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Escapismo toma passarela no primeiro dia
Em cenários surreais, temporada abre com desfiles de Herchcovitch, Cavalera, Ellus, Ricardo Almeida e Sais
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
O escapismo deu o tom do primeiro dia da São Paulo Fashion
Week, ontem, no evento que lança até a próxima terça as coleções
de primavera-verão 2005, com 27
desfiles, no prédio da Fundação
Bienal, no parque Ibirapuera.
O governador Geraldo Alckimin apareceu no desfile da Cavalera. A adultescência (tendência
atual que aplica elementos infantis a produtos adultos) também
deu as caras. Está na moda.
Cenários surreais, como um jardim de flores verdadeiras para
Alexandre Herchcovitch, uma
montanha encantada para a Cavalera, com direito a passista de
escola de samba sentada numa almofada, e um carrossel para a Sais
(igualmente surreal foi a desnecessária entrada da apresentadora
Xuxa na passarela da Ellus, mas
mais para o lado negativo do que
para a adequação em relação ao
desfile -que foi bom, por sinal).
Alexandre Herchcovitch fez a
melhor apresentação. O tom é de
otimismo, num cenário feito de
um urso de gérberas. A inspiração
é nas bonecas russas. Ele trabalha
sobre volumes, sobreposições,
babados, em comprimentos sempre curtos e soltos, em minissaias,
bloomers (shortinhos repuxados)
e camisolas. Musselina, cetins e
algodões vestem as modelos, com
rosto limpo e angelical.
Promessa da temporada, a modelo Lucy Horn vem linda, com
vestido de capuz e zíper na frente,
estampa de rosas sobre o fundo
branco, evolução da silhueta do
inverno. O látex, caro a Herchcovitch, reaparece finíssimo.
Com inteligência, Herchcovitch
lida com tendências atuais como
feminilidade e o "crash" de estampas, como o mosaico com padronagem de tapete oriental em
incrível patchwork. O resultado
trata não só o infantil, mas tange o
folk, o étnico e até o religioso.
A Cavalera quer brincar de étnico, com inspiração latina. Talvez a
coleção só faça sentido mesmo no
backstage. Faltou espontaneidade
ao estilo descompromissado da
Cavalera. O melhor: o masculino,
com as deliciosas calças estampadas. O feminino, feito somente de
vestidinhos e babadinhos, não deve conseguir chegar às ruas.
Ao investir no índigo, a marca
prova que quer entrar para valer
na guerra do brim do mercado
brasileiro. Mais fofuras: a saariana
do sertão, a pólo de lurex dourado, mais a t-shirt com nomes dos
ícones latinos Rick Martin, Thalia, Maria Bonita e Fidel Castro.
A Ellus vem mais concentrada e
austera, num desfile que decola
com a alfaiataria em black jeans.
Pitadas de burlesco, máscaras, silhuetas eduardianas e anos 50, o
verão negro da Ellus traz perfeitos
paletozinhos, desdobrados de
modo contemporâneo, como no
look com shortinho de cetim, tudo com scarpin preto.
Os homens de Ricardo Almeida
abriram o dia. Ternos claros esboçam uma elegância mais informal, com cores frescas, como o lilás e o menta. O momento especial veio com o jeans claro com camiseta pink e blazer, em Thiago
Mann. Nem precisava dos (inexplicáveis) looks de cueca com
meia branca e sapato social preto.
Boas as calças, paletós meio grandes. Denílson, na primeira fila,
deve ter adorado.
Na Sais, as estampas infantis
(demais) contrastaram com a
música de boate da trilha sonora.
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