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CINEMA/"BATMAN BEGINS"
David S. Goyer, roteirista do quinto filme da série, fala sobre a adaptação que chega às telas hoje
"O nosso é o melhor", diz escritor de "Batman"
DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Em toda a história dos quadrinhos, sempre houve espaço para
o duplo, seja ele o alter ego do
próprio herói, sejam os personagens coadjuvantes que funcionam como uma espécie de contraponto moral aos mascarados.
Em "Batman Begins", quinto
filme da franquia, que estréia hoje
no país, o diretor Christopher Nolan teve também o seu "duplo". É
o roteirista David S. Goyer, nerd
de carteirinha e veterano em
transformar páginas de HQs em
fotogramas de cinema.
Em seu currículo, o escritor
norte-americano tem a trilogia
"Blade", a continuação de "O
Corvo", um novo roteiro para
"The Flash" -que começa a ser
escrito em 2006- e também assina um dos primeiros scripts de
"Motoqueiro Fantasma", previsto
para o ano que vem.
Parte da relação de Goyer com
as HQs vem de sua experiência de
quase quatro anos como escritor
da série "Sociedade da Justiça", da
DC Comics. A outra parte deve-se
ao fato de ter sido ele próprio devorador de gibis de super-heróis
desde a adolescência.
Integrante da comitiva que, no
início do mês, recebeu jornalistas
internacionais para conversar sobre "Batman Begins", em Los Angeles, Goyer falou à Folha, em entrevista exclusiva para a América
Latina. Falou, não. Sussurrou.
Acometido por uma laringite
severa, sua voz soava como a de
Harvey Pekar, roteirista underground americano que teve suas
HQs levadas ao cinema em "O
Anti-Herói Americano", vivido
por Paul Giamatti. Idiossincrasias
do mundo dos quadrinhos...
Folha - Muitos de seus filmes envolvem personagens de quadrinhos. Na sua opinião, que elementos fazem uma boa adaptação?
David S. Goyer - Creio que uma
boa adaptação de quadrinhos tenha de ter apreço pelo material-fonte. É necessário paixão por
quadrinhos mas também saber
quais elementos precisam ser mudados. Houve algumas grandes
adaptações de quadrinhos, como
"Homem-Aranha" e "X-Men", e
houve algumas nem tão boas. As
menos bem-sucedidas foram as
que mudaram muito em relação
aos quadrinhos originais. Pois
existe um motivo por que esses
personagens vêm tendo sucesso
por 40, 50 ou 66 anos, no caso do
Batman. Há algo importante a se
aprender ali [nas revistas].
Folha - Como compara o seu filme
com os outros "Batman"?
Goyer - O nosso é o melhor. Gosto de que não seja cartunesco,
mas realista, como se aquilo pudesse ter acontecido. Os outros
filmes se distanciaram muito de
como Batman é retratado nos
quadrinhos. Adoro os primeiros,
de Tim Burton, mas depois foi ficando como um programa de TV,
em direção à concepção popular
dele. Enquanto o nosso filme tem
mais o estilo [das "graphic novels"] de Frank Miller, Alan Moore, Dennis O'Neill, Neil Adams...
uma abordagem mais clássica,
dark e sóbria de Batman.
Folha - Ao mesmo tempo, o roteiro tenta preencher lacunas até então inexplicadas nas HQs...
Goyer - Somente queríamos um
"Batman" sério, que as pessoas
chorassem e que fosse um dos
grandes filmes de aventura de todos os tempos, não apenas um
"filme de quadrinhos". Queríamos sair de Gotham City e que o
batmóvel, o uniforme, as armas,
tudo fosse baseado na realidade.
Folha - Ao longo do filme, a palavra "medo" é usada com recorrência. Qual a importância desse elemento na história de Batman?
Goyer - O medo é a força-guia na
vida de Bruce Wayne. Foi para superá-lo que criou o Batman. É
também o medo que guia [os vilões] Ra's Al Ghul e Espantalho. O
medo é o grande tema do filme.
Folha - E dos EUA também?
Goyer - Certamente. Há muita
apreensão dos americanos em relação ao mundo, ao terrorismo,
ao que acontece no Iraque e ao
que nosso governo está fazendo.
As pessoas estão assustadas. É por
isso que filmes escapistas estão
conquistando tanto terreno agora. Eles sempre conquistam quando as pessoas estão com medo.
Folha - Sabe-se que, em Hollywood, muitos roteiros são alterados pelos executivos dos estúdios.
Isso aconteceu em "Begins"?
Goyer - Isso acontece muito, mas
tenho sorte que meus filmes não
tenham sido reescritos tantas vezes. Além do mais, eu e Chris [Nolan] tínhamos um ótimo relacionamento, e o filme é mais ou menos o que eu queria desde o início.
Folha - Nolan não sugeriu que se
tirassem as máscaras para aumentar o grau de realismo do filme?
Goyer - Sim, mas eu queria uma
abordagem realista também.
Chris era o cão de guarda, que dizia: "OK, sei que temos de ter a
máscara, o cinto de utilidades,
mas precisamos explicar por que
Bruce precisa usar isso. Por que
isso aconteceria na vida real?".
Folha - É verdade que você teve
de vender sua coleção de gibis?
Goyer - Sim. Eles estavam tomando muito espaço.
Folha - Mesmo os "Batman"?
Goyer - Mesmo os "Batman".
Mas a [editora ] DC Comics me
deu tudo o que eu precisava. Eles
estavam tão felizes comigo que
me dariam tudo que quisesse!
O jornalista Diego Assis viajou a convite da Warner Bros.
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