São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
Texto Anterior | Índice

POR QUE ESCREVO

"Como essa pergunta me tem sido feita repetidamente em várias ocasiões, em vários lugares, por moços e velhos, parece que a resposta é importante para muita gente. Então passei a fazê-la a mim mesmo. Quando eu procurava a resposta (ou uma resposta), chegou-me às mãos um número de uma revista francesa dedicado a esse assunto. Li todas as entrevistas de escritores famosos -e fiquei na mesma: apesar das respostas brilhantes, imaginosas, parece que ninguém sabe ao certo por que escreve.
Mas continuei pensando no assunto, agora por teima, e articulei uma resposta como justificativa de trabalho, isto é, para continuar escrevendo sem grilos demasiados. Acho que é válida para o meu caso, porque não perdi mais o sono com o assunto.
Então, por que escrevo? Escrevo para conhecer melhor o mundo e as pessoas. Quem prestar atenção verá que os meus livros são indagativos, não explicativos. Isso faz deles um jogo ou um brinquedo entre autor e leitor, ambos indagando, juntos ou não, e descobrindo -ou não. Os meus textos são um exercício, ou uma aventura, ou um passeio intelectual. Eles não "acabam" no sentido tradicional, e nesse não acabar é que entra a colaboração do leitor. Mais tarde encontrei esta frase num livro de Julien Cracq: "Escrevo para saber o que vou encontrar". Fiquei feliz."


Texto inédito que José J. Veiga escreveu para a palestra que faz hoje no Instituto Moreira Salles




Texto Anterior: "Estou apenas preguiçando"
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.