câmeras vêem.
E tais personagens parecem ser
tudo que incorporam, como se
somassem aos seus excrementos
suas sensações silenciosas e não se
identificassem com nada disso. A
interação entre os bonecos e o espectador, mais do que criar uma
experiência de alteridade, em que
os bonecos aludiriam a um sentido exemplar, cria algo mais promíscuo, misturado. Como se os
bonecos se constituíssem pelas
imagens captadas e se perdessem
em nós, numa identidade efêmera, mas pesada e amorfa.
A presença da vida banal, informe e volátil, no trabalho de
Neuenschwander, tem outro sentido. Mais lírica, a artista de Belo
Horizonte sempre tentou extrair
sentido daí. É onde encontra pequenas belezas, que surgem de situações discretas. A artista coloca
objetos distintos lado a lado, que
alteram a percepção do que aparentemente nos escaparia à vista.
Na galeria Fortes Vilaça, ela propõe um jogo. Faz uma parede cromática de fitas parecidas com as
do Senhor do Bonfim, com desejos inscritos. Daí deve-se escrever
um desejo num bilhete e trocar
por uma fita, realizando uma comunidade de desejos. Dessa forma a relação que a artista buscava
com objetos ou animais se estende a um convívio.
Entretanto, tal como a idéia de
dispersão em Bock, tal relação se
dá por regras estritas. Como no
artista alemão, parece ocorrer por
um rígido princípio de unidade.
As coisas só se perdem tendo um
centro como referência.
Desse modo, ambos trabalhos
recorrem a uma unidade para garantir a alusão e uma espécie de
simbolismo, muito harmonizante. Ficamos nos interrogando se
essa fuga de um esquematismo
objetivista não corre o risco de escorregar em uma unidade rija.
John Bock e Rivane Neuenschwander
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique
Coutinho, 1.500, Vila Madalena, São
Paulo, tel. 0/xx/11/3032-7066)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 10h às 17h. Até 28/6
Quanto: entrada franca
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