São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2004

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Escapismo toma passarela no primeiro dia

Em cenários surreais, temporada abre com desfiles de Herchcovitch, Cavalera, Ellus, Ricardo Almeida e Sais

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

O escapismo deu o tom do primeiro dia da São Paulo Fashion Week, ontem, no evento que lança até a próxima terça as coleções de primavera-verão 2005, com 27 desfiles, no prédio da Fundação Bienal, no parque Ibirapuera.
O governador Geraldo Alckimin apareceu no desfile da Cavalera. A adultescência (tendência atual que aplica elementos infantis a produtos adultos) também deu as caras. Está na moda.
Cenários surreais, como um jardim de flores verdadeiras para Alexandre Herchcovitch, uma montanha encantada para a Cavalera, com direito a passista de escola de samba sentada numa almofada, e um carrossel para a Sais (igualmente surreal foi a desnecessária entrada da apresentadora Xuxa na passarela da Ellus, mas mais para o lado negativo do que para a adequação em relação ao desfile -que foi bom, por sinal).
Alexandre Herchcovitch fez a melhor apresentação. O tom é de otimismo, num cenário feito de um urso de gérberas. A inspiração é nas bonecas russas. Ele trabalha sobre volumes, sobreposições, babados, em comprimentos sempre curtos e soltos, em minissaias, bloomers (shortinhos repuxados) e camisolas. Musselina, cetins e algodões vestem as modelos, com rosto limpo e angelical.
Promessa da temporada, a modelo Lucy Horn vem linda, com vestido de capuz e zíper na frente, estampa de rosas sobre o fundo branco, evolução da silhueta do inverno. O látex, caro a Herchcovitch, reaparece finíssimo.
Com inteligência, Herchcovitch lida com tendências atuais como feminilidade e o "crash" de estampas, como o mosaico com padronagem de tapete oriental em incrível patchwork. O resultado trata não só o infantil, mas tange o folk, o étnico e até o religioso.
A Cavalera quer brincar de étnico, com inspiração latina. Talvez a coleção só faça sentido mesmo no backstage. Faltou espontaneidade ao estilo descompromissado da Cavalera. O melhor: o masculino, com as deliciosas calças estampadas. O feminino, feito somente de vestidinhos e babadinhos, não deve conseguir chegar às ruas.
Ao investir no índigo, a marca prova que quer entrar para valer na guerra do brim do mercado brasileiro. Mais fofuras: a saariana do sertão, a pólo de lurex dourado, mais a t-shirt com nomes dos ícones latinos Rick Martin, Thalia, Maria Bonita e Fidel Castro.
A Ellus vem mais concentrada e austera, num desfile que decola com a alfaiataria em black jeans. Pitadas de burlesco, máscaras, silhuetas eduardianas e anos 50, o verão negro da Ellus traz perfeitos paletozinhos, desdobrados de modo contemporâneo, como no look com shortinho de cetim, tudo com scarpin preto.
Os homens de Ricardo Almeida abriram o dia. Ternos claros esboçam uma elegância mais informal, com cores frescas, como o lilás e o menta. O momento especial veio com o jeans claro com camiseta pink e blazer, em Thiago Mann. Nem precisava dos (inexplicáveis) looks de cueca com meia branca e sapato social preto. Boas as calças, paletós meio grandes. Denílson, na primeira fila, deve ter adorado.
Na Sais, as estampas infantis (demais) contrastaram com a música de boate da trilha sonora.


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