KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Inspirado nas andanças dos vendedores ambulantes, o espetáculo "No Prego", da Cia. de Danças de Diadema, inaugura uma nova fase do grupo fundado em 1995 por Ivonice Satie. Atualmente dirigida por Ana Botosso, que também assina essa como sua primeira coreografia, a companhia investe mais uma vez no potencial interpretativo de seus bailarinos.
Destaque para Eloy Rodrigues, que aparece na versão mais adulta -há outras duas- de um vendedor do tipo "porta em porta".
As angústias e lembranças desse personagem típico da cultura popular brasileira, também uma espécie de "propagador de histórias", conduzem toda a coreografia, que alterna momentos de grande expectativa, como nas cenas iniciais de caminhadas no ar, e outros mais entregues, como quando o viajante sai de dentro de sua própria mala.
Uma rampa instalada à direita do palco, na visão do espectador, serve de suporte à movimentação e aumenta o espaço útil de cena. Na mesma rampa, os pregoeiros se jogam, escalam, deslizam. Em seu topo cria-se até um lugar de destaque, que mais tarde mostrará o drama de consciência do personagem central.
"No Prego" é dividido em três partes. Traz colagem musical com ritmos nordestinos, eletrônicos e melodias cantadas pelos vendedores, recuperadas por Antonio Vieira. O projeto de iluminação é de Henrique Rodovalho, do grupo goiano Quasar. Por falar em luz, se a obra tem momentos estanques e pouco ritmados, as cenas ganham vigor com um jogo de focos quadriculados.
No fundo do palco, um telão mostra imagens de vendedores em feiras e ruas. As bailarinas contribuem com o caráter mais íntimo das lembranças do viajante. Há também um solo em meio a caixotes de madeira, além de duos e trios de personagens em busca da história de suas próprias vidas.