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Autor cria policial cativante com estilhaços narrativos
da Redação
Como ninguém, Elmore
Leonard é adepto do atrito. O
autor sabe que,
sem ele, não há
fogo. E é de uma
coleção de atritos que "Bandidos", assim como
boa parte da obra de Leonard, tira
força.
Personagens formam planetas
complexos orbitando numa trama
que ganha consistência na medida
em que seus componentes entram
em rota de colisão.
E esses choques acabam gerando
estilhaços narrativos que, unidos
com uma coerência exemplar, formam uma história cativante desde
os primeiros capítulos.
É literatura policial -e das
boas-, mas sem os maneirismos
de alguns clássicos do estilo. Não
há ali o rigor e a objetividade enclausurada de uma Agatha Christie. Nem a incerteza e o acaso de
um Dashiell Hammett ou de um
Raymond Chandler.
Há mistério em "Bandidos",
como não poderia deixar de ser.
Mas é um mistério endoscópico,
que nasce nos aspectos mais íntimos dos personagens.
Quando soltos pela trama, esses
aspectos geram expectativas sobre
o resultado de encontros com outros personagens.
Por vezes, os encontros levam a
explosões. Em outras, ocorrem
apenas sugestões lacônicas e inconclusivas. Em ambas, jamais
deixa de haver mistério.
Para problematizar seus personagens e desnortear o leitor, Leonard deixa de lado maniqueísmos.
Os protagonistas jamais são movidos por sentimentos nobres. Todos acabam envolvidos em uma
corrida cujo prêmio é um butim
de US$ 5 milhões.
Um militar sandinista -personagem que mais se aproxima de
um vilão- é motivado pela vingança, que, em meio a tanta cobiça, vira um sentimento altivo.
Para tirar a aura de santidade de
uma freira, Leonard coloca nela
uma calça Calvin Klein e não a deixa tirar o cigarro da boca.
Depois de várias tentativas, coube a um senhor de 72 anos, que
conhece bem as regras da literatura policial, quebrá-las para garantir a sobrevida do gênero.
(EF)
Livro: Bandidos
Autor: Elmore Leonard
Lançamento: Record
Quanto: R$ 29 (290 págs.)
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