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CRÍTICA
Elogio prevalece sobre rigor em obra sobre o artista
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
O "Portinari", de Antonio
Bento, é canto do cisne. Representa a posição final da escola
modernista que viu, no pintor de
Brodósqui, confirmada expectativa de um modernismo brasileiro
de valor internacional. Mas o elogio ao homenageado predomina
sobre o rigor metodológico.
O livro foi publicado pela primeira vez em 1980. Despedia-se
do poder o grupo que, desde 1937,
controlara os destinos de nossa
cultura oficial dentro dos ministérios: a escola do Patrimônio Histórico. Além de Portinari, ligaram-se a ela Rodrigo Melo Franco
de Andrade, Mário de Andrade,
Manuel Bandeira, Lúcio Costa,
Oscar Niemeyer, Burle Marx e
Carlos Drummond de Andrade.
Tal é a genealogia proposta pela
apresentação de Afonso Arinos
de Melo Franco, ligando até mesmo o crítico Antonio Bento ao time. Nessa escola se construiu o
mito de Portinari, que passou a
protagonizar o herói do modernismo nacional.
Antonio Bento assume a posição oficial de modo acrítico: "Se
no período colonial Aleijadinho
foi nosso maior artista, coube a
Portinari um papel análogo no século 20" (p.23). Desde então, o livro descreve a trajetória estética
do "Miguel Ângelo brasileiro" em
termos da mistura entre expressionismo, cubismo e barroco,
vanguarda internacional e identidade brasileira.
O discurso de Antonio Bento
apóia-se na autoridade como
amigo de Portinari: "Dentre os
críticos brasileiros em atividade
hoje, fui desde cedo um dos mais
ligados ao pintor" (p.33).
Por um lado, o autor permite-se
rechear o livro de diálogos reproduzidos de memória, alegando familiaridade com a vida do biografado. A estratégia dá um tom romanesco ao ensaio.
Por outro, compila vastíssimo
material anedótico de interesse
histórico. O episódio dos painéis
"Guerra" e "Paz" (1955), feitos para a sede da ONU em Nova York,
é dissecado para evidenciar o confronto entre as convicções de Portinari e os interesses da Guerra
Fria em solo norte-americano.
O autor defende a permanência
da obra de Portinari contra ameaças como o abstracionismo. Mobiliza a arte pop, a Documenta de
Kassel de 1972 e a fotografia em
defesa do realismo portinariano.
Falta estrutura às partes 4, 5 e 6,
havendo episódios repetidos e divagação. A reedição do livro pelo
Projeto Portinari reconhece a dívida da memória do artista com a
mítica modernista nacional.
Portinari
Autor: Antonio Bento
Editora: Leo Christiano
Quanto: R$ 300 (398 págs.)
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