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LIVROS
Crítica/ensaio
Relações entre futebol e cinema ganham estudo abrangente
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Depois de décadas de
mal-entendidos, hoje
parece ponto pacífico
que o futebol é uma das mais
importantes expressões culturais do Brasil. No entanto, o cinema brasileiro -assim como a
literatura e as outras artes, com
a possível exceção da música
popular- deu relativamente
pouca atenção a essa dimensão
fundamental da vida do país.
O que mostra o livro "Fome
de Bola - Cinema e Futebol no
Brasil", do jornalista Luiz Zanin Oricchio, é que essas duas
esferas têm se interpenetrado
ocasionalmente desde 1907,
quando foi feito em São Paulo o
primeiro documentário sobre
um evento futebolístico.
Dado o pioneirismo de seu livro, para explorar essa zona de
intersecção entre o campo de
jogo e a tela de cinema, Zanin
-que é ao mesmo tempo crítico cinematográfico e cronista
esportivo- optou por ser didático e informativo, desenrolando em paralelo a história do futebol e a história do cinema no
Brasil, além de mostrar a interação de ambas com a vida social e política do país.
Para usar uma metáfora futebolística, Zanin bateu o escanteio e correu na área para cabecear. Dessa amplitude de propósitos vêm tanto a grande força do livro como suas poucas
fraquezas. O grande mérito do
autor é não deixar nada na
sombra, acumulando o leitor de
informações e de conexões entre elas, tudo isso numa prosa
que consegue ser relaxada e
agradável sem perder a elegância e a precisão conceitual.
O problema é que, para o leitor que conhece futebol, algumas informações soam desnecessárias e redundantes. Para o
que conhece cinema, são outras
as dispensáveis. Zanin preferiu
pecar pelo excesso de clareza
do que pela obscuridade.
Em razão disso, e do caráter
panorâmico da abordagem, vários temas são apenas esboçados, servindo como incentivo a
outras obras mais específicas.
Alguns exemplos: a natureza
singular do futebol praticado
no Brasil, a transformação das
relações entre os torcedores e o
espetáculo, a globalização do
esporte e as maneiras como o
cinema tem captado isso.
O autor expressa à perfeição
a dificuldade de apreender um
fenômeno tão complexo e esquivo: "O que é o futebol para o
brasileiro? Provavelmente tudo [festa popular, escapismo,
alienação, fator de integração
social etc.] ao mesmo tempo.
Por isso é tão difícil retratá-lo
no cinema, ou em qualquer arte: coloca-se a ênfase em uma
faceta, ficam faltando as outras.
Tenta-se apanhar o todo, cai-se
na dispersão".
Outro problema incontornável num estudo desse tipo é a
incidência da subjetividade do
estudioso. Só a paixão clubística (pelo Santos) e a admiração
por Pelé podem explicar por
que Zanin, habitualmente tão
ponderado em suas avaliações,
parece perder o senso crítico ao
falar de um documentário tão
problemático (no mau sentido)
como "Pelé Eterno".
Mas isso é um senão quase irrelevante numa obra indispensável a todos os que se interessam por cinema, por futebol e
pela história social do país.
FOME DE BOLA
Autor: Luiz Zanin Oricchio
Editora: Imprensa Oficial
Quanto: R$ 9 (200 págs.)
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