São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2011 |
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CRÍTICA COMÉDIA Woody Allen cria forte relação entre fantasia e realidade em tributo a Paris INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA Os últimos filmes estrangeiros -em Londres, em Barcelona- podem servir como comprovação de que Woody Allen não se sente muito à vontade no exterior. Mas quem disse que Paris é "exterior"? Não para um nova-iorquino, em todo caso. E Woody Allen é, por excelência, nova-iorquino. Daí "Meia-Noite em Paris" manifestar, desde as primeiras imagens, uma familiaridade com a capital francesa que talvez tenha muito a ver com a desenvoltura de Allen neste filme que, de início, insinua-se como uma extensão de "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), mas que em seguida abandona o esquematismo daquele entra-e-sai da tela que caracterizava o filme. Aqui, Gil é um candidato a escritor que viaja com sua noiva, Inez, e os pais dela a Paris. Inez, seus pais e o amigo de Inez, Paul, revelam-se ali americanos típicos por vários títulos: são fúteis, ou pedantes, ou republicanos etc. Enfim, tudo o que Woody Allen detesta. Em contraposição, existe a cidade luz. Não nos deixemos levar pelo lugar-comum: Gil é que se deixa. É um homem de Nova York, um letrado (alter ego do autor do filme, embora more em Los Angeles por causa dos roteiros de cinema que escreve). É alguém disposto a trocar uma conversa com gente chata por um passeio ao léu por Paris. Onde se perde, claro. Onde é resgatado por um velho carro e levado a uma festa. Uma festa à fantasia, podemos pensar, onde é recebido por Zelda (1900-1948) e Scott Fitzgerald (1896-1940). É quando "Meia-Noite" enfrenta seu grande risco (o de virar um segundo "Rosa Púrpura") e o desafio de tornar-se um verdadeiro filme fantástico (como gênero). Porque Gil começa a conhecer ali todos os seus ídolos: os Fitzgerald, Picasso (1881-1973), Gertrude Stein (1874-1946), Ernest Hemingway (1899-1961), Cole Porter (1891-1964), Matisse (1869-1954), Buñuel (1900-1983)... Um sonho, enfim. Mas, como esse sonho se torna recorrente, como se confunde com o livro que tenta escrever, uma nova dimensão lhe é acrescida. Não é apenas um sonho. É todo o fascínio pela Paris de 1920 que se manifesta ali, inclusive na medida em que se apaixona por uma bela modelo que, no momento, tinha um caso com Picasso. Assim, não é apenas um retorno ao passado como sonho, mas uma maneira de reordenar o presente (sua vida) a partir do passado. E, com ela, a percepção de que o tempo não existe, a não ser como outro sonho. Se não consegue sempre manter a intensidade em sua viagem no tempo, Allen consegue, em todo caso, afirmar com força essa identidade entre fantasia e realidade, que talvez seja o que de melhor o cinema pode criar. E faz um filme alguns quilômetros à frente do que temos visto neste até aqui decepcionante 2011. MEIA-NOITE EM PARIS DIREÇÃO Woody Allen PRODUÇÃO EUA/Espanha, 2011 COM Owen Wilson, Michael Sheen e Rachel McAdams ONDE nos cines Bristol, Frei Caneca Unibanco e circuito CLASSIFICAÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Cinema - Crítica/Documentário: Longa revê legado de banda dos anos 90 Próximo Texto: Acervo de Chico Buarque chega à internet Índice | Comunicar Erros |
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