São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2011

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cinema

CRÍTICA DOCUMENTÁRIO

Longa revê legado de banda dos anos 90

"Mamonas pra Sempre", de Claudio Khans, tenta responder se grupo de rock paulista foi visionário ou apenas bobo

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Os Mamonas Assassinas foram gênios. Os caras eram divertidos e engraçados. Além do humor, faziam um som novo, espetacular. Era exatamente isso o que pensava quase todo o brasileiro -menino ou menina- que, em 1995, estivesse beirando a adolescência.
Os Mamonas Assassinas eram uma estupidez criada pela indústria. Moleques sem senso de ridículo, musicalmente ignóbeis, foram uma bandinha de um disco só.
Assim pensavam quase todos os adultos deste país naquele mesmo ano. Mas, no final das contas, quem estava com a razão? Mais do que contar a meteórica -e trágica- história da banda de Guarulhos (Grande SP), o documentário "Mamonas pra Sempre" quer responder a essa pergunta.
Ele consegue. E -aqui está a maior qualidade do filme- são muitas as respostas. Em vez de encontrar uma solução única, dando razão ao time que amava ou ao time que não suportava os Mamonas, a narrativa coloca a certeza de ambos em cheque: "Será que eu estava errado?".
Todos estávamos errados. Todos estávamos certos.
Sim, os Mamonas inventaram alguma coisa significativa para a música pop brasileira daquele período, como imaginavam os pequenos.
A argumentação a favor deles é montada com destreza pelo diretor Cláudio Kahns, usando depoimentos de produtores e empresários que viveram o pré-estouro.
O espectador é lembrado, por exemplo, que o surgimento do estilo pateta da banda nasceu por acaso e ia contra os paradigmas da indústria naquele período. Ou seja: não era armação da gravadora, que nem sequer investiu no lançamento do CD.

MISE EN SCÈNE
O filme também chega à conclusão, em uma revisão de imagens, que o talento de "clown" dos Mamonas antecipava, em música, o que o "Pânico na TV!" viria a ser, na televisão, anos depois.
Mais. Com seu tino para o improviso, o vocalista Dinho daria banho em muito ator de comédia "stand-up" de hoje.
Tantos dados depois, quem odiou os Mamonas desde 1995 começa a rever suas convicções.
Quem amava passa por processo idêntico, do outro lado da mesma moeda.
Mais velhos hoje, os pré-adolescentes de então não têm como evitar certo sentimento de vergonha alheia quando surgem na tela cenas da banda em programas de TV, como os apresentados por Faustão e Gugu Liberato.
Ou, musicalmente, quando se descobre -ou se relembra- o embrião dos Mamonas: a banda Utopia, arremedo anacrônico de Titãs com Legião Urbana. Um horror.

ARQUIVO
O bom de um documentário sobre uma banda tão recente é a quantidade de material de arquivo disponível. Cada frase dos entrevistados é "explicada" com uma imagem original -de TV ou do acervo pessoal, gravada em câmeras de vídeo que já eram comuns nos 1990.
Aquelas oriundas da TV dão bem a dimensão do fenômeno, sobretudo para o público infantil. Xuxa, segundo o diretor, não autorizou o documentário a incluir 15 segundos de uma apresentação da banda em seu finado programa.
A imagem não faz falta. Há coisa melhor, como gravações toscas do primeiro show da Utopia e de outros dos Mamonas. Mais sequências em carros, ônibus e até em pequenos aviões.
Foi em um deles que aconteceu o pior possível, em 2 de março de 1996. Todos morreram. Tinham um ano de superexposição -gente que os amava e gente que os odiava com a mesma força. Tanto uns quanto outros, agora, começam a trocar de lado.

MAMONAS PRA SEMPRE

DIREÇÃO Claudio Kahns
PRODUÇÃO Brasil, 2009
ONDE nos cines Espaço Unibanco Pompeia, Cinépolis Largo 13, Vila Olímpia e circuito
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
AVALIAÇÃO bom



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