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CRÍTICA TEATRO
Grupo Folias faz versão ousada de "Medeia"
Com elementos circenses e bizarros, montagem surpreende ao rever a mais terrível figura feminina da mitologia
CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA
Mais uma realização do
Grupo Folias, "Medeia, a Mulher-Fera" é um pocket show
surpreendente.
Um espetáculo clássico de
variedades de circo subvertido em números bizarros que
culminam na apresentação
da figura feminina mais terrível da mitologia: a mulher
que mata os filhos para vingar a traição de seu marido.
Esta adaptação de "Medeia Pop", do dramaturgo
Reinaldo Maia, começa nas
ruas quando um palhaço armado de megafone e voz pastosa convoca o público a um
espaço colorido, onde atrações circenses são distorcidas, causando um misto de
curiosidade e espanto.
Lá dentro, a plateia pode
escolher entre ter a mente lida por um exótico adivinhador de números, beijar seu
ídolo com a ajuda de duas
alegres cabeças ou ainda assistir ao imperdível "Tortura
Assistida", "peep-show" em
que uma barriga narra um divertido romance entre ETs.
Com Dagoberto Feliz na direção, o tragicômico é sustentado ao longo do espetáculo através da maquiagem
que alerta para ambiguidade
do tom grotesco e da estranheza dos figurinos.
Aliadas às interpretações
aguçadas, as fanfarronices
culminam com a apresentação de Medeia, que se transforma em mulher gorila.
O mito grego é então recontado em três partes. Na
primeira, a história da fêmea
ardilosa é narrada por seu
marido Jasão com comicidade. Medeia aparece ingênua,
vestida de oncinha.
O quadro seguinte adquire
drama, quando a mulher que
amou demais interage com
seu algoz numa cena que ondula entre paixão e raiva. A
última esquete ganha dimensão trágica. "Agora ódio é tudo", profere a diva ferida.
Em dramas gregos, há
sempre oscilações entre os
âmbitos pessoal e público.
Aqui a releitura do mito é feita por aproximação, em
zoom rápido, à personagem.
Com o desfile das diferentes
Medeias, o teor mais psicológico do dilema se fixa no fim.
Na rejeição do conformismo, o espetáculo termina
com a fúria da personagem
em uma cena ruidosa. Ao
fim, um sagaz golpe de punhal no espectador mostra
que coragem é o que não falta a esta montagem que se
eleva à altura da ousadia de
sua protagonista.
MEDEIA, A MULHER-FERA
QUANDO sex., às 23h59; até 30/7
ONDE Espaço dos Satyros 2 (pça.
Roosevelt, 134, tel. 0/xx/11/
3361-2223)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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