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São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

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O trio Yo la Tengo retorna ao pop repleto de crueza e melancolia, denunciadas em "Summer Sun"

Verão gelado

Divulgação
O trio norte-americano Yo la Tengo, que gravou o disco "Summer Sun"


THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

"O verão fede/ o verão demora muito para acabar." No mundo do Yo la Tengo, a época mais quente do ano não é assim tão aguardada.
Formado em 1984, em Hoboken, Nova Jersey, o veterano trio abre novamente seu universo para o pop com "Summer Sun", que chega ao Brasil via Trama.
Yo la Tengo nunca foi das bandas mais "ensolaradas", e agora, em seu décimo álbum, melancolia e crueza -como nos versos que iniciam este texto, de "Tiny Birds", ou "olhos pequenos estão abertos, mas eles não enxergam muito longe/ você pode machucar apenas aqueles que ama/ não aqueles em quem você está pensando", de "Little Eyes"- parecem brigar em temática com o título do disco (sol de verão).
"A coisa mais difícil do mundo para mim é descrever um álbum nosso. Definitivamente esse não é um disco "light'", afirma James McNew, baixista, que se juntou ao grupo (ou à dupla Ira Kaplan-Georgia Hubley) em 1991. "É muito difícil para mim dizer o que eu sentia enquanto fazia o disco. Prefiro deixar para a imaginação do ouvinte a tarefa de entender o disco. Isso dá às pessoas a chance de aplicar às músicas seus próprios sentimentos e pensamentos."
Com "Summer Sun", o Yo la Tengo experimentou sensação inédita para o grupo: o disco foi recebido com críticas negativas pela imprensa americana. Disseram, os críticos, que a banda se tornara pop, que fizeram uso de uma demasiada economia de guitarras, que ninguém imaginava que o grupo pudesse produzir um álbum como esse.
"Na verdade, recebo isso como um elogio. Todos os nossos álbuns são diferentes entre si. Acho que nossos fãs verdadeiros de certa forma nos autorizam para seguir novos caminhos", diz McNew. "E também não concordo com as críticas de que o disco não tenha barulho ou efeitos. Acho que tem experimentalismos, que tem guitarras. Até quando fazíamos um álbum inteiro cheio de guitarras eu sentia que nós não éramos como uma banda de rock, daquelas que dirigem motocicletas e fazem loucuras. Mas não quero justificar nada. Se as pessoas não gostarem, tudo bem." Assunto encerrado.

Kinks, Velvet
Desde 1986, quando lançou "Ride the Tiger", sua estréia em disco, o Yo la Tengo se transformou em queridinho da crítica. Suas músicas -marcadas por influências jazzísticas, não-convencionais e com variações de andamento- são eternamente comparadas a Velvet Underground.
"Se é feita com lógica, se a pessoa realmente tem referências sobre o assunto, [a comparação] não incomoda. Na verdade, acontecia mais antigamente, em quase toda entrevista", diz McNew.
Influência assumida para o baixista é a banda britânica pré-punk e fonte do britpop The Kinks. O Yo la Tengo serviu de banda de apoio a Ray Davies, líder dos Kinks, durante alguns shows em 2000. "Costumamos tocar algumas músicas deles em nossos shows, então não chegou a ser estranho. Mas foi assustador. E engraçado."
Em 2001, o grupo esteve no Brasil para uma série de shows em São Paulo, Rio e Paraná ("não tínhamos idéia do que encontraríamos. Ainda bem que tudo deu certo, nos divertimos bastante").
E, em época de Strokes e White Stripes, onde o Yo la Tengo e este "Summer Sun" se encaixam? "Não sei como nem onde o Yo la Tengo se encaixa. Sei que temos muita coisa em comum com Strokes e White Stripes, ambos têm muita influência dos anos 60 e dos 70. Acho que esse grupos conseguem uma coisa importante, que é fazer com que muita gente volte a escutar rock."


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