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LIVRO
Elmore Leonard é Tarantino da literatura
Reprodução
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O escritor Elmore Leonard, que está lançando "Bandidos" pela Record
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EDSON FRANCO
Editor de Veículos
Filha de um milionário do petróleo, freira norte-americana ajuda
uma nicaraguense a fugir dos sandinistas e a leva para Nova Orleans, onde ambas são ajudadas
por um ex-modelo, ex-presidiário
e atual agente funerário.
Estranho é um adjetivo insuficiente para qualificar essa trama,
delineada nas primeiras páginas
de "Bandidos", livro do norte-americano Elmore Leonard, 72,
lançado pela editora Record.
Dono de um estilo que privilegia
os diálogos, o escritor produz livros sob medida para o cinema.
Para dar uma idéia, seu romance
"Get Shorty" rendeu o filme "O
Nome do Jogo" (1995). "Ponche
de Rum" virou "Jackie Brown",
atualmente em cartaz.
Autor predileto de Quentin Tarantino, diretor de "Jackie
Brown", Leonard faz com a pena
o que o cineasta faz com a câmera.
Diálogos cortantes e inconclusivos. Personagens errantes, porém
bem definidos. Fios de meada que
se dispersam e se agrupam ao longo da obra. Ação frenética.
Para dar pistas de como compor
um romance policial coeso com
esses elementos, Leonard falou à
Folha por telefone, de sua casa em
Detroit, norte dos EUA.
Folha - O que vem primeiro, a
trama ou os personagens?
Elmore Leonard -Os personagens vêm primeiro. "Bandidos",
por exemplo, começou com leituras que fiz sobre os "contras" da
Nicarágua levantando fundos nos
EUA. A partir disso, pensei sobre
quem poderia estar exposto a eles.
Achei que a freira seria uma boa
idéia. Foi como tudo começou.
Folha - Além da freira, há agentes funerários, militares sandinistas e vigaristas na trama. Como foi
o trabalho de pesquisa?
Leonard - Visitei funerárias.
Acompanhei todo o processo de
preparação de um corpo. Colecionei recortes de jornal sobre o que
os "contras" faziam na Nicarágua. Fui a Dublin para ver se havia
alguma conexão entre o IRA
(Exército Republicano Irlandês) e
os sandinistas. Aproveitei a visita e
anotei expressões irlandesas.
Folha - E os vigaristas?
Leonard - Esses não precisei
pesquisar. Eu costumo receber
cartas de presidiários, mas não
aprendo nada com elas.
Isso porque eles escrevem curiosos sobre como eu consigo descrever tão bem seus pensamentos e
ações. Alguns dizem que é impossível escrever como eu sem ter passado uma temporada preso.
Folha - Os diálogos emprestam o
alicerce para suas tramas. Como o
senhor os compõem?
Leonard - Eu os escuto na minha cabeça. Antes de escrever uma
cena, fico imaginando sob o ponto
de vista de qual personagem a história será mais bem contada.
E, quando dois personagens
conversam, tudo pode acontecer.
Quando estou escrevendo, eu
nunca sei o que irá acontecer no
capítulo seguinte.
Folha - "Bandidos" faz uma crítica aberta à posição dos EUA no caso Irã-"contras" (guerrilheiros
apoiados pelos EUA) .
Leonard - É verdade. Acho que
a origem de tudo foi errada. Os
EUA têm um talento histórico para ficar do lado errado.
Quando pensávamos que os
EUA estavam ajudando Cuba, tudo o que o país fazia era abrir caminho para os negociantes.
Folha - Como o senhor se define
politicamente?
Leonard - Não sou adepto dos
republicanos nem dos democratas. Mas, definitivamente, sou
mais liberal do que conservador.
Folha - O senhor costumava ler
os autores de romances policiais
que o antecederam?
Leonard - Só comecei a ler romances policiais bem tarde. Li
Dashiell Hammett e Raymond
Chandler, mas não fui influenciado de maneira nenhuma por eles.
Minha maior influência é (Ernest)
Hemingway. Ele fazia o ato de escrever parecer simples demais. Tomei emprestado dele a prosa cheia
de diálogos e o hábito de manter
no nível mínimo as descrições.
Folha - O sr. aprovou o que Tarantino fez com "Ponche de Rum"?
Leonard - Amei "Jackie
Brown". Logo após ter filmado
"Cães de Aluguel", Tarantino
procurou meu agente para comprar os direitos de "Ponche de
Rum". Mas, antes de "Pulp Fiction", ele estava sem dinheiro.
Meu agente sugeriu que deixássemos o livro reservado para Tarantino. Três anos depois, meu agente
o procurou. A Miramax, empresa
que distribui seus filmes, adquiriu
os direitos do livro. Tarantino já
comprou três outros livros meus.
Folha - O senhor está trabalhando em algum novo romance?
Leonard - Acabei de terminar
um chamado "Be Cool", sequência de "O Nome do Jogo". É uma
história cheia de gaiatos que rodeiam um produtor de banda de
rock.
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