São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

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CRÍTICA TEATRO

Grupo Folias faz versão ousada de "Medeia"

Com elementos circenses e bizarros, montagem surpreende ao rever a mais terrível figura feminina da mitologia

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Mais uma realização do Grupo Folias, "Medeia, a Mulher-Fera" é um pocket show surpreendente.
Um espetáculo clássico de variedades de circo subvertido em números bizarros que culminam na apresentação da figura feminina mais terrível da mitologia: a mulher que mata os filhos para vingar a traição de seu marido.
Esta adaptação de "Medeia Pop", do dramaturgo Reinaldo Maia, começa nas ruas quando um palhaço armado de megafone e voz pastosa convoca o público a um espaço colorido, onde atrações circenses são distorcidas, causando um misto de curiosidade e espanto.
Lá dentro, a plateia pode escolher entre ter a mente lida por um exótico adivinhador de números, beijar seu ídolo com a ajuda de duas alegres cabeças ou ainda assistir ao imperdível "Tortura Assistida", "peep-show" em que uma barriga narra um divertido romance entre ETs.
Com Dagoberto Feliz na direção, o tragicômico é sustentado ao longo do espetáculo através da maquiagem que alerta para ambiguidade do tom grotesco e da estranheza dos figurinos.
Aliadas às interpretações aguçadas, as fanfarronices culminam com a apresentação de Medeia, que se transforma em mulher gorila.
O mito grego é então recontado em três partes. Na primeira, a história da fêmea ardilosa é narrada por seu marido Jasão com comicidade. Medeia aparece ingênua, vestida de oncinha.
O quadro seguinte adquire drama, quando a mulher que amou demais interage com seu algoz numa cena que ondula entre paixão e raiva. A última esquete ganha dimensão trágica. "Agora ódio é tudo", profere a diva ferida.
Em dramas gregos, há sempre oscilações entre os âmbitos pessoal e público. Aqui a releitura do mito é feita por aproximação, em zoom rápido, à personagem.
Com o desfile das diferentes Medeias, o teor mais psicológico do dilema se fixa no fim. Na rejeição do conformismo, o espetáculo termina com a fúria da personagem em uma cena ruidosa. Ao fim, um sagaz golpe de punhal no espectador mostra que coragem é o que não falta a esta montagem que se eleva à altura da ousadia de sua protagonista.


MEDEIA, A MULHER-FERA

QUANDO sex., às 23h59; até 30/7
ONDE Espaço dos Satyros 2 (pça. Roosevelt, 134, tel. 0/xx/11/ 3361-2223)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo



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