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ARTES PLÁSTICAS
Basquiat encarna Deus e o diabo
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
A Pinacoteca do Estado, em sua
sede no Ibirapuera, inaugura hoje
a maior mostra de obras do norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) já vista no Brasil.
Não é a primeira vez que o país
vê sua obra, como afirma Antônio
Angarita, secretário de Estado da
Cultura, em texto que abre o belo
catálogo da mostra, mas é a mais
completa e abrangente.
São Paulo viveu, em outubro de
1996, uma "febre Basquiat",
quando o artista protagonizou,
com sete telas, uma sala no núcleo
histórico da Bienal e uma mostra
de desenhos na galeria Luisa Strina. Também era o personagem
principal do filme "Basquiat", de
Julian Schnabel.
O hype era apenas um amostra
daquilo que o artista viveu em seus
curtos, mas intensos, 28 anos de
vida e nove de produção artística.
Morreu vítima de um coquetel de
heroína e cocaína.
Com uma escritura livre, cores
intensas e imagens violentas, Basquiat encarnou rapidamente o que
de melhor e o que de pior a arte
poderia produzir nos anos 80.
Sua obra foi intensa em todos os
sentidos.
Consciente de sua condição de
negro e da necessidade de torná-lo
protagonista, o artista produziu
uma obra coerente e íntima, em
que trabalhou com ícones da cultura norte-americana e com referências autobiográficas: a paixão
pela música (jazz, hip-hop, rap),
as raízes afro-americanas (máscaras africanas, danças tribais), a
efervescência das ruas de Nova
York e seus heróis negros.
Basquiat possui rigor temático,
consciência do espaço, identidade
no traço de seu desenho e subtexto
político e social. Suas obras são,
por exemplo, grandes representantes do momento de afro-latinização de Nova York ocorrido nos
anos 70.
Da mesma forma que dissecou
corpos, para apresentá-los como
ossos e entranhas, também destrinchou a anatomia da cidade e da
sociedade para apresentar seus
problemas, como a exploração do
homem pelo homem (principalmente o negro pelo branco).
Também foi intenso numericamente, chegando a produzir para
um único ano, 1983, obras para
quatro mostras individuais e 17
coletivas, o que resultou em sua
inevitável inflação no mercado.
A mostra na Pinacoteca traz um
pouco dessas duas faces do artista.
Apresenta obras que evidenciam
autodefinição cultural, orgulho
racial, revolta social e talento artístico, mas também rabiscos que
só podem ser encarados como
produção artística graças à ganância de um mercado inconsequente, como o dos yuppies anos 80.
Vale ainda lembrar que grande
parte das obras pertence ao próprio curador da mostra, Enrico
Navarra.
Mostra: Jean-Michel Basquiat (100
desenhos e 30 pinturas)
Onde: Pinacoteca do Estado, no parque
Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/n,
tel. 011/571-1009, acesso pelo portão 10)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de terça a domingo, das 11h às
17h. Até 23 de agosto
Quanto: R$ 5 e R$ 2 (estudante); grátis às
quintas-feiras e para menores de sete anos
e maiores de 65
Patrocinadores: Cesp e Sabesp
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